busco questões menores
anódinas
acidificadas
ambientadas em respostas
não transitadas
lembro você e seu discurso
altaneiro resfriado
no enregelar o passado
em passadiços caminhos
rumo ao mar
rebusco na memória o instante
em que nos revelamos
e sua face esfumaça
o espelho
opaco ser metalizado
em respostas
(Pedro Du Bois, inédito)
Quando me despeço
dispenso consequências
e penetro no fundo
caminho de ir embora
ilusões cercam inícios
e da metade ao fim
o cansaço pede contatos
não há consequências
para o ato praticado
na necessidade
o intenso se dedica a desconstruir
a calma antecedente no discurso
na despedida sopram brandos
ares sobre possíveis lembranças
aproveito o sol para me manter
aquecido na linha do horizonte.
(Pedro Du Bois, inédito)
Não me vejo ontem
a me transformar agora
meio desenho rascunhado
sobre o instante imaginado
mero esboço retraído
em sentenças de culpabilidade
mero estorvo
magnificado em lembranças
não me vejo amanhã
a me condenar agora
mera retribuição farsesca
do desinteresse.
(Pedro Du Bois, inédito)
menospreza o sentido:
sentado em silêncio
acompanha a cena
com os olhos
a sanha amadurecida
do mistério se revela
inócua aos perigos
gerados em desatino
menospreza o programa
desfeito na efemeridade
das promessas atávicas
a resenha desdiz o discurso
no reescrever mitos metrificados
menospreza o sentido:
ao músico cabe a ilusão
de refazer o momento
(Pedro Du Bois, inédito)
único pé sobre a calçada
em límpida passagem
de curta viagem
água escorrida pela chuva
diuturna do planeta
empoçada no caminho
dos barcos atracados
ao meio fio
castelos desmoronados
no líquido escorrido
pelo pé que pisa
e espirra o barco
outro pé esbarra
na ponta da pedra
levantada: queda
na água recolhida
ao barco soçobrado
(Pedro Du Bois, inédito)
Confusas horas
tomadas ao acaso
das sentenças
desfeitas em ardis
no espoucar dos fogos
artificiais das inteligências
amansadas em regras
dispostas ao relento
da sensibilidade
dias perdidos em discussões estéreis
de enriquecimento: coisas adquiridas
na possibilidade de ser macia a cama
e pesado o sono destituído do sonho
inicial na sobrevivência anárquica
com que o homem sorri à fêmea
e se faz companheiro
e comparsa.
(Pedro Du Bois, inédito)
além dos sentidos
inconsentido estágio
onde nos deixamos aos ventos
naturais dos verões abrasivos
queimam corpos sobrepostos
na areia das praias invalidadas
em noites de tenebrosos sentidos
a insensibilidade arma homens
em indefensáveis apetrechos
de obras superiores
não sentimos o olhar
do transeunte: ao largo
o barco ( menor) se funde
na linha do horizonte
(Pedro Du Bois, inédito)
Na busca o encontro imaterial
esboça o ânimo absurdo
sob argumentos desiguais
na procura de algo além
interiorizado em lembranças
atávicas: nada acha
nada encontra
nada acontece
aquém da farsa das entregas
o corpo repousa na cama
inundada em misérias
mesquinhas
de rebocos arrebentados
no desencontro aleatório
cerceado em papel de seda.
(Pedro Du Bois, inédito)
receio olhar seu corpo
sem desejo e coragem
receio seus olhos
escurecidos em saudades
receio o impropério lançado
ao alcance da palavra
receio antever sentidos
dirigidos a mim:
exposto em dúvidas
recobro o início
no caramujo: fecho
(Pedro Du Bois, inédito)
Não falo do amor.
O amor deve ser mudo
em não dizeres. Ríspido
em encontrares. Móvel
em sensibilidades após
o gesto e o gosto. Do amor
guardo a distância próxima
da perenidade no descansado
gesto com que corpos
se reconhecem. Não a paixão
que embaraça o discurso
e tange parceiros ao delírio.
