uma tristeza, uma quietude
um ensimesmamento
sem efeito
pausa
sem causa.
agora terei tempo de me esconder e chorar sozinho no meu canto
terei tempo de ouvir aqueles pássaros, saborear aquela letra
cochilarei enquanto sentir cheiro de café
terei tempo de reclamar do tempo.
convite de lançamento do espaço dos escritores
Por Fabiano Fernandes Garcez | 12/17/2010 09:49:00 AM em Fabiano Fernandes Garcez, Poesia, Poesias, São Paulo, versos | comentários (0)
Quando olha o espaço
sabe da vertigem
nas músicas
em tom menor
dança sobre o nada
e a orquestra em cordas
o sustenta
a maciez da voz
o embala no gravador
o espaço permanece
na ocupação do corpo
ao término da música
o silêncio parte o vazio
onde se cala o corpo
sustenido.
(Pedro Du Bois, A RECRIAÇÃO DA MÁGICA, III, Edição do Autor)
Confuso espírito
atropeladas ideias
sensação de perda
infinita
configuro o espírito
idealizo ideias: sensação
de infinita perda
extremada mãe
insubstituível pai: infinita
perda insensata.
(Pedro Du Bois, LIVRO DO NADA, Edição do Autor)
subjetivo
Por valéria tarelho | 12/12/2010 10:12:00 AM em Poesia, São José dos Campos, Valéria Tarelho | comentários (2)
vale vasto
vago vácuo
onde verso
viro vivo
são josé
dos campos
que versejo
- invisível -
invisto
invento
invalido
o prefixo
:
visto
vento
vale [nave]
me leva
que eu voo
valéria tarelho
Geração de luzes apagadas
escuros palcos periféricos
som
movimento
corpos
esperados gestos inacabados
não há amor entretanto
acredita no começo
e nas luzes enquanto acesas.
(Pedro Du Bois, A LUZ DESPOSSUÍDA, Ed. do Autor)
Paixão é quando os corações são imãs um do outro.
Com o beijo dos olhos,
o poema despertou.
Declamei-o.
Seus versos espreguiçaram.
No último bocejo,
a poesia voou.
trago inoculada a peçonha
oposta forma de desprezo
fechando auroras em vésperas
inodoras dos corpos
exangues
opostos ao desejo
inventado em infâncias
de brincadeiras: sustos
tombos
irresponsabilidade
(muitos caminhos se fecham às costas
dos que voltam).
(Pedro Du Bois, APRENDENDO A VOLTAR, VI, Ed. do Autor)
Já foste hoje ao seu quintal?
Já viste os pássaros que encantam suas árvores
E se nutrem dos pequenos insetos
Que se abastecem do que é chão e alto?
Já deixaste entrar aquela réstia que vem dele
E aquela brisa com cheiro de verde?
Já pisaste na terra e sentiste os pés se acomodando
em suas origens?
Versos sobre a obra CAMINHOS de ROBERTO MENDES
Por JURA | 11/27/2010 02:00:00 PM em | comentários (1)
Modestos bentosgonçalves
de lutas imodestas
fugas e avanços
serviços curtos
do passado o sonho
imortalizado no nome
da estátua
da rua
da avenida
da cidade
do município
barata forma de irrecusável
lembrança e dívidas impagáveis
de anos passados
ao mesmo tempo
do acordo
em que bentosgonçalves
lembram a epopéia
as mortes
o dia amanhecido
no frio rio
a separar
os lados
lado a lado
ao lado
do lado
pelo flanco
descuidada história
esfria o nome
e marca horas
paradas.
(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. V)
Domingo pra ouvir o ventinho fino que entra pela janela,
Ouvir os Bem-te-vis que cantam com a euforia do acasalamento,
Domingo pra ficar quietinho ouvindo o tempo passar
Ouvindo o ventinho fino que entra pela janela.
Por JURA | 11/18/2010 05:49:00 PM em | comentários (3)
Sobre as árvores o vento
sofre o suficiente
diz o pássaro.
Submerso peixe afirma ao vento
nada ter com isso.
Para envolver ares em ventos:
subjugar as terras e os animais
ao solo, diz o bicho estático
até que o vento o leve
pelos ares em águas submersas.
(Pedro Du Bois, O DIA (A)FINAL, 1, Edição do Autor)
Por Cláudio Costa | 11/15/2010 11:00:00 PM em | comentários (1)
TRUE LOVE
Dia desses pintei uma mentira e a pendurei no meu quarto.
Os anos passaram, mas ela não envelheceu.
A parede e suas vozes presas
Meus olhos em musgos e saudade
A pele em poros de luz e som
E essa mão antiga e fatigada
É herança de minha alma
Moldada em um barro antigo
Viscoso, poroso, aromatizado
Com a brisa do sopro de vida
Houve um tempo que os barros moldavam as almas
As casas, as tabernas, os pássaros, os céus, além dos céus
Houve um tempo, que a vida era gerada pela própria vida
No âmago do barro
E todo o mais, deriva-se daí
o oceano e os frutos, os anjos,as constelações
os deuses, as flores, o amor, as conchas, as sereias
as fadas e a lendas, as dores, a saudade
o amor e as distâncias
a musica e o vento
as palavras e os versos
algumas noites, pouso meus ouvidos na taipa
E poeta secular que sou, ouço a respiração do barro
As vozes das paredes vivas
E todas as histórias cavalgam em imagens
-The wall and its closed voices-
eu ouço, eu posso ouvir
Tonho França
...
a barganha abrange o sofrimento
e a oração despenca vozes cabisbaixas
de medos e certezas, âmago afogado
de carícias indóceis em mãos úmidas
no sofrimento ultimado das canções
pede ao outro que o represente ao dia
desmerecido dos aplausos e traz nele
o outro e os outros acompanhados
na mesma solidão em que se esconde
e se altera em essência: seus demônios
resplandecem auras e não é mais
você quem está em frente à porta
na saída incômoda com que se sabe
derrotado e inútil naquela hora.
