PODER

Por Pedro Du Bois | 9/28/2012 11:41:00 AM em | comentários (0)

Não posso fazer nada
não faço nada
nada
enquanto da morte
não retornar o corpo
decomposto
e recomposto:

       recuperar os olhos e olhar
       recuperar o tato e tatear
       recuperar o olfato e cheirar
       recuperar a fala e dizer
                       sobre onde esteve
                       o tempo desnecessário
                       da sua morte

então poderei recuperar o gosto
e gostar.

(Pedro Du Bois, inédito)

BARCOS

Por Pedro Du Bois | 9/20/2012 07:58:00 PM em | comentários (1)

A folha arrancada do caderno
se destina ao barco
na água da sarjeta

pode ser maior o barco
e levar o corpo
a encalhar na sujeira
do meio-fio

o barco completa a viagem
na interrupção da jornada

desembarco e no caderno
escrevo as impressões
             do trajeto.

(Pedro Du Bois, inédito)

JOGAR

Por Pedro Du Bois | 9/14/2012 10:46:00 PM em | comentários (0)

Aguarda o resultado

seus deuses absortos
deixam passar a oportunidade

adquire outro bilhete
             novo tíquete
                      cartela

a ideia do sofrimento
e abandono o consola.

(Pedro Du Bois, inédito)

encanto

Por JURA | 9/10/2012 09:12:00 AM em | comentários (0)

como quebrar um verso
duro, como tirar
dele o que flui.
como tratar a
palavra obscura
fazer dela o que surge.

INSTRUMENTO

Por Pedro Du Bois | 9/06/2012 01:52:00 PM em | comentários (1)

Penso o instrumento
e o empunho
em sonhos

(retiro o limo
 do azedo cortejo
 e o adocicado
 dos cometas)

o sonho permite a interação
dos escombros

o instrumento reforça
em posicionamentos
o toque dos acordes

acordo ciente do descaso
com que minha voz
despreza o canto
no acompanhamento
do instrumento.

(Pedro Du Bois, inédito)

Puta feita

Por Eryck Magalhães | 9/02/2012 08:49:00 PM em | comentários (3)



Não precisava daquele corpo. Nunca precisou. Aliás, ele só havia lhe trazido problemas. Para que tantas curvas? Atraía sem saber. Primeiro foi o pai que lhe observava pelo buraco da fechadura durante o banho e, de noite, fazia sempre questão de lhe por para dormir. O beijo de boa noite nunca vinha sozinho. Depois, quando trabalhou em casa de família, foi a vez do marido da patroa. Dava sempre um jeitinho de chegar em casa um pouco mais cedo, dizia coisas e a comia com os olhos. Quando chovia, oferecia-se para levá-la em casa de carro. Ela precisava do emprego, o pai, doente, não podia mais trabalhar. Contudo seus pensamentos eram o oposto de seu corpo, neles não havia curvas. De quem a culpa? Da natureza? De Deus? Queria ser virtuosa, mas suas virtudes se desfaleciam em suas carnes. Não adiantava vestir roupas largas, qualquer vestimenta lhe destacava as formas. Entregou os pontos. Perdeu para sua própria carne, porque a carne predomina, a carne não é fraca, a carne é forte.


O conteúdo desta página requer uma versão mais recente do Adobe Flash Player.

Obter Adobe Flash player

Feeds RSS

Receba as novidades do Vale em Versos em seu e-mail

Livros do Vale

Apoiamos

Adicione

Arquivos