Entranhas

Por Eryck Magalhães | 12/29/2012 02:23:00 AM em | comentários (0)


       Pariu. Lindo bebê cheirando a sangue fresco, perfeito em todas as suas partes, a vida em sua plenitude.  Para ela, o lindo bebê era apenas a extensão de um  falo sem nome que, contra a sua vontade, penetrou-a com ímpetos de violência em uma noite sem lua, sem estrelas e sem amor.
Olhava para a criança mas não via criança, via apenas uma bola de fogo, a mesma que sentiu sair de dentro de si. O que restava do falo, finalmente fora do seu corpo. Deixou-o ali, no mato. Houvesse anjo da guarda, a história teria um final feliz.

CAMINHOS

Por Pedro Du Bois | 12/28/2012 08:22:00 PM em | comentários (0)

Abro caminho
(no descaminho aconteço
 antes que a noite
                   caia)

quedas reescrevem
trajetórias: o caminho
aberto significa

           estar aqui
                  agora

(acredito na trajetória
 e me distraio em paisagens).

(Pedro Du Bois, inédito)

BATTI

Por Pedro Du Bois | 12/21/2012 03:19:00 PM em | comentários (0)

iv
Da beleza
de que fala
o artista: esboça
               desenha
              traça
             recorta
              esculpe
     dá polimento
     à pedra.

(a mulher no detalhe
 visto pelo artista: o olho
                           treinado
                           enxerga)

Presentes
concordamos: não
se questiona o mistério.

(Pedro Du Bois, sobre João Bez Batti)

OFÍCIO

Por Pedro Du Bois | 12/14/2012 08:34:00 AM em | comentários (0)

Tenho por ofício
                  ofídio: a marca da serpente
                  reconduz o ofício
                  ao fim - primeiro

retenho do ofício a finalidade
e a mantenho ativa: escuto
o sibilar no adormecimento
                   entorpecimento
                   cansaço

a víbora disposta ao sacrifício
embota o mistério: no ofício
acolhe o fim - último.

(Pedro Du Bois, inédito)

RELANÇAMENTO DO LIVRO ROUPAGEM LEVE-DO POETA NESTOR LAMPROS

Por Nestor Lampros | 12/10/2012 12:23:00 AM em | comentários (0)




O novo livro de poemas do poeta e artista plástico, Nestor Lampros, Roupagem Leve, será relançado em Atibaia, dia 15 de dezembro de 2012(sábado), no Centro de Convenções, Victor Brecheret, às 16:00H. Tem o projeto gráfico do designer, Vinicius Berton.

O Roupagem Leve tem cinco secções, cada uma compondo um universo particular é nitidamente influenciado pela cidade de Atibaia e por poetas caros ao poeta Lampros, como C.Drummond de Andrade, Ferreira Gullar,   Murilo Mendes e Haroldo de Campos;  além de figuras notórias da literatura universal, como Kafka, Paul Cellan, Rilke, os escritores Surrealistas, entre outros.

É preciso dizer que o autor é artista plástico, por isso de uma imagética fundada em imagens de quadros e pintores relacionados aos estilos por Lampros. As ilustrações do miolo são do autor.

-Esperamos os amigos do Vale em Versos no lançamento do livro Roupagem Leve!
Até lá!


De coração partido

Por Eryck Magalhães | 12/08/2012 05:28:00 PM em | comentários (0)


             Despetalava a flor em busca de um bem-me-quer. Sua dor só não era maior do que a da própria flor que tinha, uma a uma, as pétalas arrancadas.

PÁSSARO

Por Pedro Du Bois | 12/07/2012 11:22:00 AM em | comentários (0)

Entre galhos
diviso o pássaro

que me olha
em irreconhecível
gesto: grita
suas penas
e voa
ao outro galho

preso ao chão
observo no voo
a leveza do corpo

no grito
o reconhecimento:

não me olha
indizível ser
preso ao contato.

(Pedro Du Bois, inédito)

forma

Por JURA | 12/03/2012 10:34:00 AM em | comentários (0)


uma nova forma de viver
uma nova forma de achar as coisas
de achar as pessoas
e de se achar.

uma nova forma de fazer
uma nova forma de estar as coisas
de estar as pessoas
e de se estar.

uma nova forma de ser
uma nova forma de olhar as coisas
de olhar as pessoas
e de se olhar.

DIVERSIDADE

Por Pedro Du Bois | 11/27/2012 02:34:00 PM em | comentários (0)

Feitos na indelicadeza do gesto
em razões de desencontros

aceno ao espaço
não preenchido
das promessas

a água morro abaixo
leva terra
            galhos
                folhas

     (a sujeira indelével)

na diversidade guardo
o meio dia
         a tarde sucessiva
         na maneira carinhosa
         com que me despeço

a terra acomodada em novas camadas
esconde a passagem anterior dos passos.

