não canto aos pássaros
a imitação malévola da igualdade
pseuda em reconhecimento e demora
reflito o canto através da janela
e está preso o pássaro à gaiola
prende a liberdade na condição
histórica da hipocrisia
refaço o trajeto em silêncio e o pássaro se cala
ao ouvir meus passos pesarosos na impotência
de abrir a porta metalizada em trancas e tramelas
repito a maneira desonrosa da batalha
escondido em trincheiras indecorosas
(Pedro Du Bois, inédito)
avanço
encontro a porta
retorno na incerteza
vívida do recomeço
caminho ambicioso da infância
sufocada no choro adulto da esperança
- aval atravessado na garganta
o outro lado é a diferença entre palavras
(ditas e simuladas) em esforços menores
de decorados textos inoportunos (verdades)
recuo
desencontro no porto
a longínqua fumaça
- o futuro queima
em móveis caldeiras
em descaminho refaço a ventura
entregue ao desespero do retorno
(Pedro Du Bois, inédito)
A morte é esquecimento
relembrado em efemérides
sucessão de erros
em incômodos discursos
de aproveitamento
o corpo em ossos e cabelos
sob a terra: o enterro é espetáculo
resguardado na imaginação
de patéticas cenas
prantos guardam o espírito
renunciado ao corpo: amigos
desabrigados da companhia: transeuntes
cansados das notícias
o despropósito amainado em promessas
descumpridas em vida.
(Pedro Du Bois, inédito)
dia
Posso poupar o esforço
e ficar estanque
junto ao passeio
posso romper o silêncio
em desforço e rasgar
papéis ilusoriamente escritos
posso ser o primeiro corpo
despojado em espírito
posso avançar o corpo
sobre a cerca e derrubar
o fruto da árvore cativada
posso amaldiçoar o instante
da partida e reconhecer na vida
a derrota.
(Pedro Du Bois, inédito)