Vendo a ilusão
de que o civil
que começa o ano
possa ser feliz
ou mais feliz
em extremos toques
desfeitos
nos defeitos
que os anos
me repetem
busco na ilusão
o copo esvaziado
do que levo
ao ano que se inicia
tapo os ouvidos aos fogos
no artifício da ilusão
de que as cores se fazem
eternas
pétreas
petrificadas.
(Pedro Du Bois, inédito)
Não há o sorriso em sério rosto
a espera angustia no corpo cansado
mira a presa
e atira: mortalmente ferida
a fumaça no cheiro característico
do que sobra: pouco
meras palavras
explicam o não sorriso
em seus lábios
mordisca o lábio ao atravessar
a rua em sentido contrário
o horário ressurge em cobrança:
encerra ares
no findar a felicidade.
(Pedro Du Bois, inédito)
Aos tímidos
sobram
os olhos
abaixados
de onde
vêem
seus pés
no chão
altos
longos
e longe
têm medo
da altura
da lonjura
da largura
não levantam os olhos
nem olham para fora
(apenas)
esperam o piscar
das pálpebras
para acordarem.
(Pedro Du Bois, inédito)
Apresentado como rei
na reverência
pompa
e circunstância
tocado na passagem
dos pés
olhado no viés
dos olhos
visto na divindade
feito homem
tremido corpo no medo
tremido na voz da súplica
tremido na intenção do espírito
não dá o ar da graça: conta
desgraças em cada parede
desgraçado através do espelho
(onde nada vê).
(Pedro Du Bois, inédito)
Revejo a cena.
No fundo da garagem
olhos vermelhos
brilhantes
o demônio
- pequeno.
No pátio
indiferentes garotos
jogavam bola.
Sou única
testemunha.
(Pedro Du Bois, em REENCAMINHADO, 2005)
Por Cláudio Costa | 9/01/2013 12:48:00 PM em | comentários (0)
No jardim não há silêncio. Caminhava atenta a pequena, curtindo as belezas da pequena floresta. Em cada flor um grito de cores que se misturavam às sensações dos pés descalços na grama ainda inundada pelo orvalho. Pássaros conversavam em misturas de tons que tingiam um quadro de festa, daquelas bem divertidas. Ao lado, soltando as mãos, o pai caminhava rumo à árvore, contemplando o silêncio.