cheiro de chão pisado
carro de boi e gado
ponteio de viola
canto cansado
luar do sertão.
Revejo a terra: a marcação
cerrada complica o ataque
a velocidade
o corte
o drible
a capacidade de me fazer
ausente
e na frente
me apresentar
em características
distintas
revejo a terra pressionada no extremo
do desconhecimento: providências
tomadas além da espera
na frente reapareço
no encontro desmarcado
da tarefa por fazer.
(Pedro Du Bois, inédito)
Na hora
(cedo)
cedo
ao cansaço
recolho o corpo
à cama
olhos cedem
ao escuro: a mente
cede espaços:
sonho.
(Pedro Du Bois, inédito)
Mentalizo o sabor
refrescante do presente:
lanço o hálito
à frente
da batalha
torturo vítimas
enfraquecidas
enraizadas
desacostumadas
ao martírio
cada palavra é recebida
em homenagem
e ao futuro digo
verbos intransitivos.
(Pedro Du Bois, inédito)
*poema selecionado para o Livro Prêmio Alt Fest, patrocinado pela Fliporto.
No interior,
facilmente se encontra pés de amora
e debaixo deles se namora.
Quando criança, no caminho de volta da escola
gostoso era comer amora,
colher amora...
ajudar as meninas a trepar nos galhos mais altos,
segurá-las pelas mãos...
Colocar amoras (as mais suculentas)
em suas bocas,
e observar o doce suco da fruta
tingir-lhes os lábios.
Chegar em casa de roupas manchadas
e ouvir as queixas de mamãe:
"suco de amora não sai da roupa"
e da memória.
(Eryck Magalhães, Ecos e outros versos, 57)
No universo incompleto da sequência
o lance derradeiro
decisivo
e único na universalidade
da espera: espaço renovado
em desdobramentos e a bifurcação
multiplicada em angústia
se desvela em única
incoerência: a continuidade
perdura no que chamamos
tempo: antes do tempo
chamado além: sem início
e fim perduram farsas
indecifráveis dos haveres:
a completeza predispõe
o final da essência
de início não começado:
interlúdio e ofuscada
estrela em interestático
mundo das profundezas.
(Pedro Du Bois, inédito)
quero aprender a catar
sons semelhantes que
pousam diferentes nas
árvores das melodias fugidias.