O amor soçobrado em ventos
reassume posturas e indelével
permanece. Falo do amor:
que o amor diz do mundo.
(Pedro Du Bois, inédito)
retira da inconsequência
o peso: da levedura o amargo
gosto deixado no traço
a leveza universal
no menor ser: vivo
na morte se refaz inteiro
resultado dos afazeres
deifica a espécie na repetição
que o parto multiplica
olhar sobreposto ao cínico
destruir da rota de passagem
leve murmúrio das palavras
necessárias no revoltar ares
do que fica na imagem
a inconsequência perdura
na integridade do desalento
(Pedro Du Bois, inédito)
mar de águas claras
azuis verdes
esmeraldas
areias finas
marcas de pisadas
passos
rastros arrastados
luz em sombras indevassáveis
nas lentes transeuntes
chapéus em mulheres
misteriosas
além fumaça
ambulantes embarcações
retiram sinais
com que mares
e areias
desconcertam passados
azuis e verdes
aventureiros espíritos
chapéus e escuras lentes
passos indecifráveis
de horas mortas
(Pedro Du Bois, inédito)
Em último desejo
contempla o rosto
de quem se despede:
adeuses derivam
cumprimentos
no que nos diferenciamos
a floresta encobre o corpo
despido de significância
e o acoberta destino
de recobrada esperança
o rosto volta
a face ao outono
despedido em invernos
de reflexos deferidos
ao futuro inócuo.
(Pedro Du Bois, inédito)
retiro a chave
a morte em etapas
cobre o rosto
no disfarce da farsa
com que se desmonta
em defesa
apressa o fato
refeito no torvelinho
da água no corpo
inerte de saudade
morte satisfeita na solidão
absorta dos tremores: no ar
o perfume da tormenta
na etapa comparada
aos lamentos da morte
em indissolúvel laço
(Pedro Du Bois, inédito)
Ofício: escrevo a prosa
poética a desnudar sentimentos
embrulhar sentimentos
escolher entre temas
a verdade
o sonho
a nuvem
do ofício trago o dia
e a noite escancarados
de recursos e rasuras
(a folha escrita é cicatriz
do erro apagado e a erosão
da verdade em áspera palavra)
reflito vidas em retinas
e no aéreo espaço conheço
a força com que o ofício
recolhe a cantiga: antes da palavra
trago o olhar curioso da transformação.
(Pedro Du Bois, inédito)
A morte antecipada
traz a dor da descoberta
a faz próxima
e inexata ao entender
não serem necessárias
razões para a contenda
tristes na antecipação
da orfandade do amor
seja nossa permanência o escopo
de estarmos aqui: vivas figurações
opostas no universo dimensionado
como o todo no lado conhecido
da racionalidade (e estigma)
privações incomodam lembranças
e nossos lamentos ecoam gritos
lancinantes de desconhecimento.
(Pedro Du Bois, inédito)
Melhor ficar quieto
(cantarolar canções
sobre conquistas amorosas)
nenhum som na permissão da noite
desencadeada ao todo
(tosco som das guitarras
em dueto de vozes)
a quietude beatifica a hora
destinada ao retorno: ciência
do padrão obscurecido
na cena milagrosa
(milagre no ouvir as canções)
na escuridão a voz
se faz sussurros: o medo
em ocupações temerárias.
(Pedro Du Bois, inédito)
Qual o rei que ao avançar
suas tropas
não sente tropeçar
em erros
no sentido esforço
com que seus soldados
(apreensivos)
esperam a ordem contrária:
parar e retornar
e voltar a ter a vida
insípida dos afazeres?
Reis não se enquadram
entre quem busca
palavras de consolo
(e fraqueza).
No tempo em que reis eram suas estratégias
táticas e ataques na frente das tropas.
