PORTAS E VENTOS

Por Pedro Du Bois | 8/31/2009 10:37:00 PM em , , | comentários (0)

No andor
a imagem
cristalizada
da divindade

em barro
como fomos feitos
no início

o povo apático
segue a passagem
da imagem

em barro
como são feitos
os futuros.

(Pedro Du Bois, em PORTAS E VENTOS)

DESPERTAR

Por Pedro Du Bois | 8/28/2009 04:47:00 PM em , , | comentários (0)

Vejo o pássaro
preso ao espaço

vejo-me solto
dentro de casa

a campainha desperta
prendo-me ao pássaro

o espaço não me acolhe
ao barulho das campainhas
que despertam.

(PEDRO DU BOIS, em O ESPAÇO VAZIO)

Alguns dizem que o que move o artista é a inspiração, porém diferente de muitos, sei que ela não existe. Se existisse seria fácil demais criar algo, bastava esperar sua graça para que um artefato, uma pintura, uma escultura, ou até mesmo uma crônica surjisse. Caso contrário não seria culpa sua, a inspiração é que lhe faltou, mas não é bem assim. Segundo uma frase do iluminado inventor Thomas Edison: “A genialidade é 1% inspiração e 99% de transpiração".
Comecei a escrever meu texto sobre a descriminalização da maconha na Argentina, fiz umas 180 palavras, estava horrível, parecia redação de aluno primário, então a apaguei. Depois iniciei outra sobre algo que adoro e recorro sempre quando não tenho o que escrever: As curiosidades de nossa língua. Mas não saí do primeiro parágrafo, essa não apaguei, também não corrigi os erros, sem o termor do produto inacabado, aqui está:

Já reparou, caro leitor, que nossa língua não é lógica? Existem algumas coisas interessantes que não me tiram o sono, porém me colocam em profunda reflexão. Ao analisarmos algumas expressões cotidianas, exemplo: Sabor de pizza. Como alguma coisa pode ter sabor de pizza se a pizza é um alimento de diversos sabores? Alguns poderiam dizer que é o sabor da pizza original, ou seja, molho de tomates, queijo e orégano. No entanto se ligarmos para uma pizzaria e pedirmos uma pizza, a original, logo escutaremos um: de quê?

Assunto não me falta, poderia escrever sobre a Gripe Suína, a guerra das TVs, o Senado, ou muitas outras coisas, acontece que quero escrever algo não genial, mas diferente das informações das quais somos massacrados diariamente pelos meios de comunicação de massa, contudo pela inexistência da inspiração acabei transpirando para escrever sobre minha incapacidade de criar uma crônica.

O clima louco de São Paulo

Por Fabiano Fernandes Garcez | 8/26/2009 05:48:00 PM em , , | comentários (0)

Meu pai sempre disse que em São Paulo em um mesmo dia temos as quatro estações. Não é para tanto, mas em alguns dias devemos estar preparados para tudo, por exemplo: você deve sair de casa com uma blusa ou uma jaqueta, porém com uma camiseta leve por baixo, porque ao meio-dia vai estar um calor insuportável, lá para o final da tarde chove, por isso um guarda-chuva é importantíssimo e no início da noite esfria novamente.
Quando trabalhei em uma empresa eu ia quase todos os dias a um departamento público na Marginal Tietê, no meio da manhã, entrava no carro e deixava o terno no banco de trás, dez minutos depois, ao encontrar o trânsito e o sol, a gravata ia para o banco ao lado, arregaçava as calças até os joelhos, um pouco mais de sol e trânsito lá se iam os sapatos, depois as meias, a camisa que já estava aberta e suada nas costas ia para o banco traseiro, chegando ao local era só se vestir novamente e correr para uma sala com ar condicionado.
Às vezes o que mais me chama a atenção é a maneira bem peculiar de se vestir de alguns. Além de ver botas e chinelos caminhando juntas, pessoas de sobretudo lado a lado com outras de bermuda e camiseta, tudo no mesmo ambiente. Sem contar as combinações mais surpreendentes: camiseta sem mangas com cachecol ou touca de lã, bermuda e jaqueta e o novo acessório: óculos escuros, mesmo na chuva ou à noite.
O paulistano é tão caótico em sua vestimenta quanto o clima de sua cidade, já deve estar acostumado passar frio e calor em um só dia, por isso mesmo não deve se importar de estar ou não com a roupa adequada.

As faces do nosso INHO

Por Fabiano Fernandes Garcez | 8/26/2009 05:46:00 PM em , , | comentários (0)

