insano
busco sentido
na minha existência
(não existo)
(Pedro Du Bois, inédito)
Quando o homem aposta
a vida
no destaque
sabe
da perdição
existente entre o baque
do corpo
antes da queda
ao corpo não cabe a escolha
em apostas que seguem donas
das aventuras em desenlaces
retornadas em formas
desproporcionais
nos atos
a memória subsiste em quem fica
imóvel no avistar o passado
sobre as pedras.
(Pedro Du Bois, inédito)
A sucessão enlaça o presente
e o arremete ao desconhecido
de onde ressurge (novo)
o novo se equipara ao todo
e se limita na repetição (do ovo)
o ovo repousa na casca
sobre a relva e nada retira (está pronto)
pronto
o corpo quebra a casca
que o separa de mim
a quem sucede.
(Pedro Du Bois, inédito)
tosco
teso
tonto
na descoberta
irritante
de que o hoje
o ontem
me aguardam
amanhã
ininterruptamente
(Pedro Du Bois, inédito)
Na hora derradeira
pergunto sobre o tempo
a chuva
a geada
a chegada do outono
em desfolhadas árvores
de alas acariciando carros
nos movimentos diários
na hora derradeira trago a imagem
do feito
e do desfeito consolo
de que apregoam preços
em feiras e flores na rua
o providencial guarda-chuva
que no semáforo o guarda apita
verdades reguladas em extremos
na hora derradeira o extremo gesto
materializa o antes
o agora
o distante intercalado
no gosto da lembrança.
(Pedro Du Bois, inédito)
Ao sorriso retribuo
músculos retesados
(o mal jogado contra o solo
em devolução
no palavrão gritado
em retribuição).
(Pedro Du Bois, inédito)
Longe estou
no longo trajeto
percorrido
do lugar da partida
ao percurso acumulado
na volta cabe a metade
do caminho que não reduz
a sensação de estar longe
o eco repete a perdição
da palavra no corpo
que retorna.
A igualdade é pressuposto
da diferença. Doentia
forma de desconhecimento. Arma
e arremesso. Corpo anteposto
ao dia anterior: juventude
e infância. Infâmia
concretada.
Iguais
em si mesmos almejam
o dia da chegada.
E ainda não
foram até a porta.
(Pedro Du Bois, em IGUAIS, Projeto Passo Fundo/2013)
O menino transita ruas
e detido em luzes
vitrina: renomeia
manequins e roupas
espreita
atrás das luzes
fechadas ao público
honra a família
e se despede
em beijos
- sempre há um manequim
piscando
os olhos e girando o pescoço
(mesmo que o menino não olhe
para trás).
(Pedro Du Bois, em OS OBJETOS E AS COISAS, Primeira Parte, Scortecci, 2006)
Subo paredes
e me instalo
o silêncio traduz
a lucidez
tenho comigo
o de sempre: por vezes
diferente
fecho a janela
e a escuridão me cerca
como me acerco do nada
abraço a minha sombra
na certeza da inexistência.
(Pedro Du Bois, inédito)
maneiras se arvoram
nos tornam reféns
das referências
encobrem e descobrem
desprazeres: acrescentam
perdas no passar dos dias
correntes
obstáculos
manias
contrapesos: maneiras
adquiridas ao medo em segredos
para nãos nos relacionar com a vida
(Pedro Du Bois, inédito)
Na última vez em que fui convidado
compareci ao evento: ser o último a sair
finalizaria o encontro e me responsabilizaria
pelo encerramento: sai pouco antes
e fiquei do outro lado da rua esperando
ser a porta fechada nas luzes apagadas
só
na escuridão
pensei o convite
nas razões da presença: tantas maneiras
de dizer não
não irei
não
obrigado
não
ficará para outra oportunidade
fui
fiquei
conversei
e me diverti
no outro lado da rua na noite esvaziada
soube do desencontro: a vida acompanha
meu empenho enquanto puder
ir embora mais cedo.
(Pedro Du Bois, inédito)
nada faço
que não seja
feito
descobertas acontecem ao acaso
repetições
são tomadas
fosse o método
exponencial
das cópias
(Pedro Du Bois, inédito)
Palavra
que está
sempre
no aumentativo.
Tudo tem tido
muito sentido
sem tido
algum
semtido
nenhum
Gilberto Gil - São João, Xangô Menino / Respeita Januário
Por Jura | 6/24/2016 10:08:00 PM em | comentários (0)
aposto: a primeira resposta
estará errada
aposto: a chuva passará
sobre a cidade
aposto: explicarei o detalhe
para o entendimento
aposto: conforme combinado
nos encontraremos ao amanhecer
aposto: retratos serão
obtidos em revelações
aposto: sua apatia está ligada
ao sorriso descoberto
aposto: o anjo refulge asas
ante a claraboia
aposto: versos rosnados em ouvidos
tolos das moças do lugar
disposto: noites para dormir
em noites para acordar
(Pedro Du Bois, inédito)
No muro as palavras:
"fora daqui
aqui estou"
estrangeiro e visitante
no retorno imperdoável
entre fugas e sentidos
olhar o trajeto
e se fazer esperar
o outro lado
não seria aqui
e aqui está
inscrições adquirem vida
em memórias de acompanhamento.
(Pedro Du Bois, inédito)
Olhar o panorama
na continuação da jornada
não olhar o opaco
silêncio embevecido
das lembranças: saudades
em novidades anteriores
no progresso olhar
a sensação do esquecimento
no retorno ao começo
única forma
única maneira
único caminho
para a descoberta.
