Meu egoísmo tomou-me logo pela manhã
Escovei meus dentes
Tomei meu banho
Olhei-me no espelho
Arrumei meu cabelo
Fiz minha barba
Engraxei meus sapatos
Passei minha camisa de seda
Tomei meu café
Li meu jornal
Antes de ir para o meu trabalho
Olhei da minha sacada e
avistei:
Nos degraus da igreja matriz
o homem contava algumas poucas moedas
A prole, em volta, esperava qualquer coisa de alimento
Havia qualquer coisa de tristeza em seu sorriso
Havia qualquer coisa de esperança em seus olhos
Havia qualquer coisa de egoísmo no meu dia
só me regue
Por valéria tarelho | 7/29/2009 12:04:00 PM em Poesias, São José dos Campos, Valéria Tarelho | comentários (0)
eu não te peço muita coisa, honey
apenas um par de
polaroides de viagem
e um help que traduza minha
semi-virgem vertigem
na ponta de outra
[tonta] língua
para que eu capte
no zoom [in]
o oculto sob o azul
da superfície
para que eu intercepte
[e soletre à tez da letra]
a palavra-chave, meu bem
que num passe de
real insensatez
te abre
valéria tarelho
(ao som de Zelia Duncan - nos lençóis desse reggae)
*aproveito para convidá-los ao lançamento de meu livro "Sol a Cio", no próximo dia 29 de agosto, na Casa das Rosas-SP.
detalhes sobre o livro e lançamento estão disponíveis em http://solacio.blogspot.com .
TEMPO DE REZA
Eu era um descaso do acaso,
angariado na contramão de uma grande avenida
Os brilhos dos olhos lagrimantes de saudade
de um tempo escorrido nos relógios
refletiam a esperança do passado,
apagada na realidade de um presente sério.
Sou um verso solto,
uma estrofe desconexa,
um tom sem intenção.
Sou um eu lírico pouco idealizado,
idealizador,
desaliterado.
A melodia não me encontra,
e entre mim e ela
só a vontade de ser um pouco mais sonoro.
Armstrong soprar-me-ia entre notas
melodicamente melancólicas
La vie en rose.
O toque das teclas do piano
teria funções tristes de acompanhares,
intrínsecas em saudade.
O sol brilha belo
e entre as frestas da janela apodrecida pelos dias
entra a luz quente, ultraviolentamente,
alumiando os olhos amarelados do porta-retrato.
Nostalgia é ouvir o barulho que o silêncio faz
no tic tac do relógio.
Eu não. Sou mais do que isso.
Sou a saudade que a lembrança tem,
sou os sonoros passos lentos, quase mancos,
de entes que se foram já, tão cedo de minha vida.
Sou os credos, os padres-nossos...
Egoistamente,
amém.
XADREZ
Por Pedro Du Bois | 7/27/2009 07:59:00 PM em Itapema, Pedro Du Bois, Poesias | comentários (0)
A arrogância terça armas
a ganância invade o tabuleiro
a rainha se evade
o rei lerdo
se entrega
a empáfia perdura
no discurso de posse
o peão se esconde
a torre é bombardeada
o cavalo empina o corpo
derrubando o bispo
no sacrilégio da chegada
a ignorância permanece
em cada casa.
(Pedro Du Bois, em A HORA SUSPENSA)
SERES
Por Pedro Du Bois | 7/26/2009 07:02:00 PM em Itapema, Pedro Du Bois, Poesias | comentários (0)
Somos nós
avessos aos compromissos
externos
eternos descompromissados
ávidos pelos encontros
ou seremos agora
feitas as contas
descontos concedidos
por obra e graça.
(Pedro Du Bois, em DESENREDOS)
Corrida injusta que todo brasileiro sorridoente
Por Unknown | 7/25/2009 10:45:00 PM em Adams Alpes, Caçapava, Crônicas | comentários (0)
A PEDRA DESCORTINADA
Por Pedro Du Bois | 7/24/2009 10:49:00 PM em Itapema, Pedro Du Bois, Poesias | comentários (0)
Dessa vez
- última -
não voltarei
o rosto
em pedido
serei a despedida
seca em folhas
sobre as pedras
do caminho
o ir embora
na promessa da hora
dessa vez
- derradeira -
não terei o sal
e o gosto do pedido.
(Pedro Du Bois, em A PEDRA DESCORTINADA)
O homem sente que
está realmente ficando velho
quando começa a perceber
que possui mais passado
do que futuro.