Algumas coisas na língua portuguesa são realmente interessantes, e uma delas é o diminutivo. Usamos esse recurso para indicar que algo (um substantivo) é menor que o normal, porém com o sufixo a palavra fica maior para indicar o menor, por exemplo: para a palavra MENINO ao colocar o sufixo INHO que indicará um menino menor temos uma palavra maior MENINHO.
Existem outros sufixos, não são muito comuns é verdade, mas existem, veja só como ficam: Casa, Muro, Pedra, Rio, Cão, Corpo, Diabo, Flauta e Frango: Casebre, Mureta, Pedregulho, Riacho, Canito, Corpúsculo, Diabrete, Flautim e Frangote. Lembrando que alguns sufixos chegam a mudar a palavra original, você sabia que o diminutivo de Cão pode ser também Cachorro? Isso é uma questiúncula (para quem não sabe diminutivo de questão.
Às vezes, o diminutivo nos serve para indicar afeto também. Quem já não teve o prazer de ser convidado para conhecer o Irmãozinho de uma namorada, chegando lá o cara tem quase dois metros de altura e dois de largura? Ou como todos já alguma vez ouviram de bocas baianas o famoso Paiiiiinho ou a santa Mãeiiiinha. Também utilizamos o diminutivo para indicar ironia, como por exemplo, em um estádio de futebol que gritamos para o time adversário: Timinho, Timinho! Porém se você, leitor, um dia me disser: Leio suas croniquinhas, não saberei se o diminutivo foi empregado para indicar a ironia (você não gosta de minhas crônicas) ou o afeto (você gosta delas), aí então terei um probleminha.
Mas o que mais me fascina é quando usamos o diminutivo para indicar o aumentativo, é isso mesmo! Então me responda o que é mais quente: Um café quente ou um café quentinho? Ou melhor ainda, o que é mais gelado: Uma cerveja gelada ou uma cerveja geladinha?

Por que precisamos tanto de um rei?

Por Fabiano Fernandes Garcez | 8/26/2009 05:46:00 PM em , , | comentários (0)

Hoje em dia são poucos países cuja forma de governo é a monarquia, ainda mais por que nas monarquias que existem a figura do rei é apenas alegórica, então por que precisamos encontrar um rei para tudo? Será nosso passado ancestral falando mais alto? Será que não nos acostumamos viver sem uma figura central que nos represente, não só governamentalmente, mas em tudo: naquilo que somos, naquilo que gostamos...
Já perceberam quantos reis sem reinos que já ouvimos falar? O da moda é o Rei do Pop, mas ainda há o Rei do futebol, o Rei do basquetebol, os Reis do ie-ie-ie, o Rei do Rock, o Rei do Soul, o Rei Lagarto, ainda na música – só que na brasileira –, temos o Rei Roberto Carlos, o Rei do baião, Gilberto Gil, em Domingo no parque, criou o Rei da brincadeira e o Rei da confusão, entre outros reis que fizeram sucesso em músicas temos o Rei do Gado e o Rei do café. Isso sem contar outros títulos monárquicos como príncipes e rainhas, por exemplo, o Príncipe Ronnie Von e a Rainha dos baixinhos.
É comum algumas lojas se auto-entitularem reis naquilo que fazem, rei do algodão, rei das carnes, rei do preço baixo, rei disso, rei daquilo outro... O leitor pode de cabeça e sem pensar muito aumentar a lista de reis. Como em algumas expressões: o Rei da cocada-preta e o Rei dos reis.
O porquê dessa nossa necessidade de um rei, não sei, mas é um assunto interessante para um longo estudo, talvez isso se deva, realmente, a nossa busca por uma representatividade, coisa que a mídia adora, porque ela ganha muito dinheiro com isso. Enfim, rei morto, rei posto. Vida longa ao novo rei – seja ele quem for!

O poder da música

Por Fabiano Fernandes Garcez | 8/26/2009 05:44:00 PM em , , | comentários (0)

Com a recente morte do Astro Pop Michael Jackson, jornais e sites noticiam que as vendas de seus albúns aumentaram e muito. Seria isso apenas oportunismo? Acho que não, pois o poder da música em nossas vidas é muito grande, tão grande que agora a ciência tentar entender e explicar esse fenômeno.
Segundo os cientistas, o cérebro usa a música como um marcador da memória emocional, ou seja quando ouvimos uma determinada canção lembramos-nos de pessoas com quem convivemos ou de situações de que passamos. Um bom exemplo disso, foi quando assistindo ao jogo do Brasil vi a notícia da morte de Michael Jackson e na hora pensei em alguns parentes, que não vejo há muito tempo, em Minas Gerais, é que, quando eu era pequeno, cerca de oito ou nove anos, ia passar as férias em Pouso Alegre e lá minha prima que é um pouco mais velha que eu tinha um compacto de Michael e toda vez ouvíamos juntos. Meu cérebro associou Michael Jackson a Pouso Alegre, interessante né? Mas tudo isso é inconsciente.
A música também é usada para criar laços sociais, nossos ancestrais usavam cantavam em rituais de celebração, tristeza e guerra, até hoje é assim, usamos o poder do ritmo musical para formatar a sincronização, em estádios de futebol, bailes funk, carnaval, trio elétrico ou outros locais de aglomeração de gente. Ao cantar é criado uma unidade entre elas, é como se todas fossem uma coisa só, estivessem sob do mesmo sentimento.
Muitos compositores renomados usaram sua música para impelir ou engajar pessoas a uma causa, caso do próprio Michael ao encabeçar o projeto USA for Africa com a música We are the world.
Por enquanto o mais importante a saber que a memória musical é a nossa fonte da juventude.

