Não posso fazer nada
não faço nada
nada
enquanto da morte
não retornar o corpo
decomposto
e recomposto:
recuperar os olhos e olhar
recuperar o tato e tatear
recuperar o olfato e cheirar
recuperar a fala e dizer
sobre onde esteve
o tempo desnecessário
da sua morte
então poderei recuperar o gosto
e gostar.
(Pedro Du Bois, inédito)
A folha arrancada do caderno
se destina ao barco
na água da sarjeta
pode ser maior o barco
e levar o corpo
a encalhar na sujeira
do meio-fio
o barco completa a viagem
na interrupção da jornada
desembarco e no caderno
escrevo as impressões
do trajeto.
(Pedro Du Bois, inédito)
Aguarda o resultado
seus deuses absortos
deixam passar a oportunidade
adquire outro bilhete
novo tíquete
cartela
a ideia do sofrimento
e abandono o consola.
(Pedro Du Bois, inédito)
como quebrar um verso
duro, como tirar
dele o que flui.
como tratar a
palavra obscura
fazer dela o que surge.
Penso o instrumento
e o empunho
em sonhos
(retiro o limo
do azedo cortejo
e o adocicado
dos cometas)
o sonho permite a interação
dos escombros
o instrumento reforça
em posicionamentos
o toque dos acordes
acordo ciente do descaso
com que minha voz
despreza o canto
no acompanhamento
do instrumento.
(Pedro Du Bois, inédito)