Como pode um livro se esconder em nossa memória?
O menino do dedo verde estava escondido em minha cabeça desde a adolescência, ou um pouco antes disso, quando o li pela primeira vez. Hoje, depois de 30 anos mais ou menos, redescobri o que já sabia, apesar dele ter se escondido em mim nesse tempo todo, O menino do dedo verde é um belo livro, doce, terno, poético que tem o poder de transformar tudo em flores.
Ética
utópica
meus sonhos
imagens fragmentadas
em conversas
enquanto acordado
utópica
ética
nos fragmentos encontro
o teor na inteireza
do corpo em discurso
onde repouso.
(Pedro Du Bois, inédito)
De tantas mortes a árvore prateada guarda o rosto
impassível da hora. A senhora. As drágeas.
As pílulas. Verdes tampos guardam as flores
dourada da chegada: o concurso e o discurso
raivoso da despedida. A cicatriz espelha
os quilômetros rodados. Para onde fomos
quando saímos de casa. O choro da mãe
reflete as dores do parto na ausência.
A morte é retorno: mágico trapézio.
Não há o cavaleiro e a montaria estanca.
Apenas rumores, não a morte que torce
a história. Calo o olhar retorcido. Cai
a máscara e a face mostra recomeços.
Não há razões na morte que me escolhe
e que se encolhe nas chuvas primaveris
da razão. Quente é a hora.
(Pedro Du Bois, inédito)
O retorno é sua vida
em dias de ventiladores
(ligadas formas de espantar
o calor na passagem)
porque retorna seu pensamento
amigo e companheiro das horas
resta entre o vento
amainado na descoberta
cabeça e mãos ásperas
em rugas
retorna na imprecisa forma
de seus fantasmas e do sorriso
que resta em cada brincadeira
criança ainda
sem motivo e medo
no avançar constante
de fazer instantânea
a paisagem entre os morros.
(Pedro Du Bois, inédito)
A inconclusão dos fatos
se transformam
ao terminarem
as cenas
e as luzes
forem apagadas
dúvida: retirados espinhos
e o sangue jorra das entranhas
você sofre a hora
da inverdade
- todos os dias -
em cobranças
por ser o primeiro
na inépcia
que nega a comprovação
inconclusa matéria
sumida nos sonhos
em que se move
o esquecimento.
(Pedro Du Bois, inédito)