Dona Ruth Guimarães escreveu em suas Crônicas Valeparaibanas que "A coisa mais linda nas viagens é voltar pra casa". Não importa o que se veja mundo a fora: monumentos, relíquias ou tesouros naturais, nada disso parece pesar tanto quanto o regresso.
Mesmo que sejamos jovens e fiquemos um ano longe de casa "conhecendo o mundo", há sempre um momento em que o destino é o lar, a casa da gente, com nossos familiares, nossas coisas e nossos velhos e rotineiros hábitos. Isso ajuda o corpo e a alma a se recuperarem para a próxima viagem, pois é nessa fase aventureira que iniciamos a longa busca por sentido na vida e identidade pessoal.
A afirmação dessa identidade, ao menos para mim, parece culminar na velhice, quando o ímpeto pela busca exterior se apazigua e passamos a contemplar os tempos deixados para trás, num exercício que, se descontrolado ou intenso, pode levar à melancolia e, portanto, deve ser acompanhado da alegria que é a vida mesma. Na melhor idade, deveríamos aprender a encontrar em nós mesmos o lar, o destino de todas as viagens, de nossas buscas.
O sentido da vida se encontra no retorno à origem, na volta pra casa, mas, como a islandesa Björk escreveu numa de suas canções: "se viajar é procurar e lar é o que encontramos, não vou parar - vou caçar". A volta pra casa encerra um ciclo, nunca a jornada.
A jornada só tem fim na mitologia, quando o herói completa seu périplo que, segundo Joseph Campbell, envolve a saída deste mundo, com a passagem pelo seu limiar e então a investida ao fundo da realidade mágica, onde encontrará a esposa, o artefato mágico ou seja lá o que for que lhe poderá trazer a felicidade. Mas o grande desafio da jornada do herói é o retorno e muitas histórias retratam o quanto essa fase pode ser traiçoeira - se levada a cabo, pois o herói pode ainda permanecer no mundo mágico e abandonar seu reino de origem.
Mas o herói que retorna com a esposa ou o poder tomado do mundo da magia, traz para seu lar a bem-aventurança e a felicidade. A origem é o sentido de todos os esforços humanos. O lar (ou a casa) é, em verdade, o próprio ser humano.
Então preparemos todos nossas malas, viajemos mundo afora e conheçamos novas realidades. O espírito há de se enriquecer ainda mais se, no retorno, encontrarmos a velha e conhecida casa com seus móveis, suas pessoas e nossa vida verdadeira nos esperando. E de volta trazemos todas as riquezas do mundo na bagagem de apenas uma miligrama que tem a tonelada do bem viver.
PS: é bom estar de volta.
1 comentários:
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JURA
on
27 de janeiro de 2011 às 10:29
BELO TEXTO, MENINO
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