“Poeta foste, e és, meu pai.
A mim me deste
O primeiro verso à namorada.
Furtei-o De entre teus papéis: quem sabe onde andará…”
(Vinícius de Moraes)
Um anos depois,E não consigo sentir outra coisa que não“Por que foste embora, teu puto!?”Enquanto eu percebia que te imitava em cada gesto:Na forma como me tratavas, conquistava meus amigos;Na forma como pensavas, instruía meus ouvintes;Na forma como amavas; agradava minhas namoradas... Enquanto percebia que te imitava em cada gesto,Percebia que nossas discussões eram atos de amor:Eu tentando te decifrar pra ser tão forte quanto erasE tu tentando te esconder o quanto podia pra me ensinar a ser um decifrador...Como tu.Me ensinaste que Deus não dá,Que Deus não doa;Que ser deus dói.Me ensinaste que cada beijo teu por mim conquistadoSignificava: “Por hoje chega, vá e erre menos”. Enquanto percebia que te imitava em cada gesto,Partiste; de uma vez por todas. E agora, se tudo continua vivo e misterioso,De quem roubarei uma dica, como um beijo?E agora, se coisas novas acontecem, que ainda não haviam me passado,A quem vou me mostrar angustiado?Se alguns toques que me destes, e que tanto agradaram nossos amigos e parentes,Mas não funcionaram com que amei, com quem vou me lamentar.*E, se os versos, sem palavras, que me destes;Se as canções que me assoviastes em segredo;Se os detalhes do cuidado com o lar e a família;Se as frases irônicas e dúbias para os amigos (os de verdade);Se aquele olhar e aquele beijo bem dado na namorada,Gestos que me deixastes roubar de ti;Se a delicadeza com que se trata uma mulher,Que fizeste questão de me ensinar à exaustão;Se a dureza que me deste para tratar meus irmãos...Se essas vivências, de repente, são bem aceitas,A quem vou anunciar com prazer imenso:“Pai sou como tu!”?E agora?Se tudo continua vivo e misterioso,“Por que foste embora, teu puto!?”
(ALEXANDRE CIMATTI, eterno filho)
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