As minhas faces

Por Tonho França | 10/27/2010 08:57:00 PM em |

Observo a caixa onde o último charuto descansa

Há uma certa elegância no aroma do Cohiba



Ainda pousa sobre amarelados papéis

a caneta de pena importada

o relógio de bolso em ouro

(ambos herança de meu avô)



já desfiz-me de tudo que era precioso



perdi-me de muitos rostos caros e amigos

e morri um pouco em cada mulher que amei



hoje o tom escuro repousa em quase todas minhas roupas

e meu peito e braços são de cinzas e barro

sou feito de cinzas e barro

e toda essa profusão de sons, cores, pessoas

são estranhas ao meu olhar.



Relembro na pausa de um suspiro (lento)

Toda minha vida

pouca coisa restou de uma época e de mim.



Os últimos poemas ainda insistem na memória

Eles tem a alma, o ritmo e o segredo dos mares



E toda noite, condenam-me veemente

ostentando sobre as ondas, brados revoltos

em espumas claras-intensa-reluzente

A face de todos meus “eus” mortos





Tonho França

3 comentários:

  1. Duda Araújo on 27 de outubro de 2010 às 21:50

    Gostei Tonho. Um sóbrio einspirado navegar sobre as ondas do passado e presente; e é um presente para nós.
    Vale u. Congratulações

     
  2. JURA on 28 de outubro de 2010 às 09:18

    poeta de sete faces, lindo, Tonho

     
  3. mural do ajosan on 30 de outubro de 2010 às 22:19

    Dentre tantos versos poéticos no poema, poeta, destaco este que é demais! "...e morri um pouco em cada mulher que amei..."; parabéns.

     


O conteúdo desta página requer uma versão mais recente do Adobe Flash Player.

Obter Adobe Flash player

Feeds RSS

Receba as novidades do Vale em Versos em seu e-mail

Livros do Vale

Apoiamos

Adicione

Arquivos