Esta é a hora
em que o melhor a fazer é viver o presente
Vivo sempre sem saber
quanto tempo durará a simplicidade do vento.
As horas descarregam sobre os ombros dos homens
todo seu peso sem medida a encurvá-los.
Somos como raízes no solo, que,
mesmo arrancadas,
as marcas, nem a medida das horas apagam.
Os fatos são narrativas
e conduzem tudo e sempre
a um começo,
a um meio,
a um fim...
De imediato,
restam-nos as reminiscências,
sem peso,
sem medida,
sem tempo.
BREVES GESTOS
Por Pedro Du Bois | 7/22/2009 09:39:00 PM em Itapema, Pedro Du Bois, Poesias | comentários (0)
O povo de paz
não deseja o território vizinho
nem quer se apropriar da riqueza alheia
esse o discurso
o povo colonizado cultural e economicamente
mal consegue proteger suas fronteiras,
acostumado a ser roubado em suas riquezas
essa a prática
discurso e prática
milenar maneira
de enganar a si mesmo
fazer de conta que tudo acontece
como planejado, manter a hierarquia
e o culto ao passado.
(Pedro Du Bois, em BREVES GESTOS)
Gripe causa status quo
Por Unknown | 7/21/2009 04:42:00 AM em Adams Alpes, Caçapava, Crônicas | comentários (0)
Há pouco, li nos jornais, que os hospitais no Rio de Janeiro e em São Paulo estão em uma situação em que salta gente pelas janelas para ser atendida. Tudo culpa da mídia. O mais engraçado é que o povo brasileiro fisga direitinho a isca e aglomera-se, metro por metro, nos corredores dos hospitais, transformando a saúde pública num caos. Mas, é exatamente isso que a mídia quer. Portanto, ter gripe suína no país do carnaval, é ter status. É entrar para o hall da fama das pessoas que pegaram uma epidemia mundial que entrou pelas portas da frente do país: com os turistas que, diariamente, entram e saem dos aeroportos do nosso país, com ou sem aquela afeição de bonzinhos, carentes e deslumbrados com tanta beleza (principalmente das mulheres), e que somente conhecem o carnaval, Pelé e, agora, o Ronaldo. No país do futebol, que pessoa não quer se gabar para os amigos e para a família, que esteve internado por causa de uma doença que pegou de um turista mexicano, espanhol ou norte-americano?
O fato mais cômico, e que chama mais a atenção, é que se fosse o dia nacional de doação de sangue, de doação de órgãos ou de doação de agasalho, com toda a certeza, e arranco meus ouvidos se eu estiver errado, os hospitais não estariam lotados de pessoas até à tampa, pulando pelas janelas, implorando para os médicos um minuto de atenção. Os bancos de sangue não estariam vivenciando um caos e a mídia, muito menos, divulgaria tal ação. Fato curioso: alguém já reparou que os médicos que realizam os atendimentos aos suspeitos da gripe suína não são adeptos aos acessórios da moda, como as máscaras, as luvas etc.? Muito menos os vejo usufruindo o banheiro e lavando as mãos a cada atendimento feito. É! A gripe suína é o caminho mais curto para se tornar emergente ou socialite. Um dia desses, meu pai, para conseguir uma meia-dúzia de gatos pingados para doar sangue no hospital público, teve que gastar a língua tentando convencer os amigos que um dia poderia ser um deles no lugar de quem precisa. Ainda assim, não conseguiu o impacto que queria. Também, meu pai não é nenhum “âncora” de um noticiário sensacionalista em uma dessas emissoras nacionais de televisão. Além disso, muitos ainda são os pré-conceitos nessa hora, como por exemplo, o medo de pegar doenças, entre outros. Engraçado: na hora de pegar a gripe suína, dentro de um hospital público, ninguém treme na base como vara verde, mas, há nora de doar sangue, o hospital causa uma vertigem, não é? É porque doar sangue não traz status quo a ninguém. Imagine-se em uma roda de amigos: se disser que doou sangue, ninguém aplaude. Ninguém assobia. Ninguém vibra. No entanto, se disser que esteve de cama durante alguns dias, por causa da gripe suína, todos irão te vangloriar, te encher de perguntas e fazer um busto para condecorá-lo. Na ocasião, torna-se até herói da cidade. O povo brasileiro é o que mais tem o rabo dos olhos virado para o próprio umbigo e não se importa com o dia de amanhã. Além disso, é um povo extremamente acomodado. Ainda mais depois que o Obama teve a coragem de dizer que nosso querido presidente Lula é o “cara”. Obama!, venha para o Brasil, meu querido. Venha viver alguns meses aqui. Encontre um barraco na Rocinha ou na Cracolândia, ou ainda, quem sabe, nas grandes cidades cosmopolitas, como as capitais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Você verá como é gostoso desejar ter gripe suína para aparecer no jornal, para ter fama e sucesso por quinze minutos. Você verá como a mídia manda e desmanda em um povo fraco e carente de uma nação forte, firme e com seus heróis, como super-homem. Você verá como é fazer parte de um povo sem identidade e que tem apenas um grito às margens plácidas do Ipiranga e, mesmo assim, falso e pintado à francesa. Um povo carente de heróis, pois não tem a menor ideia e não sabem quem são os verdadeiros heróis de nossa aquarela.