(Pedro Du Bois, inédito)

LAGOS

Por Pedro Du Bois | 11/23/2012 02:56:00 PM em | comentários (0)

A água do lago
entre árvores não reflete
o ocaso do lodo
ao fundo

- imprime no pingo da chuva
o centro concêntrico
da queda -

o pássaro entre árvores
trina em meus ouvidos

(a voz da criança no apartamento
 grita a sucessiva contade
 da liberdade)

a chuva altera a superfície
e o lago calado em trinados
e gritos
   afoga a profundeza.

(Pedro Du Bois, inédito)

À memória de Saramago

Por Eryck Magalhães | 11/17/2012 10:39:00 AM em | comentários (0)


Entre longos períodos invertidos
digressões e pontos perdidos
vozes que teimam em não se calar
em um emaranhado labirinto linguístico

Até o momento 
em que a luz se acende
o pensamento ascende
e tudo faz sentido

Saramago, o amargo é doce
e contemplativo.

OFERTAS

Por Pedro Du Bois | 11/15/2012 11:54:00 AM em | comentários (0)

Oferto e o deus a rejeita
e a devolve: quer o sacrifício futuro
embutido em apagadas frases
desenhadas em portas
de garagens

tenho outra maneira
sincera para as ofertas: a surpresa
                                     como me ofereço
                                     em vida consumida
                                     ao nada.

(Pedro Du Bois, inédito)

VERBALIZAR

Por Pedro Du Bois | 11/05/2012 10:15:00 PM em | comentários (0)

Fica no consumir da hora:
o crepúsculo oculta o dia
o reverso ensandece a morte
e refaz o líquido enregelado.

Cultiva a terra em secas
debate a estrada em trechos
impede a revoada dos pássaros
               por onde atravessa.

Acolhe a luz em raios
aguarda a escuridão em ondas
imaginárias de mares em movimento.

Coleciona o valor do brilho
no desdizer da farsa
no engalanar a festa
com que o tempo se alimenta.

Reconhece no canto a trava
realinha a família na crise
e no debate com que se avivam
memórias de sobrevivências.

(Pedro Du Bois, inédito)

O objeto livro

Por Eryck Magalhães | 11/03/2012 10:58:00 PM em | comentários (1)


Pequeno retângulo
que se abre feito porta
e nos transporta.

MÍMICA

Por Pedro Du Bois | 10/30/2012 04:07:00 PM em | comentários (1)

No discurso do profeta
apregoado eletronicamente

     determino a pena
                       justa
                 ajustada
do que deve purgar
na vida

desligo o som
e me divirto
         com sua mímica.

(Pedro Du Bois, inédito)

Canto Kaiowá

Por Unknown | 10/29/2012 10:57:00 PM em | comentários (0)



(para os índios Guarani-Kaiowá)


Meu bumbo a ressoar
Minha terra a clamar
Minha gente a chamar
É a hora de lutar

É a guerra pela paz
Da luta os ancestrais
Guarani-Kaiowá
É a morte ou só matar

Eu vejo nossa terra
De tempos deflorada
Somente deflagrada
E abraço nossa guerra

Da luta os ancestrais
Guarani-Kaiowá
Meu canto pela paz
No Brasil vai ecoar




Adams Alpes
São José dos Campos, outubro, 2012

Urgência

Por Eryck Magalhães | 10/26/2012 10:27:00 PM em | comentários (0)



Quando sentires no peito
amor por alguém,
e junto com esse sentimento
o desejo de expressá-lo,
seja através de gestos
ou palavras,
não hesites
não deixes
que qualquer outro sentimento reles
iniba a manifestação do amor.

Aquele a quem amas
merece ouvir de tua boca
a frase das frases:
"eu te amo",
pois é a existência desta pessoa
que fez nascer em ti
o nobre sentimento.

Não sejas egoísta,
ao ponto de guardar o amor
só para ti,
deixa-o transbordar,
inundar o outro
não deixes para amanhã de manhã
não deixes para depois,
pois o amor é o instante
e tu, uma ínfima fagulha
da fogueira do universo
que o menor dos sopros
pode apagar.

Onde o vento faz a curva

Por Eryck Magalhães | 10/25/2012 11:51:00 AM em | comentários (0)


      Vento que se preze não passava por ela sem se render as suas sinuosas curvas.

