Havia alguns meninos na praça, cinco ou seis no máximo, o mais velho devia ter entre dez e onze anos, não mais que isso. Estavam sujos, afoitos, dividiam entre sí pedras acessas e sacos de cola. À luz do dia, as pessoas passavam a uma distância segura – talvez o termo correto a usar seja a distância da indiferença. Logo, estavam mais agitados, e um deles, pegou umas bolas coloridas e começou a jogá-las, a principio ria, e ria, era um malabarismo perfeito, delicado... cronologicamente perfeito, um segundo, um deslize e tudo poderia ruir... (com a vida deles é exatamente assim). Seguiu-se o barulho, a alucinação. Anoitece, no escuro, as pedras acessas iluminavam os olhos das pequenas faces. Madrugada, vários tiros, os gritos, tiros - toda matança é rápida e sombria.
Na manhã seguinte, seis sacos pretos cobertos na praça, seis sacos pretos cobertos na praça, as bolas coloridas de malabarismo descansavam num canteiro. Seis sacos pretos cobertos na praça, seis sacos pretos cobertos na praça e ninguém reclamava pelos meninos da cola, do crak, dos malabares, eram apenas seis sacos pretos cobertos na praça. Retirados, rapidamente, homens lavavam, esfregavam, e a praça limpa devolvida ao povo.
Quem puder dormir, que durma.
Bom sono.
Tonho França.
3 comentários:
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mural do ajosan
on
24 de setembro de 2010 às 23:56
É, meu amigo, o pior é que isso é a nossa realidade; muito oportuno. Abraços.
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Anônimo
on
25 de setembro de 2010 às 10:05
Tonho,
Fiquei com vontade de ler mais prosa sua. Não falo nem da abordagem do tema - que se você o fizesse em poesia também ficaria ótimo. Falo do estilo, do modo como escreveu. Bela prosa poética. Esquero que nos brinde com outras.
Abraços.
W.G. -
JURA
on
25 de setembro de 2010 às 13:27
PROSA, MAS PROSA DE UM GRANDE POETA
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