O inútil útil

Por Fabiano Fernandes Garcez | 8/26/2009 05:43:00 PM em , , | comentários (0)

Há algumas coisas interessantes nesse nosso mundão, uma delas é o que caracterizamos útil ou inútil, prefiro a definição da segunda: (1 Que não é útil, que não tem préstimo (despesa inútil); DESNECESSÁRIO. 2 Infrutífero, estéril, vão (esforço inútil). 3 Que nada faz ou produz (diz-se de pessoa); IMPRESTÁVEL.) do Aulete digital.
Quando criança nunca fui um aluno brilhante, sempre fui, assim, seis ou sete, a matemática, química ou física, que me diziam ser útil, para mim, era inútil, mas sempre fui de ler bastante, principalmente, livros infanto-juvenis (aquela série Vaga-lume, até a minha época li todos, menos os que eram do Xisto que eu odiava) e romances policiais: Agatha Christie e Sir Arthur Conan Doyle (o autor de Sherlock Holmes), quadrinhos do Batman, Super-Homem, Homem Aranha e revistas sobre Ufos, tudo isso seria considerado inútil sob um manto de cultura clássica, se posso assim dizer.
Depois que cresci adquiri novos hábitos, como ler alta literatura e escutar boa música, à medida que minha biblioteca e minha discoteca, na época eram os Lp´s, iam crescendo, minha mãe falava que eu só gastava dinheiro com bobeiras, ou seja, coisas inúteis. Percebo que minhas raízes culturais foram fincadas ali, quando preciso de uma referência geralmente é de algo que tive contato nessa fase, lógico que isso não é regra, mas tenho certeza que se não tivesse lido o que li, escutado o que escutei não teria as ideias, as opiniões que tenho e, principalmente, não seria o que sou hoje.
Talvez ainda não saiba diferenciar o útil do inútil, mas sei o me que foi e é útil, foi e é considerado inútil para muitas pessoas e que hoje não troco o meu inútil e o meu útil por nada, ainda mais sabendo que o meu inútil é útil.

Por quê poesia não vende?

Por Fabiano Fernandes Garcez | 8/26/2009 05:42:00 PM em , , | comentários (1)

Estive conversando com uns amigos, conversamos muito, e não conseguimos chegar a uma conclusão/solução, ou melhor, nem chegamos, depois de desfazer a pergunta, ficamos estagnados no início: Poesia não vende, ponto.
Talvez seria porque poesia não é necessária, mas consumimos muitas coisas que também não são. Compramos badulaques, trecos, até camisas, calças, sapatos que nunca usamos. Vi em um programa de televisão uma figura que tinha mais de cento e cinquenta pares de sapatos, se ela usasse todo dia um, coisa que duvido, ficaria cinco meses desfilando de sapato diferente, será que isso é necessário? Assisti o programa e nem sabia porque, logo não era necessário, mas eu estava lá, em frente a tv, consumindo essa porcaria! E o pior que tenho prova em minha, mal dita, memória!
E por que diabos que essas pessoas não consomem poesia? Os grandes, Drummnond, Pessoa, Quintana, Bandeira, até eles, sofrem com as vendas pífias, agora os pequenos, os poetas contemporâneos, aqueles que encontramos no bar ou na rua, coitados, nem se fala.
Creio que a sociedade moderna tornou o homem tão egoísta, que ele não está disposto para ter uma nova perspectiva, uma nova visão sobre um tema e até mesmo uma dor de cotovelo que não seja a dele mesmo. Muita informação esse homem recebe, mas a poesia não é apenas informação, ela dá recados ao coração, à alma, a sensibilidade desse homem, que não está acostumado, ou até, nem saiba que existe nele um coração, uma alma e a sensibilidade, e pior ainda! Talvez nem exista mesmo, vai ver o homem moderno já venha sem esses itens de fábrica.
Como já disse o grande poeta Roberto Piva: A poesia entendida como "instrumento de Libertação Psicológica e Total, como a mais fascinante Orgia ao alcance do Homem"

Meu amigo Peixe Grande

Por Fabiano Fernandes Garcez | 8/26/2009 05:42:00 PM em , , | comentários (0)

Contar histórias é uma dádiva, mas nem todos sabem fazer isso, outros, por sua vez, fazem muito bem. Há aqueles, porém, que não só contam, mas também vivem suas histórias. A ortografia contribuiu com eles quando não mais diferenciou História – a ciência histórica, a disciplina que aprendemos na escola -, e Estória – narração fictícia, conto de origem oral e popular, fábula.
Tenho um amigo que é um fabulador nato, para uns um mentiroso de mão cheia, para outros um contador de histórias tão magnífico, que até ele chega a acreditar nelas. Seu nome? Não posso dizer, até mesmo porque se dissesse ele diria que é mentira. Chamamos ele de Edward Bloom, protagonista de Big Fish, quem assistiu a esse fabuloso filme saberá o que quero dizer, quem não assistiu, depois de ler esta crônica, vale a pena correr até uma locadora, uma das que ainda resistem firmemente, e dar uma conferida.
- (...) se ele contasse, ele apenas diria os fatos, não colocaria nenhum sabor... Essa fala de Ed Bloom resume bem o modo de enxergar a vida dele e desse meu amigo, - que talvez sejam o mesmo. Existem pessoas que gostam de retratar a vida por fatos reais, comprováveis, outros são grandes demais para a vidinha que levam, então preferem se referir a ela de forma impressionante. Não irreal, mas melhorada. Eles não mentem, não são caluniadores baratos, são poetas, criadores de novas realidades, dá mesma forma que os grandes escritores são. O objetivo é tornar suas histórias mais bonitas e atraentes para quem lê ou ouve.
Meu amigo vai a uma viagem inóspita, difícil, sei que lá ele viverá fatos terríveis, mas quando ele voltar, é certo que voltará bem, essas histórias se tornarão fantásticas, surreais, inacreditáveis e principalmente maravilhosas de se ouvir.