(Pedro Du Bois, O NASCER DOS ARES E DOS PÁSSAROS, 3, fragmento, Vol. I, Ed. do Autor)
Avanço
entro
encaro a face
que me olha
olhos piscam
na demora
do reconhecimento
avanço
passo
encaro
o desconhecido
que não olha
triste
maneira de não ser visto
avanço
sobre o tempo e as horas
perdidas desde sempre.
(Pedro Du Bois, PASSAGEM PLURAL, Edição do Autor)
desgoverno
Por valéria tarelho | 11/02/2010 10:31:00 AM em Poesia, São José dos Campos, Valéria Tarelho | comentários (1)
sem planos
nem planaltos
sim ?oes!a
fêmea
- eleita -
que dita
meu poema
[sem pt
nem vír
gula]
valéria tarelho
*cartoon de doug savage
nuvens pesadas deixam
minhas asas cansadas
assim poesia mal passa
do céu de casa.
das iminências
Por valéria tarelho | 10/29/2010 12:33:00 PM em Poesia, São José dos Campos, Valéria Tarelho | comentários (2)
Há liberdade da imprensa?
Por Fabiano Fernandes Garcez | 10/29/2010 11:11:00 AM em Fabiano Fernandes Garcez, São Paulo | comentários (2)
por Fabiano Fernandes Garcez
Você conhece aquela anedota do rapaz que passeava próximo ao estádio do Morumbi e viu que um Pit Bull iria atacar uma criança, então um homem aparece e mata o animal, salvando a garotinha. O rapaz, comovido com a cena, se identifica como jornalista e diz que colocaria a seguinte manchete em seu jornal: São paulino salva garota indefesa de animal feroz! O homem agradece, porém diz que não é são paulino e sim corintiano, no dia seguinte a manchete é: Corintiano assassina animal de estimação!
O interessante da piada, além da brincadeira com o clichê futebolístico e preconceituoso, é a reflexão que podemos tirar das manchetes, afinal, nenhuma delas é mentira. O Pit Bull é feroz e também é um animal de estimação, porém ao escolher determinadas palavras o autor do texto acaba por revelar um determinado juízo de valor, ou seja, o fato não foi fabricado, como acontece com muitos fatos no campo do jornalismo esportivo, no entanto a forma de transmissão desse fato foi manipulada. Nenhuma escolha semântica passa incólume, cada palavra que usamos a escolhemos para servir às nossas convicções, ideais, ideologias e, principalmente, interesses.
Nestes últimos dias, período de eleição, podemos notar que as grandes instituições jornalísticas —rádios, TVs, sites e jornais—, estão preocupadíssimas em eleger seus candidatos preferidos, —é necessário dizer que a maioria prefere o mesmo candidato? Jornalistas, articulistas, colunistas, cronistas publicam em seus espaços tentativas de justificar suas escolhas eleitoreiras ou seria a tentativa de induzir o leitor? É como escolher um dos termos animal feroz ou de estimação e depois apresentar justificativas para isso.
Alguns argumentos utilizados por esses jornalistas é o fim da liberdade de imprensa, porém muitos se esquecem que o fim da liberdade de imprensa começa dentro da própria imprensa, vide o caso, mais recente, da colunista Maria Rita Kell que foi demitida por defender o Bolsa Família em sua coluna no Estado de São Paulo, outro foi a saída do jornalista Heródoto Barbeiro do comando do programa Roda Viva, da TV Cultura, por fazer uma pergunta ao candidato José Serra sobre os caríssimos pedágios das estradas paulistas, ainda na TV Cultura existe outro caso, mais antigo, a jornalista Salete Lemos foi demitida por justa causa do jornal noturno da emissora por criticar as tarifas ilícitas cobradas pelos maiores Bancos brasileiros. Há alguns meses conversando com um jovem jornalista, jovem no sentido estrito da palavra, sem a atribuição de um valor negativo como: imaturo ou inseguro, me confidenciou que duas de suas matérias foram recusadas por seu editor, uma delas, sobre problemas de uma escola estadual, porém ele conseguiria atribuir o problema, não me lembro qual era, a União, a outra não poderia ser publicada por falar mal de “nosso patrão”, o governo do Estado de São Paulo.
No dia 27/10/2010, vi a capa do jornal O Estado de São Paulo e não havia nenhuma manchete sobre o escândalo da vez: A paralisação das obras do metrô de São Paulo por denúncias de fraude na licitação da linha Lilás. O que isso prova? Que a imprensa vive sobre a ditadura ideológica de cada jornal ou emissora ou até mesmo da instituição patrocinadora desses veículos, só um exemplo o contrato do Governo de São Paulo com o Grupo Abril é de R$ 3,7 milhões. Resta saber se que ouvimos, lemos ou vemos são realmente opiniões de seus autores ou é apenas a ordem dos donos dessas instituições, porque sabemos que caso discordem não se manterão no emprego.
O jornalista Heródoto Barbeiro quando entrevistado, disse que a função da imprensa é ser neutra, porque ninguém é imparcial, pois, segundo ele, somos humanos e temos opiniões e convicções. Será que a imprensa de hoje é mesmo neutra ou está mais para cabo eleitoral?
O leitor atento e crítico tem ferramentas para diferenciar cada caso, no entanto de todos os leitores do Brasil, quantos são atentos e críticos?
Infelizmente hoje a grande mídia reflete o bipartidarismo da cena política brasileira. Político com rabo preso é encontrado aos montes, não que isso seja natural, não é, mas menos natural ainda é jornalista com rabo preso. Tenho que fazer justiça aos pequenos diários de bairro e sites independentes onde a neutralidade ainda existe e é perceptível, diante disso surge a questão nas grandes instituições jornalísticas há liberdade de imprensa?
