Neste livro de estreia, entre outros versos denunciantes, encontraremos estes: “Quando a cor da pele repele / Instaura-se o impasse, / O nó indesatável do preconceito”. A poesia que incomoda é a mesma que mais adiante nos encanta: “Coração é folha seca, / pena de passarinho à deriva, / quem traça o caminho é o sopro do vento.” Há, ainda, nestas páginas, poemas que nos lembram os concretistas, feitos de versos que se desenham em forma e conteúdo (vide, por exemplo, os poemas Crepúsculo de Guaratinguetá e Metrópole Concreta). Somam-se a esses, as belas construções poéticas e alguns deliciosos jogos de palavras (no desfecho de um poema “quem disse” soa-nos, oportunamente, como “crendice”). Versos ricos em sutilezas semânticas, que colaboram para uma leitura ao mesmo tempo instigante, envolvente e inquietante. Há outras facetas, leitor, outras qualidades na poesia de Eryck Magalhães. Não perca tempo: descubra-as.
Wilson Gorj
Vértice
Uns dizem orixá, outros santo
uns dizem catolicismo, outros candomblé
uns a chamam de Iemanjá, há quem a chame de Maria
uma dizem que é religião, a outra crendice
mas quem disse?
Eryck Magalhães
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