Você viu ou colocou poesia aqui?

Por Fabiano Fernandes Garcez | 8/26/2009 05:41:00 PM em , , | comentários (0)

Um grande amigo meu veio com uma provocação: O poeta vê poesia nas coisas ou põe poesia nas coisas que vê? Sei lá, respondi. Não sabia mesmo, mas resolvi refletir um pouco.
É impossível tentar definir poesia em apenas trezentas palavras, mas vamos lá. Primeiramente devemos separar poesia de poema. Poesia é o conteúdo, esse conteúdo pode conduzir a transcendência, beleza ou emoção, e poema é apenas o texto escrito em versos. Assim, o poema pode ter ou não poesia. Já a poesia pode estar presente em um poema, um filme, até mesmo em um entardecer, enfim, em tudo que, de certa forma, percebemos pelo sentimento, ou pela emoção.
Acho que o poeta enxerga poesia onde outras pessoas não veem, para ele é ver a poesia já existente, para os outros, quem sabe, seja colocar poesia onde não existia. Conheço alguns poetas que jamais escreveram um poema sequer, mas em conversas sempre aparecem com uma sacada legal, uma visão diferente sobre alguma coisa. Ver poesia, talvez, seja estar perceptível as belezas do mundo, das coisas, dos homens e das ideias. Há uma definição que gosto muito, cujo autor não me recordo, diz assim: Poesia é o olhar incomum sobre os homens comuns.
Um dia escutei os versos da canção Relicário de Nando Reis: (...) Sobe a lua porque longe vai?/Corre o dia tão vertical/ O horizonte anuncia com o seu vitral/ Que eu trocaria a eternidade por esta noite (...) Achei maravilhoso, já imaginou trocar a eternidade por uma noite apenas? E pior, saber que será só uma noite? Eufórico cantei para um amigo, ele disse: Nada a ver, né? Se foi o Nando Reis que colocou nesses versos, ou se só eu consegui ver, não sei, mas que há poesia ali, há!

Metáfora e Ironia

Por Fabiano Fernandes Garcez | 8/26/2009 05:39:00 PM em , , | comentários (0)

Você é um anjo! Você é um tesouro! Não leitor não é um diálogo de um casal de namorados apaixonados. São exemplos de metáforas, tá lá no dicionário: Figura de linguagem que consiste em estabelecer uma analogia de significados entre duas palavras ou expressões, empregando uma pela outra. (Aulete Digital).
Melhor do que saber o que é, é saber para que usamos, e olha que usamos muito..., utilizamos a metáfora para indicar uma comparação de alguma coisa, por exemplo: Você é um anjo! Quem diz isso, compara as qualidades do anjo: bondade, inocência, beleza, divinidade e etc a alguém. Os poetas usam em seus poemas a torto e direito para expressar o que querem dizer, dizendo outras coisas. Agora, quando dizemos: Você é um anjo! Com um tom de voz mais baixo ou mais pausada que o normal, querendo dizer o contrário disso, aí já é a ironia, outra figura de linguagem. Também a utilizamos muito no dia a dia, o pior é quase sempre ninguém entende.
Conheci um rapaz que não entedia metáfora e, muito menos, ironia. Era um inferno conversar com ele. Brincadeira então? E piadas? Já imaginou contar piadas a alguém que não consegue entender que o que é dito não é o que está sendo dito? Olha que o rapaz se dizia muito culto, era estudante de uma dessas universidades badaladas e tudo. Certa vez, falando sobre futebol, disse eu: É, o Corinthians dançou! Como assim dançou? Dançou o quê? Ele respondeu.
Tanto a metáfora como a ironia fazem da língua portuguesa, seja ela a culta ou a coloquial, uma das mais lindas e inventivas do mundo. Você não precisa saber o que é metáfora ou ironia para saber como alguém dança sem dançar e que esse rapaz devia ser muuuuito inteligente ...

A crônica

Por Fabiano Fernandes Garcez | 8/26/2009 05:33:00 PM em , , | comentários (0)

Para dizer o que é crônica, começo dizendo o que ela não é. Não é uma notícia, nem uma reportagem, apesar de estar presente na imprensa e às vezes retratar acontecimentos diários e quase sempre ser escrita por jornalistas, mas também não é literatura, mesmo existindo livros de crônicas e ser escrita por muitos poetas e romancistas.
Você deve estar se perguntando: “Mas que raio, então, é uma crônica?” É um texto curto que geralmente é publicado por um jornal, escrita com uma linguagem simples, linguagem de dia-de-semana, – já diria o famigerado do Guimarães Rosa -, vira e mexe aparece com uma pergunta ou simulação de diálogo com o leitor. O cronista, o cara que escreve a crônica, se inspira em acontecimentos diários, presentes ou não na imprensa, mas ao fazer isso dá a ela um toque pessoal, apresenta um tema sob seu ângulo de visão singular, de uma forma leve, descontraída, por vezes até com uma pitadinha de fantasia, criticismo, ironia e por aí vai.
No Brasil, existem e já existiram ótimos cronistas, como por exemplo: Ferreira Gullar, Luís Fernando Veríssimo, Arnaldo Jabor, Carlos Heitor Cony, Mário Prata que escrevem hoje em dia em grandes jornais, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Sergio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, Nelson Rodrigues, Raquel de Queiroz e outros tantos que já atravessaram o rio, - como o grande poeta Thiago de Mello se refere àqueles que já nos deixaram. A crônica, por seu caráter espontâneo e quase oral é um texto adorado pelos brasileiros.
Enfim, a crônica é isso, fazer com que o leitor leia e se informe sobre algo, sem perceber, como o amigo leitor que chegou até esse último parágrafo fez, leu e se informou sobre esse gênero textual prazeroso de se ler e mais ainda, de escrever.