Pessoas

Por Eryck Magalhães | 10/21/2012 01:37:00 AM em | comentários (0)


São como objetos distantes
em movimento

nunca se sabe
se elas vem em nossa direção,
ou não.

BREVE APONTAMENTO SOBRE O (MEU) EQUILÍBRIO

Por Pedro Du Bois | 10/19/2012 10:11:00 AM em | comentários (0)

Trabalho como alpinista. Desdobro
penhascos e me faço tempestade
e neve. Complico escaladas
e despenco abismos. Sou república
e reinado: rei e vassalo. Plebeu
ensinado nos riscos da planície.

Escuto o instante abordável
das vozes ecoando pedras.

(Pedro Du Bois, BREVIDADES, 31; Editora Projeto Passo Fundo, 2012)

Puxando o gatilho

Por Eryck Magalhães | 10/12/2012 03:35:00 PM em | comentários (1)

       
            Deu um tiro na cabeça. A presença e a onisciência de Deus levaram-no a cometer o ato atroz. Queria estar plenamente a sós.

VISÕES

Por Pedro Du Bois | 10/05/2012 01:48:00 PM em | comentários (0)

Pela lateral
espio além

      não adianto minha visão
      ao desconhecer

na lateralidade
adianto a visão
             ao centro

(espaços esvaziados
 são permitidos ao centro).

(Pedro Du Bois, inédito)

Abandono

Por Eryck Magalhães | 10/03/2012 11:51:00 AM em | comentários (0)

     Eu me abandonei ali, naquele momento.

PODER

Por Pedro Du Bois | 9/28/2012 11:41:00 AM em | comentários (0)

Não posso fazer nada
não faço nada
nada
enquanto da morte
não retornar o corpo
decomposto
e recomposto:

       recuperar os olhos e olhar
       recuperar o tato e tatear
       recuperar o olfato e cheirar
       recuperar a fala e dizer
                       sobre onde esteve
                       o tempo desnecessário
                       da sua morte

então poderei recuperar o gosto
e gostar.

(Pedro Du Bois, inédito)

BARCOS

Por Pedro Du Bois | 9/20/2012 07:58:00 PM em | comentários (1)

A folha arrancada do caderno
se destina ao barco
na água da sarjeta

pode ser maior o barco
e levar o corpo
a encalhar na sujeira
do meio-fio

o barco completa a viagem
na interrupção da jornada

desembarco e no caderno
escrevo as impressões
             do trajeto.

(Pedro Du Bois, inédito)

JOGAR

Por Pedro Du Bois | 9/14/2012 10:46:00 PM em | comentários (0)

Aguarda o resultado

seus deuses absortos
deixam passar a oportunidade

adquire outro bilhete
             novo tíquete
                      cartela

a ideia do sofrimento
e abandono o consola.

(Pedro Du Bois, inédito)

encanto

Por JURA | 9/10/2012 09:12:00 AM em | comentários (0)

como quebrar um verso
duro, como tirar
dele o que flui.
como tratar a
palavra obscura
fazer dela o que surge.

INSTRUMENTO

Por Pedro Du Bois | 9/06/2012 01:52:00 PM em | comentários (1)

Penso o instrumento
e o empunho
em sonhos

(retiro o limo
 do azedo cortejo
 e o adocicado
 dos cometas)

o sonho permite a interação
dos escombros

o instrumento reforça
em posicionamentos
o toque dos acordes

acordo ciente do descaso
com que minha voz
despreza o canto
no acompanhamento
do instrumento.

(Pedro Du Bois, inédito)

Puta feita

Por Eryck Magalhães | 9/02/2012 08:49:00 PM em | comentários (3)



Não precisava daquele corpo. Nunca precisou. Aliás, ele só havia lhe trazido problemas. Para que tantas curvas? Atraía sem saber. Primeiro foi o pai que lhe observava pelo buraco da fechadura durante o banho e, de noite, fazia sempre questão de lhe por para dormir. O beijo de boa noite nunca vinha sozinho. Depois, quando trabalhou em casa de família, foi a vez do marido da patroa. Dava sempre um jeitinho de chegar em casa um pouco mais cedo, dizia coisas e a comia com os olhos. Quando chovia, oferecia-se para levá-la em casa de carro. Ela precisava do emprego, o pai, doente, não podia mais trabalhar. Contudo seus pensamentos eram o oposto de seu corpo, neles não havia curvas. De quem a culpa? Da natureza? De Deus? Queria ser virtuosa, mas suas virtudes se desfaleciam em suas carnes. Não adiantava vestir roupas largas, qualquer vestimenta lhe destacava as formas. Entregou os pontos. Perdeu para sua própria carne, porque a carne predomina, a carne não é fraca, a carne é forte.