Obs.: Todos os dados mencionados aqui são facilmente encontrados em uma rápida procura em sites busca ou de vídeos, exceto, é claro, o que contei por ter vivido ou ouvido, não mencionei nomes por colocar em risco o emprego de terceiros.
2º Lugar VARAL DE POESIAS Maringá - 600 inscritos Brasil e exterior.
INSTANTES Rhosana Dalle
Um toque na corda,
Um som,
Um assopro e apaga a vela,
Uma essência de um perfume,
Um brinde,
Um susto:
Tudo dura um instante...
Um lampejo de memória,
Um relâmpago no horizonte,
Um beijo roubado,
Uma idéia do nada:
Tudo dura um instante...
Um abrir e fechar de olhos,
Uma estrela cadente,
Um puxão na linha que amarrava o dente,
Uma palma de uma salva,
Um tiro de uma rajada:
Tudo dura um instante...
Um estalar de dedos,
Um momento de prazer,
Uma pose de foto,
Um flash,
Um milésimo,
Um centésimo,
Um décimo:
Tudo dura um instante;
E um instante dura nada,
Mas de instantes faz-se tudo...
Pindamonhangaba, Setembro 2010.
Observo a caixa onde o último charuto descansa
Há uma certa elegância no aroma do Cohiba
Ainda pousa sobre amarelados papéis
a caneta de pena importada
o relógio de bolso em ouro
(ambos herança de meu avô)
já desfiz-me de tudo que era precioso
perdi-me de muitos rostos caros e amigos
e morri um pouco em cada mulher que amei
hoje o tom escuro repousa em quase todas minhas roupas
e meu peito e braços são de cinzas e barro
sou feito de cinzas e barro
e toda essa profusão de sons, cores, pessoas
são estranhas ao meu olhar.
Relembro na pausa de um suspiro (lento)
Toda minha vida
pouca coisa restou de uma época e de mim.
Os últimos poemas ainda insistem na memória
Eles tem a alma, o ritmo e o segredo dos mares
E toda noite, condenam-me veemente
ostentando sobre as ondas, brados revoltos
em espumas claras-intensa-reluzente
A face de todos meus “eus” mortos
Tonho França
Avança o corpo
ao encontro
a música dirige os passos
entrelaçadas mãos
sôfregas
o corpo sente o avançar
do corpo
fremem
tremem
se encostam
o sofá recebe a música
onde os corpos
recomeçam.
(Pedro Du Bois, A RECRIAÇÃO DA MÁGICA, Ed. do Autor)
Para viver[:] poesia
Por Diniz.DL | 10/24/2010 03:23:00 PM em Cachoeira Paulista, Crônicas, Diego Leão | comentários (2)
Durante a semana que passou uma pergunta rondou o Grupo VALEFOCO e alguns estudantes e colaboradores do Senac de Guaratinguetá: o que é poesia? Respostas foram sugeridas, caminhos indicados e eu, pessoalmente, permaneço à margem da discussão e continuo sem saber ao certo o que é essa tal poesia.
Rima pobre, rima rica, versos decassílabos, métrica, concretismo, jurandismo... tudo isso me escapa e imagino que não faz parte do saber cotidiano da maioria das pessoas. Professores de literatura e alguns escritores mais afortunados podem muito bem entender de tudo isso, mas não o resto de nós, mortais de fora das academias.
Mas (e este é um "mas" muito importante), não é bem assim que a banda toca. Aliás, o tocar da banda pode ser poesia, ao que tudo indica. Poesia é, antes de qualquer outra coisa, abrir o espírito ao mundo que nos cerca e deixar que ele nos encante, nos revolte, nos emudeça, nos faça gritar a plenos pulmões. Cada pequeno evento que testemunhamos é imenso de poesia: a infinitude do universo contida no som de uma gota de chuva atingindo a janela de vidro entreaberta numa tarde de domingo na pausa entre uma frase e outra numa conversa de amigos - aí há poesia!
A poesia, me parece, está na capacidade do ser humano em se deixar emocionar. E se a emoção puder ser vertida em palavras, se essas palavras puderem se tornar versos, se esses versos tornarem-se poemas e se esse poema tocar a alma do poeta e do seu leitor, aí sim encontraremos poesia.
Poesia não é academia, não tem regras, não tem lei: ela tem ritmo, tem equilíbrio e tem sentimento - coisas que falam ao espírito das pessoas, não necessariamente à razão. Traz consigo imagens belas, grotescas, sublimes, chocantes e cotidianas, mas sempre com um "não-sei-bem-o-quê" que nos toca. E, como afirmou o amigo Jurandir Rodrigues, ela comunica algo de universal sobre o cerne do que é ser humano.
Em contrapartida, o ser humano, isso a que se pode chamar de condição de nossa existência, é extremamente dependente da poesia: por meio dela suportamos as dores de um amor terminado, gritamos contra as injustiças do mundo e, quando a inteligência e a criatividade permitem, protestamos contra os desmandos de nossos irmãos sem que eles percebam.
Há algo de simbiótico entre a poesia e a humanidade e esta não existiria sem aquela. Se no fim da semana que passou apenas uma pessoa tiver chegado a uma percepção semelhante, fico convicto de que o trabalho dos poetas caminha na direção certa: uma alma salva vale por um milhão.
minha lágrima é mais norte que sul
mais noite que girassol da cor de seu cabelo.
mais norte que sul mais Minas que mar
mais serra, mais Bocaina que retidão.
minha lágrima é mais forte que nua
mais açoite e mais torta que zelo
mais morte que tudo, lapídar
mais espera, mais faina que mansidão.