A CASA DIVERSA

Por Pedro Du Bois | 8/25/2009 01:06:00 PM em , , | comentários (0)

Na invenção da casa
a família como se apresenta

música?

na desintegração da família
a invenção da casa
como guarida

não há música.

(Pedro Du Bois, em A CASA DIVERSA)

BIOGRAFIA NUMA NOITE

Por Poeta Clebber Bianchi | 8/24/2009 12:29:00 AM em | comentários (0)

BIOGRAFIA NUMA NOITE

Minha poesia, às vezes,
Parece que foge de mim
Sinto que não tenho nada a sentir, nada a dizer

Talvez a única coisa a fazer
Seja dançar um tango argentino
Mas nem isso teria sentido

A música francesa erudita tocando no rádio
Fortalece minha tendência à apatia
E meus sentidos continuam sem sentido, não me comove

Não sou espiritualista
Mas também não sou materialista
Sou o único carro na contramão da grande avenida, pois os que são espiritualistas são materialistas e vice-versa

Hoje pela manhã no ponto de ônibus
Nada me comoveu
Nem a fala cansada da pobre e triste senhora nordestina
Nem a face esfolada do homem embriagado pelas verdades da vida

Nada, nada me comove
A lua me observa na sacada sem traços ou expressão
O ruído dos carros não me incomoda,
De tempo em tempo, em busca de novos destinos, aviões cruzam o céu, mas também [não me incomodam

É noite. Poucas estrelas. Poucas palavras
Pássaros não cantam. É noite
Talvez o dia devesse chegar. Talvez o sol devesse apontar atrás do prédio da frente
Porque nesta noite, porque esta noite, nada, nada me comove

VISTA

Por Pedro Du Bois | 8/23/2009 04:00:00 PM em , , | comentários (0)

Vista limitada
estreita faixa
altos prédios

chamamos a isso
progresso.

(Pedro Du Bois, em POUCAS PALAVRAS)

Noite de Autógrafos

Por Fabiano Fernandes Garcez | 8/23/2009 09:37:00 AM em , , | comentários (0)

A Livraria Café e Cultura convida você para a Noite de Autógrafos, com o autor Fabiano Fernandes Garcez, que será realizada no dia 29/08/2009, às 19h, entrada franca.

Fabiano Fernandes Garcez é professor de língua portuguesa e literatura, estreou com o poema São Paulo na antologia São Paulo Quatrocentona que a Editora Litteris promoveu para homenagear a cidade na ocasião dos seus 450 anos.
Em Poesia se é que há, o tema central é a reinvenção do tempo através da ótica do poeta. A poesia social tem espaço e é cantada em ritmo forte, bem martelado, como em: Sempre em frente!, Quero o novo e A corda, e outras vezes de maneira mais branda e despojada como em: Dicotomia e Riqueza. A contemplação e a nostalgia aparecem ao lado da transcendência do banal em poemas mais líricos e com algum arrojo estético que retrata um eu-poético reflexivo e arrependido, como em: Fiz de você, Despejo e Almoço de domingo.
No livro nota-se a linguagem coloquial e oral, sem apelo ao escatológico ou à obscenidade, que o difere muito de outros poetas de sua geração.


Livraria Café & Cultura
Av. Dr. Renato de Andrade Maia, 765 –
Parque Renato Maia – Guarulhos – SP.
11 2229-0376

NÚMEROS RECONTADOS

Por Pedro Du Bois | 8/19/2009 11:59:00 PM em , , | comentários (0)

Vinte e tantos anos terá quando dirão

- fez-se o destino em papel de embrulho
ou papel de pão -

ser findo o dia da sua juventude
e a jornada futura, adulta
séria e formal em sua burocracia
dispensará o sorriso e a bondade

- feito o destino no que esquece
e oferece em pagamento -

ser o ocaso do dia, a última vista
toldada pelo sol ocidente
onde se esconde aos poucos
antes de assumir sua maioridade.

(Pedro Du Bois, em NÚMEROS RECONTADOS)

Linha vã

Por Simultaneidades | 8/19/2009 10:16:00 AM em | comentários (0)

Linha vã
Andréa Motta


Singra o olhar nas vagas
Incertas do sonho.
Cede à brisa
A vertigem do poema

Uma andorinha voa
No céu da boca.
Cede à tempestade
O imaginário do verso

Fragmentado,
Não é incapaz
De alimentar a palavra
Que se faz rito

SONHAR

Por Pedro Du Bois | 8/17/2009 08:54:00 PM em , , | comentários (0)

O atleta
movimenta suas pernas
enquanto dorme.

Gol dos sonhos.