PREVISÃO

Por Pedro Du Bois | 8/31/2012 01:02:00 PM em | comentários (0)

Um dia terminarei
tudo isso

olhos baixos
mãos sobre o corpo
pés inquietos

o dia se fará vazio
e o corpo cessará
os movimentos

tudo isso
    fará sentido.

(Pedro Du Bois, inédito)

ida

Por JURA | 8/24/2012 10:30:00 PM em | comentários (0)

minha dor é fingida
poesia tingida
dessa cor.

MEDOS

Por Pedro Du Bois | 8/23/2012 07:13:00 PM em | comentários (0)

Tenho medos coniventes
com minha idade e os defendo
em linhas imaginárias

lembranças
saudades
autoridade

a mesquinhez cerca o instante
e faz mais uma baixa

acrescento outro medo:
          mantenho a idade.

(Pedro Du Bois, inédito)

No jardim do Éden

Por Eryck Magalhães | 8/21/2012 12:24:00 PM em | comentários (1)


              Adão havia comido todas as maçãs. Olhou para a Eva. Em seu rosto, duas maçãs. Comeu-as.

PEGADAS

Por Pedro Du Bois | 8/17/2012 10:03:00 AM em | comentários (0)

Fossem as pegadas
bípedes
deixadas em terras
ressecadas

(voltar ao ponto
 onde se perde
 o contato e perguntar
 ao tempo: o trajeto
 decomposto desorienta
 o retrocesso)

os passos apagam
a estrada e a transformam
na fuga inerente

bípedes espalhados
se  reencontram
em terras diferentes.

(Pedro Du Bois, inédito)

lirismo

Por JURA | 8/16/2012 10:09:00 AM em | comentários (0)


Me emocionou saber que leciono para um filho de um velho amigo de escola.
Fiquei às lágrimas quando voltei a casa e 
já não encontrei alegre o velho hermano branco
Encontrei-o calado ao pé da porta, só descansando.
Tanto vazio, tanto silêncio ao chegar.
Acho que estou  velho, acho que é emoção madura, ou senil.
Pra ficar lírico, vou fechar dizendo que é emoção de poeta.

Todo poema

Por Eryck Magalhães | 8/14/2012 11:27:00 PM em | comentários (1)



Todo poema
deveria ser escrito de vermelho
para saltar aos olhos dos que lêem.

Vermelho, mas não de sangue
vermelho apenas.

Poema é desabafo
aquilo que dentro do poeta não cabe mais
não é lamúria, sussurro ou suspiro,
é grito estertoroso de suicida
o leite que fervendo escorre leiteira afora
atingindo a chama
se juntando a ela
mas não a apaga
a alimenta.

Poema é ponta de faca furando barriga
o primeiro raio de sol que rasga a vista
dói, dói, incomoda
mas é sublime.

Por JURA | 8/14/2012 06:58:00 PM em | comentários (0)


Amarelo Ipê
e sangue de suinã
Agosto já em flor.

PODER

Por Pedro Du Bois | 8/09/2012 12:58:00 PM em | comentários (0)

Aguarda a oportunidade
(o oportunista se guarda
 em tempos)

e se faz notar
pela chegada
(o oportunista se faz notar)

amistosa
(o oportunista sorri a sua chegada)

pode não se apresentar
passando pela rua
e nem chegar até a porta
(o portunista não se acompanha
 em seu trajeto).

(Pedro Du Bois, inédito)

UTILIDADE

Por Pedro Du Bois | 8/03/2012 01:23:00 PM em | comentários (0)

Nenhum trabalho
supre em utilidade
nossas vidas: salvam vidas
                      matam vidas
                      mantém vidas

a criação sucedida
ao medo onde razões
consubstanciam sobrevivências

sobreviver implica
em utilitarismo

a vida se ocupa
em outros gestos.

(Pedro Du Bois, inédito)

FOCO

Por JURA | 8/01/2012 08:35:00 PM em | comentários (1)


Qual é a imagem que o rapaz, que passou observando o ponto de ônibus, tem do rapaz que, distraído, absorto em suas reflexões, esperava o ônibus para o primeiro dia de trabalho depois das férias.

E a imagem que o rapaz que esperava o ônibus tem do rapaz que o passou observando, naquele dia que seria seu último dia de trabalho antes de suas férias?

Que imagem tem dos dois o senhor que, da janela de seu apartamento, observava, se lembrando de quando ainda trabalhava e pegava aquele mesmo ônibus naquele mesmo ponto?