Ainda por cima, para complicar a minha crônica, moro em uma cidade onde tudo, exatamente tudo, “pula” nosso pequeno território. A chuva pula, o calor pula, o circo, os parques, até a gripe suína pula essa cidade. Sorte minha e azar dos meus colegas, já que não vão aparecer nos jornais, nem mesmo locais, sendo vítimas da gripe que fornece status quo social.
(Adams Alpes, 21 de julho de 2009).
...
o soluço do menino entrecorta a sala
de visitas e os vizinhos se apressam
na retirada estratégica das derrotas
vir junto à passagem das histórias
mal contadas em noites frias
como se pudessem ser retiradas
as argolas e os elos os prendessem
nos espaços fechados das premissas
...
(Pedro Du Bois, em POETA em OBRAS, Vol. VI, fragmento)
O jazz, o sertão e o amor
Por Unknown | 7/18/2009 02:05:00 AM em Adams Alpes, Caçapava, Crônicas | comentários (2)
Em meio a tudo isso, descobri o amor. O jazz silenciou os pensamentos absurdos e brotou em meus olhos e coração o sertão, que agora estava debaixo d’água. O jazz me contagiou. Adentrou em meus ouvidos, alcançou meu coração, passeou pelas veias de meu corpo e alçou vôo à minha mente, um pouco perturbada pela madrugada seca e sonolenta. Pensei em corpos que mutilei em pensamentos impuros; no sertão que o sertanejo se enraíza por ele e por cada pedaço ou metro de terra laranja sem sabor de fruta; nas pessoas correndo solitariamente entre prédios, casas, fantasmas, desconhecidos sentados ou em pé em metrôs, que cortam o grande corpo humano que é São Paulo, mas dono de um coração grande, cheio, triste, solitário e duro, com sabor de cinza.
Embalado pelo jazz em minha cama, depois de lido que o Nordeste sofre um dilúvio e de sentir, num final de semana, que São Paulo é um grande vazio (apesar de transbordar de vidas), pude começar a entender o que é o amor. É a terra, que enquanto laranja e rachada sorri na face do sertanejo; é um estranho fazendo compras num supermercado e que continua desconhecido aos olhos de todos; sou eu, deitado na cama, com a caneta numa mão, o caderno na outra e nos ouvidos, o jazz, porque hoje, agora, estou jazz.
LUÍSA
Por Pedro Du Bois | 7/15/2009 09:34:00 PM em Itapema, Pedro Du Bois, Poesias | comentários (0)
X
Luísa
como pré-nome.
O sobrenome.
O nome de família.
Ante a impossibilidade
do silêncio
eis o nascimento
e suas providências.
A boca suga o peito
na permanência do encontro.
(Pedro Du Bois, em LUÍSA)
APRENDENDO A VOLTAR
Por Pedro Du Bois | 7/13/2009 09:16:00 PM em Itapema, Pedro Du Bois, Poesias | comentários (0)
III
O riso
e a palavras: encadeada conversa
de mesmo tema:
a doença
a lembrança
a volta
na cidade retorno os passos
e os movimentos
silenciam
as ausências
o riso incompleto
na palavra lembrada: tema
recorrente do que foi roubado
ao tempo.
(Pedro Du Bois, em APRENDENDO A VOLTAR)
O LIXO REVOLVIDO
Por Pedro Du Bois | 7/12/2009 08:08:00 PM em Itapema, Pedro Du Bois, Poesias | comentários (0)
No desencontro
o tempo passado
em nuvens
insustentáveis
o assombro da chegada
náufrago livre
do contato
despetalada flor
ao lixo jogada
palavras recolhidas
antes de serem ditas
na covardia da primeira vez
encontros: males repetidos
desgastados em imagens descontruídas
de olhos percebidos na distância
entre afetos e inconstâncias
nas sobrevidas inutilizadas.