(Pedro Du Bois, em O MOVIMENTO DAS PALAVRAS)

ENQUANTO A ÚLTIMA LÁGRIMA CAI

Por Poeta Clebber Bianchi | 8/17/2009 07:43:00 PM em | comentários (1)


ENQUANTO A ÚLTIMA LÁGRIMA CAI.


Há pouco, em seu leito de morte, uma senhora deixou escapar do canto olhos aquela que seria sua última lágrima, não sei se de dor ou de alívio. Nunca saberei se ela tinha consciência de que aquela seria sua última lágrima.
Antes de ir, proferiu, enquanto sua última lágrima caía, suas últimas palavras:
_ Nunca pensei que o calor do sol na minha pele fosse me fazer tanta falta! Por tanto, se agora é dia, vá para fora, feche os olhos diante do sol e sinta o bem que seu calor faz. Se chove, somente mais uma vez tome um banho de chuva e sinta o pingo frio refrescar seu rosto, verá o bem que isso faz. No meio do dia, durante o expediente, pare e sinta a leveza do vento balançar seus cabelos enquanto resseca seus olhos e arrepia os pelinhos do braço, procure não ouvir nada nem ninguém, sinta o vento e observe-o balançar as folhas da árvore na esquina. Se é noite, vá à janela, à sacada, ao quintal, relaxe, feche os olhos e tente ouvir todos os ruídos que existem em volta de você, como o mundo se movimenta ao redor, isso o fará relembrar fatos, entender atos, e tomar atitudes. Faça sempre algo que gosta pela última vez, assim fará esse algo valer a pena como se fosse pela última vez, mas faça sempre. Não seja materialista demais, mas não desperdice seu dinheiro, pois vai precisar dele. Não seja religioso demais, seja solidário, ame o próximo como a ti mesmo, perdoe seus inimigos, mas não seja religioso demais, senão vai carregar o peso de pecados que ainda nem cometeu, e tenha fé, você vai precisar dela. Não descarregue nos outros seus problemas, angústias ou tristezas, esses outros não são depósitos de lixo. A sua fonte de energia está dentro de você.
Aquela senhora parou na primeira frase enquanto ainda falava do sol. O resto vivi aos poucos, depois que, de olhos fechados, senti por algumas vezes o calor do sol.
Agora, aos trinta anos, em meu leito de morte, entendo esta última lágrima que cai, eu a deixo escapar como se fosse a última, a última lágrima que cai.
Nunca fui muito sentimental, mas também nunca tive a frieza dos nórdicos, se bem, que nem sei se os nórdicos são frios, enfim, a realidade é que à beira da morte a gente escreve até autoajuda, além disso, Deus existe mesmo .

TÂNIA

Por Pedro Du Bois | 8/16/2009 09:38:00 PM em , , | comentários (0)

A mão toca
levemente
a base do rosto
reflete tua paz
interior

reflete
tua inquietude
interior

plácido olhar
distendidos músculos
em sorrisos

sofre da vida
tuas vicessitudes e ironias

as mãos em teu rosto
e o mês de agosto
chegando ao fim.

(Pedro Du Bois, em LIVRO DA TÂNIA)

NÍVEL

Por Pedro Du Bois | 8/15/2009 09:22:00 PM em , , | comentários (0)

II

O passado serpenteado
desliza o corpo
sobre o corpo

no atravessado esforço
da jornada

com os olhos abertos
ouvidos atentos

as mãos
entrelaçadas

a serpente é a luxúria
do acaso.

(Pedro Du Bois, em A CONFIGURAÇÃO DO ACASO, fragmento)

BIOGRAFIA NUMA NOITE

Por Poeta Clebber Bianchi | 8/15/2009 01:21:00 AM em | comentários (0)





BIOGRAFIA NUMA NOITE

Minha poesia, às vezes,
Parece que foge de mim
Sinto que não tenho nada a sentir, nada a dizer

Talvez a única coisa a fazer
Seja dançar um tango argentino
Mas nem isso teria sentido

A música francesa erudita tocando no rádio
Fortalece minha tendência à apatia
E meus sentidos continuam sem sentido, não me comovem

Não sou espiritualista
Mas também não sou materialista
Sou o único carro na contramão da grande avenida

Hoje pela manhã no ponto de ônibus
Nada me comoveu
Nem a fala cansada da pobre e triste senhora nordestina
Nem a face esfolada do homem embriagado pelas verdades da vida

Nada, nada me comove
A lua me observa na sacada sem traços ou expressão
O ruído dos carros não me incomoda,
De tempo em tempo, em busca de novos destinos, aviões cruzam o céu, mas também [não me incomodam

É noite. Poucas estrelas. Poucas palavras
Pássaros não cantam. É noite
Talvez o dia devesse chegar. Talvez o sol devesse apontar atrás do prédio da frente
Porque nesta noite, porque esta noite, nada, nada me comove

A MORTE INSANA

Por Pedro Du Bois | 8/14/2009 10:14:00 PM em , , | comentários (0)

Eu
meus soldados
meus obreiros
meus servos

eu
minha força
minha obra
minha autoridade

eu
minha luta
minha graça
minha carcaça

eu
meu luto
minha ruína
minha desgraça.

