Encontraram-se, por acaso, um músico e um poeta. Trocaram presentes. O músico ouviu nos versos, música. O poeta contemplou na música, poesia.
- acabei de chegar do trabalho - diz ele
- estou saindo para a faculdade - diz ela
Tempos depois foi imperativo a separação. Não havia saída. Só desencontros entre eles.
És o sentido da busca
quem devia chegar sem ser anunciada
minha casa e morada
és o sorriso do encontro
quando devia estar em teu corpo
meu refúgio e vulcão
és a carne quente na completeza
dos gestos e das mímicas
minha pele e maciez
és o contato esperado ao cumprimento
do melhor momento do encontro
minha âncora e certeza.
(Pedro Du Bois, A CASA DIVERSA)
- O que te desperta a dor?
- O despertador.
- Fale mais sobre isso.
- Integro a maioria. Não sonho de olhos abertos.
uma nesga
num lugar fechado
claustrofóbico
apenas uma nesga
de serra da Bocaina.
em primeiro plano
mangueiras
ao fundo quase desfocado
a serra e o sol
e a neblina.
quase ao alcance das mãos
mangueiras
e aos olhos
desfocada a serra
e o sol com neblina.
apenas uma nesga
acostumando as retinas
à luz em um lugar fechado
claustrofóbico.
Vidas regidas
por respostas
implícitas
nas perguntas
tempos poderiam
ser poupados.
(Pedro Du Bois, DESENREDOS)
Chuva que chove
Na minha folha
De papel
- ainda bem que sem tinta -
pelo dia internacional dela
Por valéria tarelho | 3/21/2010 11:05:00 AM em Poesia, Valéria Tarelho | comentários (2)
foto: arquivo pessoal
antídoto
para pé no saco
:
poesia
para carrapatos
sanguessugas
parasitas
:
poesia
para os fracos
fiascos
fracassos
:
poesia
para quem se acha
se queixa
e todo chato
de galochas
:
poesia
para 'peçonhas non gratas'
escorpiões
najas
jararacas
:
poesia
para mau-olhado
diz-que-diz-que
nhenhenhém
zunzunzum
blablablá
lero-lero
chororô
tititi
:
poesia
e um sonoro
tô nem aí
valéria tarelho
Acredita
no que mostra
traz o álbum
contando sua vida
em dias
fotografias
convites
comentários
rabiscos
em folhas de jornais
sorri ao mostrar o tesouro
da vida dignificada
em sonhos
irrealizados.
(Pedro Du Bois, RETRATOS)
Vídeo do lançamento de Diálogos que ainda restam- Abertura
Por Fabiano Fernandes Garcez | 3/18/2010 12:31:00 PM em Clebber Bianchi, Fabiano Fernandes Garcez, São Paulo | comentários (0)
escrever é desabafo
desarranjo
desagrado?
escrever é desajuste
embuste?
escrever é desvio
cio
por um fio.
COMO É DIFÍCIL CONTAR BOAS HISTÓRIAS. ESCOLHER AS PALAVRAS CERTAS, A FORMA DE ORGANIZÁ-LAS. SABER SE AS COMEÇA PELO INTRÓITO OU PELO CABO. DIFÍCIL DEMAIS ESCREVER. MELHOR É OUVI-LAS E LÊ-LAS, OU ASSISTI-LAS. MAS MAIS DIFÍCIL AINDA É FUGIR DESSA NECESSIDADE DE REFLETIR, DE REPERCUTIR COM AS PALAVRAS, SEJA EM VERSO OU PROSA.
QUERIA CONTAR BEM HISTÓRIAS COMO CARLOS VARELLA E RUTH GUIMARÃES. TER O VERSO FÁCIL COMO GUTO CAPUCHO E TONHO FRANÇA.
Em cada sussurro,
um urro.
Vídeo do lançamento de Diálogos que ainda restam
Por Fabiano Fernandes Garcez | 3/14/2010 09:23:00 PM em Fabiano Fernandes Garcez, São Paulo | comentários (1)
a água foi ficando mansa
aquele turbilhão sumiu
como se a água tivesse sido alisada
com um régua.
não adiantava mergulho profundo
nem oração
aquela ideia, aquele sonho tinha
submergido pra sempre.
Não esquecer de aguar as plantas
dar comida aos pássaros
fechar as janelas
carregar o lixo
fechar a porta
não esquecer da felicidade
nas horas mortas
tomar os remédios
desligar o rádio
rezar a oração
não esquecer de levar o retrato
guardar o retrato
rasgar o retrato
não esquecer de mim.
(Pedro Du Bois, O ESPAÇO VAZIO)
essas muralhas maravilhosas
Por valéria tarelho | 3/08/2010 02:05:00 AM em Valéria Tarelho | comentários (1)
estátua de Joana d'Arc na Catedral de Notre-Dame, Paris
parcas, fúrias, musas
ninfas, sereias, bruxas
lobas, gatas, najas
leoas, coelhinhas, cadelas
rainhas do lar, da bateria, rainhas-más
executivas, voluntárias, escravas
atrizes, esposas, meretrizes
bregas, peruas, patricinhas
rendeiras, liberais, lavadeiras
mumificadas, falsificadas, siliconadas
fadas, princesas, borralheiras
anjos, demônios, santificadas
amantes, namoradas, abandonadas...
afrodites, julietas, amélias
evas, dianas, nefertites
junos, medusas, belas
cinderelas, rapunzéis, malévolas
florbelas, cecílias, coralinas
hildas, marthas, lyas
madres teresas, mães-menininhas, madalenas...
garotas:
de ipanema, programa, propaganda
das telas, dos tanques, das ruas
do olimpo, dos contos, pés na terra...
fêmeas, feministas, femininas
meninas-poderosas
mulheres-maravilhas
um ar de maria
um quê de marylin
um toque leila diniz
joanas d'arcs
armadas de duplo xis
valéria tarelho
BATE SOL NA MINHA COZINHA PELA MANHÃ
COM O CAFÉ FRESQUINHO, O SOL ME AQUECE
OS PÁSSAROS, DE MANHÃ, JÁ ESTÃO EM ALARDE NA LARANJEIRA
NA FIGUEIRA, NESSA HORA, ELES FAZEM O DESJEJUM EM SILÊNCIO
O SOL ILUMINA MINHA COZINHA DE MANHÃ.
Por Cláudio Costa | 3/06/2010 11:47:00 PM em | comentários (0)
DOLORES
Não está sorrindo. Uma das feridas cicatrizou.
ÓPIO
Não desejo nada além de você.
De
flor
em
flor
Perpetua-se a espécie.
Sem inspiração,
pegou a folha e fez um barco.
Da caneta fez um mastro
de outra folha, uma vela.
Içou-a e esperou o sopro do vento.
relembro a primavera
a nossa juventude
- ah, como te amei!