Feira itinerante de troca de livros no Senac de Guaratinguetá
Por Eryck Magalhães | 10/21/2010 01:41:00 PM em | comentários (0)
...
palavras depositadas onde a vista alcança
a vergonha recolhida em cálices quebrados
de tintos vinhos indignados das ultrapassagens
dos cortes
das elipses
das metáforas
diariamente esquecidas em cofres lacrados
abafados
retirados
acontecidos
em choros contritos onde a miséria reacende
o mistério em que não reaproveitamos
o caminho: a violência se apresenta
e se diz dona dos espaços em branco
vagos nas desinformações constantes.
(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. I, Edição do Autor, fragmento)
ACONTECÊNCIA
A mulher que chora,
em meio aos galhos retorcidos e secos
que invadem enxeridos a janela
de um quarto triste e de meia cor
meio verde bolor meio marrom poeira
fortemente desprotegido pela porta,
simples, de bambus unidos a barro à força das mãos
e desenfeitado por um retrato sem sorriso
de cores desbotadas de uma mãe-filha e de um filho-pai
que apontam no peito seus corações de desenho pressupondo fé,
fé que não se tem no telhado a aguardar a próxima chuva
que molhará o lençol remendado pelo tempo,
ajoelhada ao pé manco da cama velha
sem saber o que esperar do amanhã
a mulher se recorda que esqueceu de sonhar ontem
A deixei ali
chorando
eterna acontecência.
A LUA EM FORMA E CONTEÚDO
Lua
Luada
Enluarada
Linda Lua
Enluarada Lua
Enluarada lua
Linda Lua
Enluarada
Luada
Lua
Às minguas das noites
um pio de coruja solitária
na torre da velha igreja barroca
Cheia, somente a cama,
de espaços preenchidos
com tecidos de Angola
Agora, vejo crescente
horas rápidas que, como legendas,
traduzem nosso tempo
Nova é a solitária poesia noturna
sem lirismo contido
mas à companhia da lua
HOMEM TORTO
Alguns livros sobre a cama
Algumas lembranças na memória
Algumas palavras soltas no vento...
outras na cor do tempo
A solidão acompanha
o homem torto caído na cama
e a genética africana
assola seus sonhos
Fora do quarto,
a sociedade inflama
suas emoções
_ A culpa é dela!
HOMEM-RELÓGIO
Há mãos que tremem diante do já
Um já tão completo de agora
que transforma o daqui a pouco
em reflexo do que já foi
Esta é a escassez do homem
aquele cuja face conta histórias
de sonhos que não viveu.
As histórias são fatos, lembranças ou imaginações
que o tempo se encarregou de
fazer escorregarem entre os dedos
restando somente reflexos
Somos todos
um imenso emaranhado de ponteiros
em relógios que não sabem a hora de parar
Tudo em volta é um grande daqui a pouco jaz.
interlúdio
Por valéria tarelho | 10/18/2010 09:01:00 AM em Poesia, São José dos Campos, Valéria Tarelho | comentários (3)
há uma
loba lua
de língua lábil
a lamber
libido-lembranças
no lóbulo
do olvido
há uma
felina dúvida
que arranha
uma ursa sina
que abocanha
uma víbora sanha
assaz
tirana
duvido do bis
do vis-à-vis
da lábia vez
(au
daz)
que ainda uiva
idas luas
insinua
íntimas unhas
crava nu[n]cas
inocula
sua peçonha
façanhas
de um céu insone
sobre insignes
arranha-cios
valéria tarelho
* imagem: Madrugada Interdita , de Carlos Botelho
Em nosso tempo...
Por Diniz.DL | 10/15/2010 09:23:00 AM em Cachoeira Paulista, Crônicas, Diego Leão | comentários (0)
Eu não rezo. Costumo conversar muito comigo mesmo, com as plantas e com os animais (inclusive os humanos), mas não sou panteísta - penso eu. Muito me interessa conhecer as crenças das pessoas e aprender um pouco mais sobre as várias denominações religiosas que existem. Mas não me interessa tanto saber se fulana ou sicrano comungaram na missa de domingo antes de continuar a campanha "em favor da vida, da família e da liberdade".
O discurso dos candidatos assumiu um tom absurdamente reacionário, em diversas ocasiões, e as lideranças religiosas buscam compromissos de candidatos na manutenção daquilo que eles acreditam ser o correto - a tal "Verdade" (letra maiúscula e embasado nalgum livro sagrado sem revisão editorial há quase dois mil anos).
Temas como união de pessoas do mesmo sexo, legalização de drogas, liberdade de expressão e religiosa e o aborto são de grande relevância no âmbito religioso e as opiniões das pessoas que representam a parcela temente a algum deus podem e devem ser manifestas e levadas em consideração. O que não se pode admitir é a hipocrisia de se buscar uma aproximação com ditas facções religiosas (a nomenclatura diz somente com as cisões dentro das crenças, não fazendo alusão a movimentos terroristas ou criminosos), ainda mais quando se percebe nisso um interesse eleitoreiro.
Programas de partido e de governo foram reescritos, discursos no horário eleitoral quase ganham tom de pregação e são enaltecidos valores que até pouco tempo não teriam tanta relevância.
A discussão daqueles temas listados acima não é monopólio da fé e o Estado não pode assimilar tal perspectiva. Há que se possibilitar a abertura do debate e considerar o que toda a população anseia. No caso que considero menos polêmico, a união civil de pessoas do mesmo sexo, não vislumbro qualquer impecilho à inovação legal. A lei brasileira pode normatizar tal união, especialmente a fim de resguardar os direitos dos conviventes e, talvez, até mesmo possibilitar a adoção e regulamentar a guarda da criança, sem que seja afetado o Direito Canônico - a lei brasileira não poderá, assim, forçar a Igreja a casar pessoas do mesmo sexo... e fica cada um na sua.