(Pedro Du Bois, em A AUSÊNCIA INCONSENTIDA)

de sol a cio

Por valéria tarelho | 8/14/2009 05:15:00 PM em , , | comentários (0)

amo você
pelo avesso
e [confesso]
pelo verso:
o torto
e reto
afora
adentro

amo você
a quilo
a metro
a quilômetros
e perto
s e p a r a d o
bemjuntodopeito

amo você
água & vento
de fato
de feito
mundo & átomo
fogo-fátuo
astro

por você:
léu & cardo
chuva & chama
brando & árduo

eu ardo


valéria tarelho

*de sol a cio, é o nome da encenação de meus poemas dentro do projeto Poeta em Cena, que estreia no próximo dia 29, às 20hs, na Casa das Rosas-SP, data e local em que também estarei lançando o livro "Sol a Cio".

quem estiver por Sampa nessa data, apareça!

RETRATOS

Por Pedro Du Bois | 8/13/2009 09:06:00 PM em , , | comentários (0)

Retenho
imagens

fotografias
memorizadas

instantâneos

como lembro
quem devia
estar comigo

(não como somos)

na imagem retida
onde o tempo eterniza
nossas vontades.

(Pedro Du Bois, em RETRATOS)

HOSPEDAGEM

Por Pedro Du Bois | 8/12/2009 08:56:00 PM em , , | comentários (0)

A frieza do ar condicionado
na neutralidade das cores
e luzes indiretas

impessoal

a cadeira que não é sua
o travesseiro que não é seu
o barulho da geladeira

impessoal

o som do sexo no quarto ao lado
a solidão no roupeiro vazio
a mala pronta para a saída

de pessoal
o fio de cabelo
sujando a pia.

(Pedro Du Bois, em JOGO DO NADA)

AQUELES

Por Pedro Du Bois | 8/11/2009 08:29:00 PM em , , | comentários (0)

Aqueles dizem sobre a inteligência
e dos corpos não encontrados
no campo fumegante das ideias
onde travadas as batalhas
em significados e contidas raivas

aqueles dizem sobre a paixão
e a barca que conduz os amantes
entre margens retilíneas
onde corpos podem extravasar
significados e incontidos arroubos

aqueles dizem sobre o esquecimento
e dos livros escritos em palavras
depositadas em ermos de passagens
onde mentes em conflito de trabalhos
admitem razões, bobagens e o vazio.

(Pedro Du Bois, em O LIVRO FECHADO)

CALAR

Por Pedro Du Bois | 8/10/2009 09:19:00 PM em , , | comentários (0)

O pior é entender
o que está sendo dito.
Ser refém do entendimento.
Encarcerar a palavra ao sofrimento
e a manter até a sentença.

O pior é recorrer
da palavra
e se socorrer
em silêncio.

(Pedro Du Bois, em ALGUMAS PALAVRAS)

CORDILHEIRA

Por Pedro Du Bois | 8/09/2009 08:09:00 PM em , , | comentários (0)

A cordilheira assusta:
brancos picos de primeiras neves
antecipam o inverno e o frio

a cordilheira assusta:
brancos picos de águas congeladas
antecipam o inverno e o frio

a cordilheira assusta:
a tristeza do povo antecipada
ao inverno de novas gerações.

(Pedro Du Bois, em CASAS EM PEDRAS, Chile, 5)

A MÃO QUE ESCREVE

Por Pedro Du Bois | 8/08/2009 09:49:00 PM em , , | comentários (0)

VII

O que no papel registro
como história: estória
mal contada em vitórias
não acontecidas (não
digo dos meus fracassos)

atrás da porta escuto
o som interior
contra a parede

mistério incorporado
ao que não digo.

(Pedro Du Bois, em A MÃO QUE ESCREVE)

CICLOS

Por Pedro Du Bois | 8/07/2009 10:00:00 PM em , , | comentários (0)

O triste sorriso com que se despede.
É quem fica, em lágrimas

planos feitos aos poucos,
pedras, sonhos, matemática desfeita,
contas irresolúveis, sina e vento,
profética brisa levantando a ponta
da roupa: histórias mal contadas
...

(Pedro Du Bois, em POETAS em OBRAS, Vol. XI, fragmento)