(Pedro Du Bois, inédito)
primeiro transbordamos
a água
em segundo salgamos
a terra
na sequência proibimos
o voo
seguimos no esquecimento
da festa
emendamos o renascimento
na morte
conseguimos proibir
a palavra
encerramos o horizonte
visível
cercamos as cores
vivas
terminamos atrás
da porta
(Pedro Du Bois, inédito)
no encerramento
MAR AZUL ▲ SILVA // "Um Girassol da Cor de Seu Cabelo"
Por Jura | 6/09/2015 07:52:00 PM em | comentários (0)
Pela passagem inócua
no caminho a percorrer
(bicho) inferior ao intelecto em curvas
e meandros: encruzilhada
em braçadas de conquistas
ao desconhecido entrega a vida inglória
e se dedica a desconstruir certos e errados
(o bicho) merece o oportuno emaranhado
florestal no ressurgirem corpos
e almas adulterados
saber entre o aprendizado e a vida: razões
de contenda em trechos de novas batalhas
reencontro no espanto com a imagem
onde se deposita (o bicho) feito homem na perdição
do tempo.
(Pedro Du Bois, inédito)
não canto aos pássaros
a imitação malévola da igualdade
pseuda em reconhecimento e demora
reflito o canto através da janela
e está preso o pássaro à gaiola
prende a liberdade na condição
histórica da hipocrisia
refaço o trajeto em silêncio e o pássaro se cala
ao ouvir meus passos pesarosos na impotência
de abrir a porta metalizada em trancas e tramelas
repito a maneira desonrosa da batalha
escondido em trincheiras indecorosas
(Pedro Du Bois, inédito)
avanço
encontro a porta
retorno na incerteza
vívida do recomeço
caminho ambicioso da infância
sufocada no choro adulto da esperança
- aval atravessado na garganta
o outro lado é a diferença entre palavras
(ditas e simuladas) em esforços menores
de decorados textos inoportunos (verdades)
recuo
desencontro no porto
a longínqua fumaça
- o futuro queima
em móveis caldeiras
em descaminho refaço a ventura
entregue ao desespero do retorno
(Pedro Du Bois, inédito)
A morte é esquecimento
relembrado em efemérides
sucessão de erros
em incômodos discursos
de aproveitamento
o corpo em ossos e cabelos
sob a terra: o enterro é espetáculo
resguardado na imaginação
de patéticas cenas
prantos guardam o espírito
renunciado ao corpo: amigos
desabrigados da companhia: transeuntes
cansados das notícias
o despropósito amainado em promessas
descumpridas em vida.
(Pedro Du Bois, inédito)
dia
Posso poupar o esforço
e ficar estanque
junto ao passeio
posso romper o silêncio
em desforço e rasgar
papéis ilusoriamente escritos
posso ser o primeiro corpo
despojado em espírito
posso avançar o corpo
sobre a cerca e derrubar
o fruto da árvore cativada
posso amaldiçoar o instante
da partida e reconhecer na vida
a derrota.
(Pedro Du Bois, inédito)
Rejeito o conselho
(agasalho)
e na ilusão da água empoçada
piso na recuperação atônita da verdade
minha veracidade recebe o conselho
e o acoberta em novidades
de palavras ásperas
na voz baixa da dúvida
beijos traduzem circunstâncias
atormentadas em inflexões
do momento sem salvaguardas
rejeito o aconselhamento: movo
perigos deslocados ao vento
dos sentidos: recobro verdades
em ações e gestos agradecidos
verdades repousam incólumes
sob colunas gregas destroçadas.
(Pedro Du Bois, inédito)
Esqueço o corpo enrijecido das disputas
e me apresento flácido em inerte idade
ultrapassada em tempos metafóricos
na musculatura das verdades
ao dizer do sacrifício pela força bruta
da coragem no refinamento esquecido
nas refregas pelo esvoaçar na paz perpétua
dos socorros não havidos dos descalabros
afugentados na hora verdadeira inteira
e interna fora o espírito do acaso
saliência áspera das pedras deslocadas
pelo corpo terno das promessas descabidas
em amores apáticos de derrotas derradeiras
onde o corpo sofre a passagem da flacidez
déspota dos reencontros tardios
do ciúme borbulhante das águas tépidas
no queimar invisível dos carrosséis infantis.
