O jazz, o sertão e o amor

Por Unknown | 7/18/2009 02:05:00 AM em , , |

Deitado em minha cama, pensamentos absurdos não permitiam meus olhos calarem-se. Pensamentos mal treinados insistiam em segurar com palitos os toldos dos meus olhos tão cansados pelas cores do dia a dia. Não eram um arco-íris, nem uma selva de pedra, como São Paulo, e nem amarela, vermelha e alaranjada como o sertão, que agora estava azul. Eram cores difusas, que agora se aglomeravam desordenadamente.
Em meio a tudo isso, descobri o amor. O jazz silenciou os pensamentos absurdos e brotou em meus olhos e coração o sertão, que agora estava debaixo d’água. O jazz me contagiou. Adentrou em meus ouvidos, alcançou meu coração, passeou pelas veias de meu corpo e alçou vôo à minha mente, um pouco perturbada pela madrugada seca e sonolenta. Pensei em corpos que mutilei em pensamentos impuros; no sertão que o sertanejo se enraíza por ele e por cada pedaço ou metro de terra laranja sem sabor de fruta; nas pessoas correndo solitariamente entre prédios, casas, fantasmas, desconhecidos sentados ou em pé em metrôs, que cortam o grande corpo humano que é São Paulo, mas dono de um coração grande, cheio, triste, solitário e duro, com sabor de cinza.
Embalado pelo jazz em minha cama, depois de lido que o Nordeste sofre um dilúvio e de sentir, num final de semana, que São Paulo é um grande vazio (apesar de transbordar de vidas), pude começar a entender o que é o amor. É a terra, que enquanto laranja e rachada sorri na face do sertanejo; é um estranho fazendo compras num supermercado e que continua desconhecido aos olhos de todos; sou eu, deitado na cama, com a caneta numa mão, o caderno na outra e nos ouvidos, o jazz, porque hoje, agora, estou jazz.
(Adams Alpes, Caçapava, 06 de maio de 2009.)

2 comentários:

  1. Tonho França on 23 de julho de 2009 às 23:04

    Meus olhos laranja rachados
    longuinquos e solitários
    arranham o céu
    outras vezes submersos beijam rachaduras
    e colhem canções de uma terra árida
    são meus olhos
    ora cinzas, ora arco íris
    ora pulsam canções e vida
    das metropeles e seus fantamas
    outras repousam com as andorinhas
    nos fios das tardes
    entre cantos tantos naturais
    sertão, amor, jazz
    ser tão amor?
    ser amor?
    jaz.

    dedicado ao poeta amigo Adams

     
  2. Unknown on 25 de julho de 2009 às 22:50

    meu amigo, Tonho.
    agradeço, desde já, pelas palavras, pelos comentários.
    vindos de você, são uma honra.
    obrigado pela amizade, pelo respeito, apoio e admiração, que garanto, são recíprocos.
    um grande abraço.

     


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