(Pedro Du Bois, inédito)
espera a terra natal
desprovida de histórias
reaparecer enquanto adulto
terras são semeadas
e colhidas
não resguardadas
(Pedro Du Bois, inédito)
A forma do horizonte
próximo à liça: licor
despejado no copo
dos anseios
horizonte em nuvens
de cigarros apagados
o gesto reduz a plataforma
onde lançados à terra irreal
dos dias ansiosos: perguntas
brotam no ocaso do horizonte
sumido ao contato
reviso o texto: lépido
passo. Nada resta
provar: ao horizonte
falta a perspectiva
do perto aprisionado.
(Pedro Du Bois, inédito)
Cordato homem
atravessa a rua
em que a lua ilumina
a ostentação da noite
ao homem que passa
silencioso
o rumor
dos profetas ostenta
a decisão de ser o poeta
perdido na imensidão.
(Pedro Du Bois, inédito)
oposto ao gesto
aceno minha resposta
aposta na confluência
da cena onde me mostro
o mastro aponta o horizonte
na volta completada no encosto
áspero contra a pedra
erro o bote
viro o barco
em amostras
aposto
o que resta: arresto
receber o gesto
em cena.
(Pedro Du Bois, inédito)
Abro a janela
pelo ar penetra
a anunciação
do retrato falado
afasto o vidro
quebrado na queda
e atrás da cortina
espio o exílio
farto da lembrança
liberto minha alma.
(Pedro Du Bois, inédito)
gratuito exemplar exposto
na banca de revistas
pagamento a partir
da segunda remessa
desejo despertado
em horas de promessas
antes do desjejum sexual
de impolutos seres engravatados
a gratuidade cede espaço
ao desinteressado fato
absorvido na manchete
a exposição barateia custos
de impressão e entrega
(Pedro Du Bois, inédito)
na terra
onde se aprendem
amarras o contato foge
ao abraço
medeia esforços na noite
desprotegida e nua das esperas
desperta a flor nascida
no instante impreciso
da passagem
sabe instalar o alarme
anunciado na terra incontida
em vasos aprumados
nas sacadas
na terra onde apreendidas
amarras sobrepostas ao corpo
inconfesso dos lamentos
tem a luz e obscurece o tempo
atípico dos amantes
(Pedro Du Bois, inédito)
carrego cicatrizes
sob a pele
agastada: luzes
atravessadas na paciência
experimentada na separação
da vida amortecida em mortes
desconsideradas
onde me situo incólume
: no afligir do corpo
despontam marcas
escurecidas da virtude
abandonada no pagamento
necessário aos fatos
retiro o onde
e me habito
em essência
(Pedro Du Bois, inédito)
Na imprecisão do instante
soube
do futuro
descortinado
- janelas alteram
o sentido do quarto
no espaço devassado -
e nas entrelinhas
li
o futuro
decomposto
- portas precisam
permanecer abertas
pelo lado de fora -
no piscar dos olhos
esqueci
o futuro
descabido
- na cama repousa o corpo
e ao lado o outro corpo
descoberto.
(Pedro Du Bois, inédito)
O canto ultrapassa a musa
além
o espaço
ávido em sons
distantes
busca no vazio
o intermediário gesto
de despedida
o som integra a dispersão: na fragmentação
o tom se revela além da musa: história
entre iguais dissociados dos fatos.
Risadas cobrem as palavras.
A musa ultrapassada em beleza
e subserviência despenca escada
abaixo: baixos tons de lamento.
(Pedro Du Bois, inédito)
Não interessa ao corpo em movimento
a força abrutalhada do ânimo
no sentimento dos desencontros
nada vale a palavra em contextos
de poemas inalcançáveis nas canções
amadurecidas em rimas e ritmos
não me comove o cheiro doentio
dos perfumes exalados em flores
não me admiro em espelhos convexos
sobre altas janelas de aviões em voos
apenas olho o entardecer pela janela
fixada na dúvida irresolvível da matéria
as cores aparentes me bastam.
(Pedro Du Bois, inédito)
No entanto
acordo
desperto corpo
levanto e saio
no espaço descoberto
volto e sento
busco no sustento
o alimento da confluência
entre a vontade e a fome
bebo no líquido o gosto
com que tormentas se amplificam
descarto doenças
na purificação do corpo
e olho quem me acompanha
na identificação da vida
deito e durmo o turbilhão
dos sonhos: na madrugada desperto
questões remanescentes.
(Pedro Du Bois, inédito)
Não reconheço nas flores
cores
estampadas
em cálices e corolas
frágeis
entendo as flores nascidas
no acaso com que plantadas
vicejam
e iluminam
caminhos
e refúgios
(nada mais é o jardim
além do refúgio onde me guardo
do dia mal intencionado
em barulhos e arrulhos).
(Pedro Du Bois, inédito)
o homem na janela
pergunta ao passante
sobre a origem
do destino
o passante olha o homem
na janela
mede a distância
altura
sofrimento
isolamento
responde de onde vem
e para onde pretende
ir naquela passagem
o homem na janela
sorri e agradece
a gentileza
o passante vira à esquerda
na primeira esquina
e sai de cena
(Pedro Du Bois, inédito)
arapuca
arataca
armadilha
gaiola
jaula
acela
quarto
casa
rua
esquina
bairro
distrito
cidade
região
país
fronteira
estrangeiro
gravidade
aonde
a liberdade
pelo lado de fora?
(Pedro Du Bois, inédito)