Da janela de meu quarto

Por Eryck Magalhães | 8/01/2012 08:04:00 PM em | comentários (1)

                                                               Foto: Eryck Magalhães


Vejo a lua
por noite embalsamada,
de Álvares de Azevedo.

Por Unknown | 7/29/2012 05:00:00 PM em | comentários (0)


Lufadas de dragões
(para Denise Gouvêa) 

A gente se misturava
Aos corpos que se misturavam
Aos copos que se misturavam
Às ideias
Às palavras
Aos pensamentos
Aos gestos
Que se encontravam
Que se concentravam
Em você e só você
Queimando o que me distanciava
Do que eu não podia ver
Na noite que se enche
De lufadas de dragões
Em becos sem saídas
Em espelhos sem imagens.


 [Adams Alpes]

Caçapava, 29/07/2012.

PASSAR

Por Pedro Du Bois | 7/27/2012 05:20:00 PM em | comentários (0)

Da orla assiste
o passageiro do barco
vomitar sobre a amurada

na passagem

o passageiro enjoado
assiste sobre a orla
a pessoa estática

a terra permanece
como paragem.

(Pedro Du Bois, inédito)

DOIS

Por Unknown | 7/24/2012 10:38:00 AM em | comentários (0)


Somos dois e somos mais:
Café com carinho cedinho antes da cama acordar;
Um caminho lado a lado de mãos abraçadas;
Ouvidos, olhos e disposição um para o outro;
Dia abandonado pra se lançar na noite da paixão.

Somos dois e somos mais:
O moço que espera pendurado na janela;
A moça que corre e se atrapalha com a tramela;
A tormenta de saber do outro na demora;
A lagoa tranquila do reencontro.

Somos dois e somos mais:
A vida aparentada diariamente;
A amizade espalhada de repente;
O amor espelhado no presente;
A lida apresentada quando ausente.

Somos dois e somos mais:
A vontade de estarmos juntos à beira-mar;
O afago depois de um dia difícil;
O sorriso no meio do assunto inusitado;
A bronca depois de um fora imperdoável.

Somos dois e somos mais:
Aquele papo magoado que tenta curar a ferida;
Aquela tristeza da incompreensão imensa de solidão;
Aquela tempo de ficar em outra já que não há o outro;
Aquele dia sem amar que não passou de um dia sem viver.

O filósofo

Por Eryck Magalhães | 7/23/2012 07:00:00 PM em | comentários (0)

     Pouco lhe agradavam as entrevistas. As perguntas eram inúmeras, e as respostas, exíguas.



E a distância foi se aproximando...

E não havia mais bom dia;
Quase não se ouvia um boa noite;
A companhia que nos servia de ponte
Entre o deserto-solidão e a solidão deserta de cada um
Se desgastara.

E o pão era pão( já havia sido corpo)
E o grão era grão( já havia sido oferta)
E o plano era plano( já havia sido sonho)
E a grana era grana(já havia sido providência)

Somaram-se as subtrações:
Divididos, multiplicaram-se as distâncias.

Não se agia;
Não se lamentava;
Não se dizia:
Apenas se esperava
(Não se sabia) a maior distância entres dois pontos.

E, não de repente,
de-sa-pro-xi - m a - m - o - s.

(cimatti)

Muito Prazer!

Por Unknown | 7/20/2012 10:32:00 AM em | comentários (0)



Prazeres, nesta terra, existem muitos:

O prazer da carne;
O prazer em conhecer;
O lazer; o fazer acontecer;
O prazer do trago;
O prazer que traz;
O prazer que trai;
O prazer que atrai...

Existe até o prazer no desprazer:
Próprio ou alheio.

Há prazer no feito e no desfeito;
No coito e no biscoito;
No conto e no desconto;
No trato e no retrato...
Mas; se houver prazer
Em todos os casos e acasos,
Em todas as coisas,
Gentes e jeitos;
Não haverá prazer que se iguale ao da
INTIMIDADE.

DISTÂNCIAS

Por Pedro Du Bois | 7/19/2012 03:09:00 PM em | comentários (1)

(sobre a distância nada diz
 prefere falar da permanência)

ao redor do corpo giram
espaços: a escuridão
na especificidade da contagem
em que lembranças traduzem
espontâneos ensinamentos

o corpo se agita em cárceres
e faz sua fortaleza menor
em acontecimentos e artes

(sobre a distância percebida diz
 do azar em permanecer estático)

(Pedro Du Bois, inédito)

UM OLHAR

Por Unknown | 7/16/2012 07:12:00 PM em | comentários (1)


Olhei, olhei, olhei...
(óleo sobre tela)
Não vi nada nela.