É engraçado como o passado retorna travestido de fantasmas. Os móveis já foram cobertos por lençóis brancos; os retratos das paredes, embalados e colocados em caixas de sapatos; os rastros de vida e cor, que habitavam os cantos dos cômodos e que tomam a forma de polaroides diárias, encerrados em estantes empoeiradas na garagem. E, ainda assim, pesadelos ainda geram as assombrações que me perseguem no calor do sol. É caso de estudo quando estas assombrações insistem em não serem enterradas (de bruços!) ou cremadas. Em namoros, por exemplo, enquanto um dos dois possui algo que é do outro, já é o suficiente para a ex-morta ressuscitar muito mais viva e latente do que um bebê (isso também serve para o sexo masculino). E isso fica mais incrível ainda, quando a ex-morta-viva tem não somente a pretensão de ser eterna, mas, ao mesmo tempo, de ser atual, aterrorizando os sonhos do ex-companheiro. As noites passam a ser longas e os dias, mais longos ainda. Os ponteiros dos relógios, nessa hora, parecem odiar o infeliz que foi “chutado” pela ex-namorada. Quando os pombinhos estavam juntos, os ponteiros também não eram bem vistos, mas é porque não damos a devida atenção a eles, pois temos coisas mais interessantes a fazer do que contar os segundos para a partida.
No entanto, em alguns relacionamentos que não acabam em funerais, shownerais ou circonerais, os cônjuges tornam-se, entre si, verdadeiros aliados; autênticos braços direito e de ferro do companheiro. Chegam a fazer até trabalhos e relatórios de faculdades, cursos ou qualquer outro estudo específico. E é tudo pelo bem da união e do amor. Minha mãe é um exemplo disso. Enquanto meu pai ralava e vendia o suor em troca de uma boa situação para a família, era ela quem fazia os trabalhos de faculdade para ele. Mas quem pegou o canudo foi meu pai. Contudo, para mim, o mérito é dos dois. Devia vir anexado no diploma dele, um outro, com os seguintes dizeres: Diploma de Honra e Mérito à senhora sua esposa, pois ela acaba de se formar, também, no nível superior.
A verdade é que todo esse companheirismo foi apagado como uma lavagem cerebral em nossa sociedade moderna. Somos egocêntricos. Egoístas. Contamos as nuvens com um pensamento que martela nosso interior: não preciso da ajuda de ninguém. Somos narcisistas. Mas, a culpa não é somente do indivíduo ou nossa. Todos os dias somos bombardeados com um mar de informações, modismos, comportamentos e entre tantas outras coisas. E chegamos a nos afundar em um mar tão sobrecarregado. Atualmente, é muito mais fácil um dos cônjuges “pagar” para ter o trabalho de faculdade pronto, do que pedir delicadamente e com carinho ao companheiro uma pequena ajuda, fortalecendo, assim, a relação. Desaprendemos a criar laços. Ganhamos a internet, a aviação e, até mesmo, a possibilidade de viver por cem anos, mas perdemos a afetividade entre nós. Transformamo-nos em um daqueles brinquedos de plástico, que ainda lembro de meu pai comprar, para me presentear no dia das crianças. Transformamo-nos em seres descartáveis. Por essa razão, as relações modernas do século XXI são como as pegadas e os recados românticos deixados na areia de uma praia qualquer, pois a próxima onda sempre leva, sempre apaga, seja maremoto ou calmaria, e deixando somente uma sombra, um fantasma que tem a pretensão de ser eterno.


(Adams Almeida Lopes, 07 de agosto de 2009)

a ÁRVORE pela RAIZ

Por Pedro Du Bois | 8/06/2009 11:31:00 PM em , , | comentários (0)

11 O azar condensado no serrar
da lâmina: corpo separado
à raiz do que resta, o toco
sente o corpo em descanso
no que rebrota
ou resseca: tronco remetido
em lâminas ao descaso.

(Pedro Du Bois, em A ÁRVORE PELA RAIZ, fragmento)

poemas musicados

Por valéria tarelho | 8/05/2009 10:41:00 AM em , , , | comentários (0)

azo
[a ana c., ave]


o pássaro
pousa
passivo
na pauta
do poente
pausa
em compasso
de espera
passa tempo
tempo passa
pensa
pondera
ousa
e abre
as asas
rumo
ao sol
no fim
do túnel


oz não é aqui


o tédio
[ tema batido ]
de todo dia

a taquicardia
[ velha amiga ]
do peito tísico

o trauma
[ antiga trama ]
dos medos de tranças

o tempo
[ a toque de valsa ]
tricotando detritos

sorrir para o sol
que sai de assalto
e entra em cartaz
:
truque [ frustrado ]
de aprendiz

[ tornado
possível
é só
um invento
over
the rainbow
]


**os poemas acima foram musicados por Rogerinho Borges (ES) e participam do Festival L’Espirito Poitou, que acontece de 20 a 24 de agosto, em Celles sur Belle, na França.

RAZÕES

Por Pedro Du Bois | 8/04/2009 10:36:00 PM em , , | comentários (0)

III
razões para dizer obrigado
olhar para trás e ver
a ilusão da imagem:
sopros dos mares
doces perfumes no ar

que razões lhe trouxeram?

razões para se sentir cansado
espiando o futuro
em tradições desmoronadas
de lições desaprendidas
dos mortos enfumaçados

que razões irão lhe levar?

(Pedro Du Bois, em COMPORTADAS RAZÕES)

DOS AMORES

Por Pedro Du Bois | 8/03/2009 09:28:00 PM em , , | comentários (0)

18
Identificar
pelo perfume
que tu acabaste
de chegar

sentir
o coração bater
forte
e rápido

acelerar o passo
e buscar sôfrego
a chave da entrada.

(Pedro Du Bois, em DOS AMORES)

Micronarrativa

Por Cláudio Costa | 8/02/2009 09:52:00 PM em , , | comentários (0)

PUTEIRO CELESTIAL
A cada noite ela ia ao oratório e pegava um santo. Morreu quando se deitou com São Jorge.
KAFKAFÓBICO
Gregor acorda sem pinto. Depois nasceram as asas coloridas. Antes da mãe o chamar...ele voa pela janela.

A SENSAÇÃO DO NOME

Por Pedro Du Bois | 8/02/2009 08:40:00 PM em , , | comentários (0)

7 O nome é a véspera
da adoração da palavra
adotada à letra. Conjunto
significativo referenciado
além da compreensão.
O imprevisto: corte diagonal
do nome anterior recomposto
ao recorte adicional do nome
na perda do significado.

(Pedro Du Bois, em A PALAVRA DO NOME, fragmento)


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