Finalmente encontrou seu lugar ao sol. Ardeu em chamas.
Antes que acorde
corre o lápis: escreve
palavras que antecipam
o dia
o frescor da manhã
pela janela: nuvens guardam em luzes
as sombras que não representam
dorme alongados sonhos
que o corpo descansa
na espera do que encontrará
escrito
o bilhete em letras claras: a sombra
mata os sonhos em que esquecemos
nossas vidas: sobre a cama o acordar
torna a hora fechada em esperanças.
(Pedro Du Bois, inédito)
*poema em homenagem ao dia internacional do livro
A mão imóvel
não permite o traço
em gesto estático
boneco: corpo na vitrine
em que apenas os olhos
sobre a rua
giram
na procura
de quem não passa
pode o futuro estar à frente
do corpo imóvel?
Na imobilidade o espírito
- seria alma - se aquieta
na espera da hora
em que os movimentos
são recuperados
e o aceno acontece.
(Pedro Du Bois, inédito)
não sei mais fazer poesia,
como se algum dia eu sabia.
No crime o sentido extravasa
o morto
o corpo
o motivo
transforma o inferno em vidas
ceifadas
espoliadas
arrasadas
o criminoso sabe o resultado
e acostumado
volta pra casa
deita e dorme
à polícia cabe cobrir o cadáver
inquirir testemunhas
informar oficialmente
que não existem pistas
(tudo publicado no canto da página
do jornal do bairro).
(Pedro Du Bois, inédito)
O rio em águas escuras
de transitados restos
orgânicos
de um mundo
melhor
o rio atravessa o vale
e a cascata se faz longe
águas poluídas cozinham
batatas e ovos explodem
suas cascas
encrespadas águas que o vento
muda de lugar.
(Pedro Du Bois, inédito)