Olho, olho, olho...
(sem perder de vista)
Fora da janela,

Num desvio de olhar,
(eu vi, eu vi, eu vi)
Sob a franja amarela,

Um olhar de mira mar
(me admirando, me admirando);
Não via nada nela.

O olhar dela me via;
O olhar nela vivia.
E, porque não vinha,
De lá, me despia.
(me olhava sem fantasia)
E me fazia sol do meio-dia.

Eu sorria, sorria, sorria...

COMO COMEÇA

Por Pedro Du Bois | 7/12/2012 04:24:00 PM em | comentários (0)

Do medo
original
retiro o tédio
          adquirido
                 teço minha trama
                 urdo minha sina
                 ardo minha figueira
                 urro minha ida
                 terço minha arma
                 traço minha vida

                 no tédio adquirido
                 refaço o medo
                               inicial.

(Pedro Du Bois, inédito)

AÇÕES

Por Pedro Du Bois | 7/06/2012 11:52:00 AM em | comentários (1)

atravesso o espaço
- distância permitida

avesso ao trajeto
- preço percebido

avanço sobre a cratera
- queda percebida

refaço o gesto
- tanto concebido

acesso o corpo
- corpo possuído

(Pedro Du Bois, inédito)

Em uma noite

Por Tonho França | 7/04/2012 04:12:00 PM em | comentários (1)


sete invernos adornados em
cinzas vermelhas
olhos de lua e dentes de ouro
desciam por um céu
aberto em chagas

silentes, traziam os ventos os oceanos
alguns anjos  e 13 conchas azuis

caminhavam sobre o tempo
e todas as formas de memórias
Semeando pausas no seio do infinito

recriando em barro e fogo no ventre da morte
o sopro sagrado de vida – início

Tonho  França

desafinado

Por JURA | 6/30/2012 05:54:00 PM em | comentários (1)

um acorde que
me acorde pro
mais belo som
mais dissonante harmonia
um acorde preciso
preciso acorde que me
corte, acorde da
harmonia dissonante
mais preciso.

estudo nº 0

Por JURA | 6/30/2012 05:49:00 PM em | comentários (0)


sei de tudo de nada
nada que possa fazer
fazer que a sina
sina de que a cisma
cisma, cisão, ruptura
ruptura de tudo
tudo nada que sei.

AJUDAS

Por Pedro Du Bois | 6/29/2012 07:34:00 PM em | comentários (2)

Dispenso a ajuda
(na leitura da seca
 palavra revisitada)

- sobre a mesa repousa
  o poeta ancestral
  em humores anteriores
  à seriedade do momento.

(Pedro Du Bois, inédito)

VERSO

Por Pedro Du Bois | 6/22/2012 04:03:00 PM em | comentários (0)

O último verso
definitivo
 - no olhar sobreposto
   à página
   em branco.

A vontade ultrapassa
a hora
em branco: tóxico
remédio sufoca
a dora.

Em branco a ideia
- estapafúrdia -
inicia o verso.

(Pedro Du Bois, inédito)

Por JURA | 6/18/2012 05:39:00 PM em | comentários (1)

A espera, os desvios de percurso, as refeições em horários desencontrados, os sonos intranquilos, os acordares sonâmbulos. O amor tranquilo e maduro que espera.  A espera, os desvios de...

Por JURA | 6/17/2012 09:27:00 PM em | comentários (0)

É preciso ler para que se possa escrever.
É preciso escrever para que se possa ler.

ESCOPO

Por Pedro Du Bois | 6/15/2012 11:03:00 AM em | comentários (0)

Não me arremeto ao escopo, sou corpo
e talvez alma: dupla insuspeita
com que armas se debatem
em retirada:

todo avanço predispõe
a certeza da derrota

da vitória podem
dizer os pósteros
e os literatos.

(Pedro Du Bois, inédito)

Por JURA | 6/12/2012 09:47:00 AM em | comentários (0)

clarinete
notas de angústia
melancolia
em falsete.

VER

Por Pedro Du Bois | 6/08/2012 01:57:00 PM em | comentários (1)

Vejo seu coração condoído
                          em minha dor
                   adormeço
                          e sonho recomeços

(pintura critpográfica
 do envenenamento).

(Pedro Du Bois, inédito)

FORMIGUEIRO

Por W.G. | 6/03/2012 11:29:00 PM em , , | comentários (2)

Queria parar de escrever,
construir minha obra
em torno do silêncio,

mas as palavras
são formigas insaciáveis:

de migalha em migalha
carregam meu silêncio
para fora de mim;

faz-se matéria-prima
e alimento
para o que
escrevo.