Poderia ainda ser o caso de ouvir o que a população tem a dizer, convocando referendos ou plebiscitos e determinando, de forma patente, o que demanda a maioria da população em temas mais polêmicos como a legalização de drogas ou o aborto.
No fim das contas, cabe ao eleitor depositar sua fé nalgum dos candidatos e esperar que eles sejam caridosos o bastante com o povo brasileiro e realizem um governo verdadeiramente bom. Graças a Deus.
No exílio em mim mesmo
passeio tranquilas saudades
em parques verdejantes. Viajo florestas
e mares. Estou na solidão da espera:
avisto navios ao longe.
Não tenho curiosidade em aportar
ao marujo e pedir noticias.
Não é minha hora de chegada.
Retorno na calmaria: ondas
maravilham a terra escorraçada,
meu corpo ilhado em pedras.
Chegar é mistério atravessado ao fio
do desencontro.
(Pedro Du Bois, inédito)
Vinte e um anos
turbulência e insegurança:
anseia que repitam
de forma doce
o amor e o ardor
que como fogo
o consome
sonhos eróticos de pernas
e peitos em segredos
e intimidades
participa: olha
e espia
sonha realidades
em saudades e lembranças
(in)compreendido amor.
(Pedro Du Bois, NÚMEROS RECONTADOS)
Prazeres menores
Fúteis fazeres
Dizeres noutrora
Sérios saberes.
Minhas pálpebras lentamente caem...
Estou sob o efeito lunar.
Doçura... Isto mesmo!
Farelos doces caem da lua.
Estou recoberto da docilidade dos sonhos encantados.
(Assim são as poesias que os anjos entregavam).
Nua chuva
Por Duda Araújo | 10/04/2010 01:09:00 PM em chuva, menina, molhar, olhar, voar | comentários (0)
A noite, de madrugada
Na rua, na calçada
Na rede, no embalo
Vem menina
Na chuva
Se molhar
O seu olhar
Sereno
A me olhar...
Todos os beijos
Comemorar
Te conhecer
e te deixar na chuva
é te ter
Eu sou a gota
nos seus lábios
me precipito
pra chegar
e te ver
Hoje é o dia
Deixe-se tocar
mesmo de longe
pra nos alegrar
viajar num segundo
esquecer do mundo
e voar
Duda Araújo
A pilhéria após o almoço
.....................lento engano: o lustre
...............................desligado
...............................na luz do dia.
...............................Durante o jantar a pilhéria
...............................renovada em pratos
..................................................revela inverdades.
.....................Não me interesso pelos nomes
.....................arremessados ao fundo da sala.
...............................A noite recolhe as luzes
...............................e o lustre permanece
...................................................intocado.
(Pedro Du Bois, A PALAVRA DO NOME)
Dorme donzela
Por Duda Araújo | 10/02/2010 09:13:00 PM em anjo, Donzela, dorme, Duda, juventude | comentários (1)
Dorme donzela
Que a sua janela
Não há de abrir
Dorme donzela
Que lá na capela
Teu sono ainda vela
Um anjo a sorrir
Sem cair no abandono
Sem deixar de existir
Toda a luz dos teus sonhos
Na esperança há de vir
Dorme que a sorte
Há de sorrir-te com jeito
Há de trazer-te um dia
O teu amor perfeito
E o brilho dos teus olhos
Recuperando a plenitude
Há de refletir
A tua eterna juventude
Duda Araújo
Só sabia de uma coisa, seu voto não seria em branco.
Ninguém acredita
Que eu tome café sem açúcar
Uns dizem argh, outros urgh
Me dão adoçantes
e olhares estranhos
Se é normal
Se é expresso
As vezes se espantam
Quando peço
E ainda me estranham
Acham graça, duvidoso
Que meu café sem açúcar
Continue gostoso
Pois a vida pra mim já é doce
e mesmo se não fosse
Meu café continuaria
Em casa ou
Na padaria
Com o gosto verdadeiro
Sem tirar nem por
Pois eu curto o sabor
do meu café brasileiro
Duda Araújo
A linha caminha
O ponto é ponto
No encontro, três pontos
São reticentes
Mas em fila indiana os pontos
bem juntos são uma linha
até onde ela se alinha
curva ou reta
com ou sem meta
cria forma
e o ponto informa
que é o fim.
ou não
aí é outro ponto
de interrogação
Duda Araújo
Palavra:
mentira
exposta
fratura temporal
quebrada ao silêncio
em que o mundo
exposto
mostra o mal
bem dito
bendito trecho
intercalado no discurso
antecedente ao clímax
orgasmo posto
chama: palavra
queimada ao equilíbrio.
(Pedro Du Bois, ALGUMAS PALAVRAS)
Um poeta quando encontra outro poeta, fica estupefato, estranha demais: “Nossa, outro lunático, outro que fala sozinho, que levanta no meio da noite pra anotar um verso para a noite de sono não apagar.”
Um poeta quando encontra outro poeta, fica estupefato, estranha demais, mas fica feliz, e troca versos e ideias e convida o outro poeta para um café ou um vinho.
Havia alguns meninos na praça, cinco ou seis no máximo, o mais velho devia ter entre dez e onze anos, não mais que isso. Estavam sujos, afoitos, dividiam entre sí pedras acessas e sacos de cola. À luz do dia, as pessoas passavam a uma distância segura – talvez o termo correto a usar seja a distância da indiferença. Logo, estavam mais agitados, e um deles, pegou umas bolas coloridas e começou a jogá-las, a principio ria, e ria, era um malabarismo perfeito, delicado... cronologicamente perfeito, um segundo, um deslize e tudo poderia ruir... (com a vida deles é exatamente assim). Seguiu-se o barulho, a alucinação. Anoitece, no escuro, as pedras acessas iluminavam os olhos das pequenas faces. Madrugada, vários tiros, os gritos, tiros - toda matança é rápida e sombria.