(Pedro Du Bois, em O LIXO REVOLVIDO)
RETORNO I
Por Pedro Du Bois | 7/11/2009 09:20:00 PM em Itapema, Pedro Du Bois, Poesias | comentários (0)
...
reconhecer a face
entender a linguagem
saber que o pior passou
agora é a hora da chegada
irreconhecível ser de outras eras
não teria razões para voltar
nem pedir que o regresso
seja recebido em festas
...
(Pedro Du Bois, em POETA em OBRAS, Volume III, fragmento)
VISÕES
Por Pedro Du Bois | 7/10/2009 10:03:00 PM em Itapema, Pedro Du Bois, Poesias | comentários (0)
Vence e se rejubila
no reconhecimento obtido
ao imediatismo dos olhos
visões resguardam os atos
sucedidos em miragens
vitórias transitam
fechadas matas eletrônicas
e o sinal se perde no espaço
visões permanecem
em cristalizadas ideias.
(Pedro Du Bois, em A INCERTEZA DA VIDA)
Escuro tempo
em que as vistas
transitam impávidas
entre monumentos
falam de tormentos
entre uma bebida e outra
contam dos filhos
que lhes respondem
e dos artigos sobre filmes
nos cinemas escuros de refrigerantes
e pipocas: não há sol iluminando
o horizonte e o cão pausadamente
late incertezas
de escuros tempos
de hoje e sempre.
(Pedro Du Bois, em OS CÃES QUE LATEM)
LADOS
Por Pedro Du Bois | 7/08/2009 09:32:00 PM em Itapema, Pedro Du Bois, Poesias | comentários (0)
...
o mesmo lado: tristeza, dor e a elegante
maneira de se apresentar, solerte
dizer sobre a vida, antes perguntem
antecipar questões de natureza
íntima no desconforto das palavras
o outro lado: claro, cara, dentro, quente
a água onde repousa o corpo, o amigo
cansado e cansativo fala experiências
ultrapassadas em curvas de trajetos
não habilitados ao esperado tolo.
(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, vol. VII, fragmento)
PASSADO
Por Pedro Du Bois | 7/07/2009 09:25:00 PM em Itapema, Pedro Du Bois, Poesias | comentários (0)
III
Passado interposto
em alça de mira
tiro partido
ao meio: corações
feridos em desgraças
o passado vitima os sentidos
em vinganças e lembranças.
(Pedro Du Bois, em A ILUSÃO DOS FATOS)
José Fica Quieto
Por Fabiano Fernandes Garcez | 7/07/2009 11:31:00 AM em Fabiano Fernandes Garcez | comentários (0)
O POETA E AS PALAVRAS
Por Pedro Du Bois | 7/06/2009 10:14:00 PM em Itapema, Pedro Du Bois, Poesias | comentários (0)
(sobre as Cartas ao Jovem Poeta)
O poeta não fala da vida
diz da poesia
como vida
como a poesia deve ser tratada
não as palavras escritas
sobre fatos humanos
irrelevantes
a vida na plenitude
da solidão
no distanciamento
de onde o poeta nos habita.
(Pedro Du Bois, em O POETA E AS PALAVRAS)
CONSERVAR
Por Pedro Du Bois | 7/05/2009 08:38:00 PM em Itapema, Pedro Du Bois, Poesias | comentários (1)
a fachada expõe
a idade
a caducidade
a outra época
descorada em grades oxidadas
e janelas mal fechadas
a porta permanece
imponente
fechando a passagem.
(Pedro Du Bois, em DESENREDOS)
A Luz Despossuída
Por Pedro Du Bois | 7/03/2009 10:18:00 AM em Itapema, Pedro Du Bois, Poesias | comentários (0)
Mantenha a luz da manhã
o cedo se faz longo
e o tarde é ouvido
tão longe esteja o fim
no começo o barulho da bigorna
sobre o ferro
quente como batidas
do coração e o pulsar do sangue
o calor da tarde traz a antecipação
da noite fria em medos escuros
não seja o animal arisco
cruzando ruas em desabrigos
de não amores e recantos de saudades
mantenha o chegar da manhã
em que o corpo se apresenta
na espera em que se encontra.
Pedro Du Bois - Itapema/SP (em A LUZ DESPOSSUÍDA)