[gORj]

poeta

Por JURA | 6/03/2012 09:16:00 PM em | comentários (0)


Poeta é o bêbedo sem ressaca
Bêbedo é o poeta sem versos e ritmo
O amor é o bêbedo e o poeta
O verso e o ritmo e a ressaca juntos.

Sobre moças

Por Tonho França | 6/01/2012 08:14:00 PM em | comentários (4)


As moças das saias amarelas
Eram três, todas claras, todas elas
Todos os dias, passos cálidos, aroma de ervas
Vozes de pássaros, pousavam em meus olhos.

Eram três, todas claras, todas elas
Sorrisos estáticos, talvez fossem anjos
Talvez sonho
Fantasia
Todos os dias
Pousavam em meus olhos
Todas claras, todas elas
As moças das saias amarelas...

Tonho França©

ADMITO QUE PERDI

Por Unknown | 5/30/2012 07:48:00 PM em | comentários (0)


Admito que perdi.


Sim, Pablo, admito que perdi:
a mão,
o jeito,
o metro,
me perdi em meu leito;
enquanto sonhava,
alguém me realizava.


E o amor, de tão real, se mostrou
bruto,
concreto,
inflexível,
incapaz.


Sim, Pablo, admito que perdi:
a conta,
o fio,
a meada;
o meio
pra votar a ter um jeito.


E meu leito, onde mergulho perfeito,
continua cheio de sonhos.

PÁSSARO

Por Pedro Du Bois | 5/30/2012 07:59:00 AM em | comentários (0)

entre galhos
diviso o pássaro
que me olha
no irreconhecível
gesto: grita
suas penas
e voa
ao outro
galho

preso ao chão
observo no voo
a leveza do corpo

no grito
o reconhecimento

(ele) não me olha
- indivisível ser
  preso ao contato.

(Pedro Du Bois, inédito)

Por JURA | 5/28/2012 10:19:00 PM em | comentários (0)


VOLTAR

Por Pedro Du Bois | 5/26/2012 09:49:00 PM em | comentários (2)

Volto ao estado inicial:
antes da metamorfose
na transição do contrário.

   A simpatia em carta simples:
               o selo indica
               no carimbo
               a data da remessa

    amanheço em cada consequência
    e danço: sim, minha amada,
    danço minha renovação:

               - o zero
               - o infinito
               - o número mediano
                  na estatística

volto ao estado inaugural: tenho
a metamorfose disposta ao novamente.

(Pedro Du Bois, inédito)

ACHILES CIMATTI FILHO

Por Unknown | 5/19/2012 06:16:00 PM em | comentários (0)


“Poeta foste, e és, meu pai.
A mim me deste
O primeiro verso à namorada.
Furtei-o De entre teus papéis: quem sabe onde andará…”
(Vinícius de Moraes)






  Um anos depois,E não consigo sentir outra coisa que não“Por que foste embora, teu puto!?”Enquanto eu percebia que te imitava em cada gesto:Na forma como me tratavas, conquistava meus amigos;Na forma como pensavas, instruía meus ouvintes;Na forma como amavas; agradava minhas namoradas... Enquanto percebia que te imitava em cada gesto,Percebia que nossas discussões eram atos de amor:Eu tentando te decifrar pra ser tão forte quanto erasE tu tentando te esconder o quanto podia pra me ensinar a ser um decifrador...Como tu.Me ensinaste que Deus não dá,Que Deus não doa;Que ser deus dói.Me ensinaste que cada beijo teu por mim conquistadoSignificava: “Por hoje chega, vá e erre menos”. Enquanto percebia que te imitava em cada gesto,Partiste; de uma vez por todas. E agora, se tudo continua vivo e misterioso,De quem roubarei uma dica, como um beijo?E agora, se coisas novas acontecem, que ainda não haviam me passado,A quem vou me mostrar angustiado?Se alguns toques que me destes, e que tanto agradaram nossos amigos e parentes,Mas não funcionaram com que amei, com quem vou me lamentar.*E, se os versos, sem palavras, que me destes;Se as canções que me assoviastes em segredo;Se os detalhes do cuidado com o lar e a família;Se as frases irônicas e dúbias para os amigos (os de verdade);Se aquele olhar e aquele beijo bem dado na namorada,Gestos que me deixastes roubar de ti;Se a delicadeza com que se trata uma mulher,Que fizeste questão de me ensinar à exaustão;Se a dureza que me deste para tratar meus irmãos...Se essas vivências, de repente, são bem aceitas,A quem vou anunciar com prazer imenso:“Pai sou como tu!”?E agora?Se tudo continua vivo e misterioso,“Por que foste embora, teu puto!?”