Na manhã seguinte, seis sacos pretos cobertos na praça, seis sacos pretos cobertos na praça, as bolas coloridas de malabarismo descansavam num canteiro. Seis sacos pretos cobertos na praça, seis sacos pretos cobertos na praça e ninguém reclamava pelos meninos da cola, do crak, dos malabares, eram apenas seis sacos pretos cobertos na praça. Retirados, rapidamente, homens lavavam, esfregavam, e a praça limpa devolvida ao povo.
Quem puder dormir, que durma.
Bom sono.
Tonho França.
Mágico aroma dança no ar.
As damas-da-noite se abrem...
Tonho França
Teu amor
traduzido
em estrelas
teu amor
emaranhadas ondas
do meu mundo
teu amor
infinito
sobre o restante
meu destinado
vulto contra o vidro:
recôndito ser.
(Pedro Du Bois, DOS AMORES, 6)
Podemos ser tão velozes
como os cavalos em galopes
têmpora de temporais
com almas de vendavais
temporada de flores e florais...
chama de fogo na partitura
risos de menino na noite escura
do nunca mais
do nunca mais
ainda nos pintamos
com água viva, a própria vida
e assim
como se fossemos
ser como se fossemos
se não fossemos mais
ainda tão iguais
podemos ser para sempre
já que o sempre
já não é mais
já não é mais
presente
e o futuro que sorri aí ao lado
já é passado
já será passado
Só não acorde
Só não acorde
Vem
Ainda nos vemos tão jovens
Quanto a menina de jardineira
A vida inteira
A vida inteira
Os sonhos nascem nas íris matinais
Não espere mais
Só não espere mais
Temos todas as canções da vida
E eternos, como só os sonhos são
Só os sonhos são
podemos ser para sempre
já que o sempre
já não é mais
já não é mais
presente
e o futuro que sorri aí ao lado
já é passado...
Tonho França
O toque púrpura suave do fim de tarde
Colhe o cântico das nuvens.
Nos quintais, as jabuticabeiras
Reluzem um aroma mais adocicado
(talvez típico dos meses de agosto)
Na partitura que rege o universo
Faz-se uma pausa quase que celeste...
Meu olhar, antigo e cansado
Pousa na simplicidade de uma flor amarela
Em um canteiro qualquer.
O momento faz-se eterno
Ainda assim, não me rendo às orações.
Em um silêncio íntimo
Sorvo de um chá de limão e canela
E brindo à vida
Que tudo é
Na pequena flor amarela.
Tonho França.
Um Sábado de Aleluia possível
Por W.G. | 9/19/2010 09:56:00 AM em Aparecida, Contos e Micronarrativas, Wilson Gorj | comentários (1)
Carregando o Judas, a molecada para diante da "biqueira".
Gritam:
- Queremos pe-dra! Queremos pe-dra!
E o traficante manda bala.
Cena para um haicai
Por W.G. | 9/19/2010 09:54:00 AM em Aparecida, Poesia, Wilson Gorj | comentários (2)
A Salada
Por Diniz.DL | 9/18/2010 07:05:00 AM em Cachoeira Paulista, Crônicas, Diego Leão | comentários (1)
Tenho uma vontade absurda de escrever e debater sobre um determinado tema, mas, por uma questão institucional, eu não posso. Resolvo então falar sobre minhas preferências gastronômicas e as de alguns amigos.
Algumas classes de alimentos são mais interessantes que as outras, como as frutas - que eu considero de importância federal - e por isso me dedicarei a elas por hora. Muitos hoje em dia parecem preferir o morango: vermelho, pequeno e um pouco azedinho, promete um contínuo banquete de delícias a todos, com uma presença bem difusa de seus benefícios. Existem aqueles que, contudo, preferem laranjas (dentre as quais faz um sucesso danado a laranja-serra-d'água), que tentam resgatar uma tradição já anterior do nosso país e seus defensores apontam para um estado melhor de coisas quando as frutas desse tipo eram as preferidas.
Mas pouca gente fala do kiwi, uma fruta mais exótica, de aparência meio frágil e completamente verde, evocando uma consciência ambiental e sustentável - diria eu mesmo. Muitos de meus amigos preferem o kiwi, mas ao que tudo indica o kiwi não teria chance nem pra presidente do Brasil. Ainda assim, gosto do kiwi. Mas respeito e até mesmo concordo com quem gosta do morango vermelinho e da laranja-serra-d'água, pois, em última análise, devemos escolher a fruta que nos parece melhor - vivemos, afinal, em uma democracia.
Existem ainda muitas outras opções de frutas, cada uma mais singular que a outra, e muitas pessoas gostariam de prová-las e poderiam até mesmo preferí-las a quaisquer outras, mas temem escolher uma fruta sem maior expressão e que não chegaria com sucesso à salada da sobremesa.
As pessoas se esquecem de que a escolha individual é justamente assim, solitária. Como tal, deve ter em consideração somente aquilo em que acredita a pessoa, aquilo que ela preza e respeita, não a vontade de outras pessoas, mesmo que sejam uma maioria esmagadora.
Nossa salada de frutas não precisa ser limitada ao morango ou à laranja e nem mesmo ao kiwi. É preciso trazer novas variedades, novas espécies e enriquecer cada vez mais a sobremesa do brasileiro que, depois da festa, quer mais é poder relaxar com a consciência de que escolheu a fruta que é nelhor para ele.
