Observo a caixa onde o último charuto descansa
Há uma certa elegância no aroma do Cohiba
Ainda pousa sobre amarelados papéis
a caneta de pena importada
o relógio de bolso em ouro
(ambos herança de meu avô)
já desfiz-me de tudo que era precioso
perdi-me de muitos rostos caros e amigos
e morri um pouco em cada mulher que amei
hoje o tom escuro repousa em quase todas minhas roupas
e meu peito e braços são de cinzas e barro
sou feito de cinzas e barro
e toda essa profusão de sons, cores, pessoas
são estranhas ao meu olhar.
Relembro na pausa de um suspiro (lento)
Toda minha vida
pouca coisa restou de uma época e de mim.
Os últimos poemas ainda insistem na memória
Eles tem a alma, o ritmo e o segredo dos mares
E toda noite, condenam-me veemente
ostentando sobre as ondas, brados revoltos
em espumas claras-intensa-reluzente
A face de todos meus “eus” mortos
Tonho França
3 comentários:
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Duda Araújo
on
27 de outubro de 2010 às 21:50
Gostei Tonho. Um sóbrio einspirado navegar sobre as ondas do passado e presente; e é um presente para nós.
Vale u. Congratulações -
JURA
on
28 de outubro de 2010 às 09:18
poeta de sete faces, lindo, Tonho
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mural do ajosan
on
30 de outubro de 2010 às 22:19
Dentre tantos versos poéticos no poema, poeta, destaco este que é demais! "...e morri um pouco em cada mulher que amei..."; parabéns.
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