(Pedro Du Bois, inédito)
última e duradoura estrela imaginada
em telescópios sobre montanhas
secas de paisagens inimagináveis
traz a luz distante
fria
cortante
instala a graça de se fazer última
no refletir sua luz irritante ao nos avivar
na discussão estéril da origem e do trajeto
da beleza pelo éter: eternizado espaço
anterior ao antes e depois de quando
organismo queimando suas entranhas
expele seu corpo em gases iluminados
de milênios sobre o vazio
a imaginação capta a estrela vaga
em nosso mundo e faz do sonho
o trajeto desacompanhado
na última luz.
(Pedro Du Bois, inédito)
quando o sentir
sensibiliza
o olho
cristalizado
da serpente
hora do bote
na presa
subjugada
instante
em que a dor
penitencia
o corpo
(Pedro Du Bois, inédito)
Infiel a lança
atravessada na estopa
que guarda a imagem
desbotada de quem acredita
crédito concedido à desconfiança
na voz do cantor de amenidades
a lança na mão do infiel
guarda a distância: se distancia
em circunstâncias esvaziadas
de alegrias
concede ao infiel a lança
do espírito aguardado
na mentalização do corpo
enxugado de veleidades
e críticas.
(Pedro Du Bois, inédito)
A insensibilidade com que seus olhos
olham
a frieza do toque que nos retoques
da obra
obram
a distância maior das consequências
anteriores
em antigos modos de dizer que agora
antes
depois
a sensação perdida se avoluma
destruindo a estrada ultrapassada
cansada
cansativa
na maneira primeira e única
da via obstruída.
(Pedro Du Bois, inédito)
para onde
pende
o corpo
na queda
abaixo dizem
ao alto acenam
no planeta solto
disposto
no vazio
o corpo segue o impulso
que o puxa
ao centro
concêntrico
das esperas
(Pedro Du Bois, inédito)
nas coisas miúdas
amiúda o destino
da próxima viagem
não completa a jornada
na insistência em que o dever
se coloca amiudado
repele o senso comum
e se fantasia em passados
nas caixas vazias guarda a tormenta
sobre a terra
aterra seus pecados
em horas atravessadas
ventos refazem caminhos
escondidos em passagens.
(Pedro Du Bois, inédito)
Do entendimento
guarda a dor
com que sofria
o certo antevisto
no passar das horas
inconclusas dos ensinamentos
você e seu tempo
perdido em estudos
inúteis aos descobrimentos
a esterilidade da matéria
decorada em cálculos
de línguas balbuciadas
enquanto
entendimentos livres
aguardavam o recreio.
(Pedro Du Bois, inédito)
escolhe o trajeto
das prisões
condenadas
ao esquecimento
não
diz sua mãe
no começo
não
diz seu pai
no intervalo
refaz o trajeto
fossem prisões abertas
aos pássaros
e aos mágicos
prisões mitificam laços
apertados nos mesmos pescoços.
(Pedro Du Bois, inédito)
No desvio
concentra
a palavra
diz o que diz
de forma
primitiva
não se acostuma ao trajeto
metódico dos seguimentos
não se oculta ao raio
iluminado na conquista
nas curvas desvia o corpo
no abstrato dos sentidos
no arrependimento traz certezas
do que é dito na ultimação da pergunta.
(Pedro Du Bois, inédito)
essas coisas menores
redigidas em páginas
amareladas de comerciais
estanques de empresas falidas
no catálogo encontro encenações
na figuração do todo
nas coisas menores perduro
animações e respeito pelo espaço
vago para nascimentos e ações
na contrariedade da resposta
deixo recados de desencontros.
(Pedro Du Bois, inédito)
no
final sabemos
que o
fim prenuncia
a nova
sequência
inacessível
por enquanto
e a morte
se sente
ligeiramente
estável
(Pedro Du Bois, inédito)