Os motores cochilam cavalos invisíveis
Haikai do outono
Por mural do ajosan | 9/14/2010 08:30:00 PM em afonso, Caçapava, haikai, outono | comentários (2)
folhas do outono
varridas pelo vento
- chegando inverno –
Mantém a postura, o rei está vendo; eleito
teria a mesma pose, é do engodo a autoridade
como o todo completado; sua voz grita sobre
verdades e cobra o sentido do caminho, a terra
urbanizada; o vizinho, a mulher da vida, a criança
depositada ante a porta ainda fechada.
(Pedro Du Bois, A DIFERENÇA ENTRE OS DIAS, 4)
Nanoconto de Sexta-feira
Por W.G. | 9/11/2010 04:50:00 AM em Aparecida, nanoconto, Wilson Gorj | comentários (2)
Na ilha deserta, Robson recluso é.
Poeta que me edita.
Reflexão sobre não ser poeta.
Por Diniz.DL | 9/10/2010 10:45:00 PM em Cachoeira Paulista, Crônicas, Diego Leão | comentários (1)
Não deve haver honraria maior que o convite de um poeta para participar de um seleto grupo de escritores, não só lendo ou ouvindo, mas também compartilhando as parcas linhas que se possam produzir. Gosto de pensar que, no meu caso, o mérito todo reside nalguma percepção única de algum potencial oculto que o convidado pode possuir, mas que somente é plenamente acessível aos sentidos do poeta.
Essa percepção é o traço que distingue o poeta de qualquer outro escritor. Narrar fatos, mesmo os fictícios, é tarefa simples se comparada àquela de sentir o que existem além do que os sentidos podem captar. E poesia é justamente isso: a descrição impossível de uma realidade inacessível; a exposição em versos de algo do mundo que não pode ser explanado de forma acadêmica, científica ou narrativa.
Todos discursamos ou escrevemos em algum momento sobre os sentimentos, mas só o poeta é capaz de captar e verter em versos a essência do sentimento em si mesmo, como experiência ao mesmo tempo subjetiva e universal.
A poesia é coerente em suas contradições, como já ouvi algum amigo afirmar, o que faz do poeta uma espécie única de ser humano: identificando os temas universais, nos lança sobre suas percepções pessoais destes temas e nos faz considerar nossas próprias ideias - o resultado é o reconhecimento do "eu" no "outro": o poeta é o instigador definitivo de uma fraternidade sentimental.
Eu não sou poeta. Minha visão do mundo já oscilou entre o romântico e o cético e a manifestação literária é mais digna de registros científicos e não das antologias poéticas. No que diz respeito à capacidade de ver além das aparências e penetrar no invisível presente no visível, minhas habilidades são equiparáveis a de qualquer outro ser humano médio.
E o que pode um ser humano médio contribuir no debate dos poetas? Isso não cabe ao mediano decidir, mas sim ao artista com a pena em punho, que é capaz de enxergar nas mais simples manifestações naturais e humanas a música que faz o mundo girar... E mesmo no mediano o poeta encontra a alheia e a sua própria poesia.
Ele foi encontrado, caído, com uma bala no peito. Minutos antes roubara uma doceria
não faço versos como amanhece
o amanhecer é límpido, nu
os versos que amanheço
são baços e turvos
nada acesos.
Nuvens cinzentas
Ipê amarelo
dores magentas.
Por mais que tentasse, o preto não conseguia dar sentido ao grito do Ipiranga.
tocar a palavra
sentir a palavra
beber a palavra
sacro oficio
oferecer-se a palavra
ser a palavra
viva
prazer
pra ser
poesia
alimento vivo de todo dia
Tonho França
bom estar em casa
mesa posta
livros na cabeceira.
Poema
Pó de poesias
irrigadas
pelo vento
Mar palavras
naufragando
por ondas
de um mar sem fim
Vindo de encontro
a mim
Assim como a onda
que bate nas pedras...
Incertas!!
Palavras de amor
jogadas ao vento
Momentos!!
Recolhido em águas
protejo o corpo: seca
dedicação aos afazeres
diários: da natureza
me afasto em ciclos
e levo o ramo
colhido
enquanto criança.
.........................Liame
.........................entre estradas
.........................não percorridas.
(Pedro Du Bois, Casa das Rosas, QUINTA POÉTICA, 26.11.2009)
E agora?
A poesia morreu,
o sonho acabou.
Quer ir para Pasárgada?
Pasárgada não há mais.
Manuel,
e agora?
Pó da terra
vida
limpo a casa
todos os dias
bato os tapetes
na entrada
o pó não se acumula
nem resguarda
minha memória
desencavada longe
desenterrada em sítios
profundos.
(Pedro Du Bois, COTIDIANOS)
Participação dos Poetas na 21 BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO/SP
Por Tonho França | 8/20/2010 09:55:00 PM em | comentários (2)
Por JURA | 8/20/2010 01:15:00 PM em | comentários (1)
Reportagem sobre os poetas e contistas do Vale do Paraíba, que expuseram e autografaram seus livros na Bienal pela Editora Multifoco, publicada no Jornal o Lince, no link abaixo
http://www.jornalolince.com.br/2010/ago/pages/grafias-autoresvale.php
Quero viver no outono
Com suas folhas
Caindo e caídas.
Quero viver no outono
Com luas e noites
Luzindo e infindas.
Quero viver no outono
Com ventos que varrem e açoitam
Infringindo o clima.
Quero viver no outono
Com suas folhas
Caindo carpidas.
no final do corredor
espaços vazios
outras portas
insinuo a mão
encontrando a forma
inexata da entrada
ouço a voz que me chama
ao final do mistério
o rosto impassível
impossibilita o retorno
outra porta é aberta.