                                                               (ALEXANDRE CIMATTI, eterno filho)













PEDIR

Por Pedro Du Bois | 5/18/2012 11:14:00 AM em | comentários (1)

peço para apagarem as luzes
prefiro o escuro pano sobreposto

peço respostas: sou perguntas
peço misericórdia: sou
a acusação imprecisa

ter chegado não alivia a carga
trazida nas costas lanhadas
em atravessado trajeto de retorno

peço para dizerem seus nomes
são o silêncio: sinto suas mãos
sobre meu corpo erguido alçado
sustentado: sou transportado
ao lugar de origem: grades
fechadas em portas entreabertas
onde me instalo.

(Pedro Du Bois, A CASA DAS GAIOLAS, XXX, revisto, 2a. Edição, 2005, Ed. do Autor)

O NOME BENDITO E A MALDIÇÃO DO NOME

Por Pedro Du Bois | 5/11/2012 09:46:00 AM em | comentários (0)

A oposição permite a visualização dos lados
comprometidos ao objeto. Bendigo o nome
acolhido em resposta e me defronto
com a maldição do nome pronunciado.

     (Lembro histórias de moedas,
      luzes e animais selvagens).

  Domestico o nome benfazejo
  e o oportunizo ao relento.

                     A maldição se instala
                     junto à porta.

                     Onde esmaece.


(Pedro Du Bois, A PALAVRA DO NOME, XIV, I, revisto, Edição do Autor, 2008)

COMO?

Por Unknown | 5/06/2012 07:50:00 PM em | comentários (2)



        




Como dizer o que eu quero pra quem quer, mas não pode?
Como dizer o que eu posso pra quem pode, mas não quer?
O que faz uma mulher?
O que pensa um homem?
Criançamos e recriancemos
Que o melhor ainda está por vir.
Viremos a página e veremos o futudo
- o parado ficou pra trás –
traz outro gole do que eu quero mais.
E quero mais é que tudo venha do inferno
(sem pecado e sem paraíso),
e para isso é preciso parar
para ver, ouvir e tocar.
Dizer?
Como dizer o que eu não posso pra que não quer e ainda pode?
Como dizer o que não quero pra quem não pode e já não quer?
O que tem uma pessoa?
O que encerra um corpo?
Animamos e reanimemos
Que o amor já está por ver.
Veremos na lágrima e seremos presente.
Apresentemos o que há!
Não há nada além do que é
- e é tudo o que vale a pena –,
apenas uma pena, apenas uma pena...
(pena é não poder pecar)
e, apesar disso, há um pesar
nisso
parar de ser, fluir e trocar.
Viver?
Como viver o que eu não quero por quem não pode, logo quer?
Como viver o que eu já posso com quem já quer e, por isso, foge?

PAI para meu pai no dia de seus 81 anos

Por JURA | 5/01/2012 09:45:00 AM em | comentários (1)

sou meio meu pai
meia idade dele
meia vida dele

sou  meio espelho dele
reflexo torto, enviesado
sou  meio o que ele trouxe

sou meu pai
vida dele
espelho dele.


(RE)VER

Por Pedro Du Bois | 4/28/2012 08:13:00 PM em | comentários (1)

Diante do espelho / fecho os olhos // a imagem sorri / do medo / de me ver / aberto ao contato. (Pedro Du Bois, inédito)

Por Unknown | 4/28/2012 03:00:00 PM em | comentários (0)


Já não posso te ver
Nem preciso te ouvir
Te sentir é uma quimera
Teu gosto
Teu cheiro
São memória
Agora
Só me resta te agir

Por Fabiano Fernandes Garcez | 4/18/2012 10:00:00 PM em | comentários (0)

Em maio


Estações

Por JURA | 4/15/2012 11:15:00 AM em | comentários (0)

Faça-me chuva pra intimidar o sol.
Traga-me a neblina que esconde o lago,
Que os raios solares desenhem na neblina,
Mostrando o lago devagar, aos poucos,
Mas que permaneça chuva pra intimidar o sol.


SER

Por Pedro Du Bois | 4/12/2012 01:26:00 PM em | comentários (0)

Como nossos avós
aprendidos em seus pais

como hoje
na modernidade
da repetição
dos dogmas

saímos de casa
e ao relento
o rebento
chora
a perda.

(Pedro Du Bois, inédito)


O conteúdo desta página requer uma versão mais recente do Adobe Flash Player.

Obter Adobe Flash player

Feeds RSS

Receba as novidades do Vale em Versos em seu e-mail

Livros do Vale

Apoiamos

Adicione

Arquivos