Admito que perdi.
Sim, Pablo, admito que perdi:
a mão,
o jeito,
o metro,
me perdi em meu leito;
enquanto sonhava,
alguém me realizava.
E o amor, de tão real, se mostrou
bruto,
concreto,
inflexível,
incapaz.
Sim, Pablo, admito que perdi:
a conta,
o fio,
a meada;
o meio
pra votar a ter um jeito.
E meu leito, onde mergulho perfeito,
continua cheio de sonhos.
entre galhos
diviso o pássaro
que me olha
no irreconhecível
gesto: grita
suas penas
e voa
ao outro
galho
preso ao chão
observo no voo
a leveza do corpo
no grito
o reconhecimento
(ele) não me olha
- indivisível ser
preso ao contato.
(Pedro Du Bois, inédito)
Volto ao estado inicial:
antes da metamorfose
na transição do contrário.
A simpatia em carta simples:
o selo indica
no carimbo
a data da remessa
amanheço em cada consequência
e danço: sim, minha amada,
danço minha renovação:
- o zero
- o infinito
- o número mediano
na estatística
volto ao estado inaugural: tenho
a metamorfose disposta ao novamente.
(Pedro Du Bois, inédito)
peço para apagarem as luzes
prefiro o escuro pano sobreposto
peço respostas: sou perguntas
peço misericórdia: sou
a acusação imprecisa
ter chegado não alivia a carga
trazida nas costas lanhadas
em atravessado trajeto de retorno
peço para dizerem seus nomes
são o silêncio: sinto suas mãos
sobre meu corpo erguido alçado
sustentado: sou transportado
ao lugar de origem: grades
fechadas em portas entreabertas
onde me instalo.
(Pedro Du Bois, A CASA DAS GAIOLAS, XXX, revisto, 2a. Edição, 2005, Ed. do Autor)
A oposição permite a visualização dos lados
comprometidos ao objeto. Bendigo o nome
acolhido em resposta e me defronto
com a maldição do nome pronunciado.
(Lembro histórias de moedas,
luzes e animais selvagens).
Domestico o nome benfazejo
e o oportunizo ao relento.
A maldição se instala
junto à porta.
Onde esmaece.
(Pedro Du Bois, A PALAVRA DO NOME, XIV, I, revisto, Edição do Autor, 2008)
sou meio meu pai
meia idade dele
meia vida dele
sou meio espelho dele
reflexo torto, enviesado
sou meio o que ele trouxe
sou meu pai
vida dele
espelho dele.