A primeira flor
crisântemo
(quatro e noventa o vaso)
sul nascente
luz solar
esquece a imobilidade
retorce o caule
balança o cabo
em flor
falta água
falta água
falta água
seca e morre
antes do que nós.
(Pedro Du Bois, FLORES & FRUTOS)
...
cada amor desperta memórias de passados
corpos entrelaçados e a comparação se faz agente
sutil e inocente em expiações e culpas
as distâncias são corretas em suas medidas
ouve o sussurro e se espanta com a velocidade
da palavra trazida ao erro intercalado
em verdades sobre ruas inalcançáveis
de aparatos e perdidas vidas esperam
a mão que as alcancem em glórias
e olhos marejados em lágrimas
de após guerras
...
(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. IV, fragmento)
Quando jovem, atéia destemida. Após inúmeros louvores à vida, foi-se o vigor. Em seu lugar, um buraco que a fé logo tratou de tapar. Aprendeu todas as rezas e, de terço em mãos, entrou na terceira idade.
Por Cláudio Costa | 11/27/2009 09:41:00 AM em | comentários (0)
AOS 40
Procuro meu analista.
A vida começa para o desviver.
LÁPIDE DE UM ACOMODADO
Aqui...descanso em paz.
INIMIGO
Resoluto respiro fundo e me levanto.
Não há culpados.
Só há eu.
O RESTO É HISTÓRIA
Depois de morder a maçã, ela comeu os sete anões. Sem o
príncipe...viveram felizes para sempre.
FIM DE BAILE
No outro dia, Encantado percorre as ruas da cidade com uma prótese de
silicone nas mãos.
NA TORRE
Cansada de esperar, enrolou os pentelhos no pescoço e saltou.
No corpo um bilhete:
Não existem príncipes
O MOÇO TECELÃO
Primeiro aumentou o pênis.
Depois teceu carros, dinheiro, casas e mulheres.
Cansado de tudo isto, teceu mais cinco centímetros…
Por Cláudio Costa | 11/24/2009 09:38:00 AM em | comentários (0)
BANDEIRA
Eu contenho a morte.
HUMILDADE
Rasguem os verbos conjugados em primeira pessoa.
CAIXINHA DE MÚSICA
- Mãe, eu quero uma.
- Que linda a minha filha. Qual delas?
- Aquela que dança Crew.
- …
INDECISÃO
.
MONÓLOGO INCONTÍNUO
Em frente ao espelho levanto a minha cabeça.
Não tenho plateia.
NARCISO
Olhe nos meus olhos e se deixe.
FALO
Ambíguo
Meu
Falo
Sem controle ora cala
Ora
Grita.
CAIM
Á Deus. Corto meu umbigo e jogo por terra.
CAMPANÁRIO
Natimorto
No
Amor
Vou
Sofrendo.
...
há o tempo de olhar para fora
e ver a igualdade espalhada
sobre as calçadas: pragas
consumem fragmentos encontrados
restos deixados nos meio-fios
coisas descartáveis
no primeiro uso: olhares e gestos
...
(Pedro Du Bois, POETA EM OBRAS, Vol. IX, fragmento)
Jesus terminava sua jornada. Quarenta dias e quarenta noites no deserto. O Diabo apiedou-se e ofereceu-lhe um pedaço de pão. Atônito, Jesus respondeu: - Ando a caminhar por estas paragens há dias e é pão que me ofereces? Nem só de pão de vive o homem.
O Diabo virou de costas e foi-se embora.
Vendeu tudo o que tinha. Até mesmo o par de alianças. Doou à igreja, na esperança de ver o marido curado. Meses depois, faleceu. O pastor confortou-a.
- Ele está na glória de Deus... Essa era a vontade Dele... Somos pequenos demais para entender Seus desígnios... Foi um homem muito distinto, sua generosidade não era deste mundo...
Tinha quinze anos. Entre as amigas, a única virgem. Apelidaram-na Maria. Ao longo dos anos, caiu na vida. Ganhou um sobrenome: Madalena.
39
Falo do retorno dos pássaros
no passar do tempo
e no que a vida
se repete
falo as mesmas palavras de outras épocas
e das políticas dos fuxicos das mentiras
com que os mais velhos se recusam a ceder
os lugares ocupados: o mesmo pé na estrada
insondável dos desconhecimentos
falo da penumbra caindo sobre as casas
na tardia morte: a noite rejuvenesce
no que esconde: sou palavras inauditas
quando lembro a deslembrança
escondendo os dias de hoje
falo do horror do encontro sujeito
ao que interfere: notícias não trazem
a verdade procurada: mera referência.
(Pedro Du Bois, O NASCER DOS ARES E DOS PÁSSAROS, Vol. II)
Por Cláudio Costa | 11/17/2009 11:20:00 AM em | comentários (0)
LUZ DEL FUEGO
Banguela, a jiboia ainda sorri, ao lembrar da juventude.
DESESPERO
Com tantas portas pela frente, não teve saída.
Jogou o molho no pão.
NOIVENA
Na última noite dormiu agarrada ao santinho.
Quando acordou, chorou como Jó, ao ver que ele era oco.
DIVÃ
Nua atende os pacientes.
Em segundos, eles desabafam.
GARATUJA
Morde a ponta do lápis.
Enxuga os olhos no papel.
Era para ser um coração.
SOLIDÃO
Trim...Trim...Triatendedesesperada
...engano
PARTIDA
O olhar não escuta o som do adeus.
Pum...
DISTÂNCIA
È enorme.
NO FREE SHOP – 2009
-Fala presidente
-
RESOLVIDA
- Chupa?
- Sim.
- Dois de?
- Vulva.
COISA RUIM
Ele é assim mesmo.
Quando nasceu, deu o maior trabalho.
EFIZEMA
Parabéns pra você….
……é pique, é hora, Ra tim BUM.
………………
Alta madrugada. O Papa acorda com o coração na boca. Tivera um pesadelo no qual era Deus. Senta-se à beira do leito, limpa o suor da fronte, o peito arfando. A sua frente, um espelho... Olha, vê Deus.
Sempre repugnou a ciência e exaltou a fé. Adoeceu, não foi à igreja, mas ao médico. Antes de dormir, rogava a Deus para que abençoasse aqueles comprimidos. Deus, ressentido, não lhe deu ouvidos.
se queríamos o jardim florido
Academus
como nos descuidamos
dos trabalhos necessários
da rega diária
de arrancar o inço
das escoras dos caules
mais frágeis
sobre a grama
meninos jogam bola
com a garrafa de plástico
apenas o não pise a grama
resolveria o problema
do nosso jardim?
(Pedro Du Bois, DAS DISTÂNCIAS PERMANENTES)
Aprendeu a ler num átimo. Desde então passou a devorar livros. Ao se deparar com a palavra diálogo, estremeceu. O medo de pronunciar diabo o impediu de seguir adiante.
Quis vender a alma ao Diabo. No entanto, desistiu. Não conseguiu encontrá-lo. Indignado, decidiu se entregar a Deus. Atirou-se de um penhasco.
Felicidade é tão rara
rarefeita
feita de prazeres sutis, efêmeros.
Felicidade é quietude
tudo imponderável
estável por instantes.
Felicidade é tão clara
rara, estreita
feita de quase, só.
No ponto de ônibus, dois cristãos. Assento, apenas um. Ambos pensaram: “Ame o próximo como a si mesmo”. Um deles então disse: “Pode se sentar”. O outro prontamente respondeu: “Faço questão que você se sente”. O ônibus passou e eles passaram a eternidade oferecendo um ao outro o assento.
Andava sempre com a cabeça nas nuvens. Um dia, tropeçou em uma pedra e arrebentou o dedo. Além da dor, o sangue saltou-lhe aos olhos. Desde então, passou a andar com a cabeça nos pés.
Ela vinha de longe, entoada pelo vento, multicolorida, serpenteando, rasgando o céu e causando fascínio nos olhos dos meninos. Um deles saiu em disparada e ali na frente, na esquina, foi esmagado pelo caminhão-pipa.
Não espero
aguardo que aconteçam
na hora certa.
Faço a hora:
abstraio o Vandré.
Espero
não aguardo que aconteçam
na hora incerta.
Não espero acontecer:
de novo o Vandré.
A culpa me aguarda
quando perco
a hora da espera.
(Pedro Du Bois, AS PESSOAS NOMINADAS)
tenho corrido riscos
tenho parado pra pensar
tenho feito, segurado ansiedades.
tenho aceito, afastado liberdades.
CHEGADA A MIM MESMO
Por Unknown | 11/02/2009 11:35:00 PM em Adams Alpes, Caçapava, Crônicas | comentários (0)
Em um sábado fui à Big Apple brasuca. Perdi-me. Encontrei-me e perdi-me novamente. A cidade me fascina ao mesmo tempo em que me assusta. Não sou eu quem passa por São Paulo. Eu apenas corto e costuro os vários tecidos vindos de todo os lugares do mundo e que desembocam e constroem suas teias na cidade. Eu não falo o R do paulista. Tenho o R do caipira, mas, ainda assim, admiro a magnitude que essa floresta de concreto exerce sobre mim.
No caminho ao município infestado com casas erguidas como varais, durmo enquanto não me encontro nos braços dos faróis, árvores, paredes, prédios e tantos outros limites da cidade que não dorme e que me acolhe friamente. E fria, a mente me tortura com imagens que me levam aos campos e descampados onde eu andava descalço nos tempos de peralta, mas que tive de abandonar para vestir sapatos de couro e all star. Tive que me reeducar, refazer a barba e o cabelo. Hoje, o passado não define quem sou e o futuro também não me mostra o que serei.
Dessa maneira, sou mais um sem rosto que chega à Avenida Paulista, mas que assume a única identidade que me resta incorporar: a de um turista de mim mesmo, a de um sujeito desterritorializado de seu mundo encantado pela Emília, pelo Saci-Pererê, pelos animais falantes, reis e magos.