(Pedro Du Bois, A CASA DAS GAIOLAS, II)
one must be
undoubtedly
a doubter
A ONDA LEVOU
Por W.G. | 8/11/2010 09:47:00 PM em Aparecida, poema em prosa, Wilson Gorj | comentários (0)
AMOR À MODA ANTIGA
Por W.G. | 8/11/2010 09:45:00 PM em Aparecida, poema em prosa, Wilson Gorj | comentários (0)
MEU AMIGO OMAR
Por W.G. | 8/11/2010 09:44:00 PM em Aparecida, poema em prosa, Wilson Gorj | comentários (0)
Alguma coisa
de valor
será encontrada
no lixo
algo que possa ser transformado
consumido
transacionado
ou jogado fora.
(Pedro Du Bois, O LIXO REVOLVIDO)
21º Bienal do livro de São Paulo
Por Fabiano Fernandes Garcez | 8/10/2010 06:54:00 PM em Clebber Bianchi, Eryck Magalhães, Fabiano Fernandes Garcez, Jurandir Rodrigues, Tonho França, Wilson Gorj | comentários (0)
poema
sinto a falena
como sujas calçadas
um jorro de água
e a poesia
limpa
sujeiras
cadeiras
palavras
Fazer das palavras cores
De suas matizes flores
Em sua lavra dores.
Como cães de outrora
procuro postes na beira das calçadas
para me apoiar e urinar
como corujas piando no escuro
desapareço nas sombras da cidade
com medo de ser policiado
como vendilhões que assaltam
na cobrança de taxas de proteção
pego o que posso com pressa e denodo
dos otários atravessados na minha frente
como meus pais pródigos em conselhos
todas as manhãs me olho no espelho
faço caretas e estudo poses
fortificado e satisfeito saio
e busco no trabalho - de óculos e relógio -
a simplicidade da sobrevivência.
(Pedro Du Bois, OS CÃES QUE LATEM)
Jantar preparado com amor mais fogo possível
Amigos, música...
Amor, ouvir Clube da esquina
Acordar cedo, mais cedo que possível
O sol de hoje acordou lindo, mais fogo, incrível.
A farinha pro meu pirão
O pirão pra minha família
Farinha do mesmo saco
De farinha pro meu pirão.
Por Cláudio Costa | 7/28/2010 11:40:00 AM em | comentários (0)
Espinho
Quando olho os meus dedos percebo... o que flui é você
Grita
esbraveja
na dor a perda
se concretiza
quando acredita
entende não haver retorno
sabe que sua vida avança
perde as cores
somem as lembranças
quando lembra
dói
a dor se repete
grita
esbraveja
exausto
vive.
(Pedro Du Bois, XII Conc. Intern.
de Lit., Livro Idiossincrasias, SP)
negro que não passou
em branco
No meu funeral não me mandem flores. Sou alérgico a elas.
Eu sou negro
negro luzidio,
Luzindo de amor
Por Paulo Moura e
Pixinguinha.
SÉRIE "ADOLESCENTES DE HOJE" E "SÔ EMO MEMO
Por Poeta Clebber Bianchi | 7/18/2010 01:48:00 PM em | comentários (2)
No Pelourinho pelava-se a pele.
Negro pelado,
sem cor.
Hoje no Pelourinho
só pelo lourinho.
(Eryck Magalhães, Ecos e outros versos, 15)
No meio da mata fechada
a índia nua e virgem...
O português cristão
nunca amou tanto o próximo
como a si mesmo.
(Eryck Magalhães, Ecos e outros versos, 36)
A dor de ser crioulo sarará?
(Eryck Magalhães, Ecos e outros versos, 30)
Não há a lembrança
das minhas palavras
dito por não dito
loucura do esquecimento
insignificância.
(Pedro Du Bois, A ILUSÃO DOS FATOS)
TENTAÇÃO
Por Rhosana Dalle | 7/11/2010 12:55:00 PM em Pindamonhangaba, Poesia, Rhosana Dalle | comentários (2)
TENTAÇÃO (3º Lugar FESTIPOEMA 2010)
Sou a sua tentação...
Sou quem não lhe segura,
Nem nada lhe assegura...
Sua liberdade pura,
Sua cura!
-Sou a sua ousadia, seu atrevimento...
Não sua agonia e sofrimento!
-Sou o seu descontrole, sua euforia, sua alegria...
Não o seu lamento!
-Sou sua desaforada inconseqüência...
Não sua dor de consciência!
-Sou seu ato impensado, seu impulso...
Não seu ato sensato e seguro!
Sou quem não lhe segura,
Nem nada lhe assegura...
Sua liberdade pura,
Sua cura!
Sou o motivo da sua gula,
Sua ânsia e afã,
Sua falta de pudor,
Eu não sou a sua dor...
Sou o seu passo no escuro,
Seu desperdício de tempo, seu vício...
Sua noite mal dormida,
Seu dia sonolento...
Seu incontrolável afeto, intento...
Seu desespero, seu destempero,
Seu calor do momento.
Seu fomento.
Sua fome, seu tormento...
Sou quem não lhe segura,
Nem nada lhe assegura...
Sua liberdade pura,
Sua cura!
Não fuja, não corra, não suma!
Não se iluda, nem pode!
Sou a sua tentação, e ...
Sem a sua permissão,
Quero meu direito a sua posse,
Na sua inteira impossibilidade
Em dizer-me
Não!
Pindamonhangaba, 09 Setembro 2009.................................... Rhosana Dalle.
APATIA EM CACOS
Por W.G. | 7/10/2010 12:03:00 PM em Aparecida, Poesia, Wilson Gorj | comentários (0)
CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMPO
Por W.G. | 7/09/2010 01:58:00 PM em Aparecida, Poesia, Wilson Gorj | comentários (2)
Da varanda
diviso o mar
de indivisadas águas
diversificadas em cores
e tonalidades
(passam crianças em escolares
camisetas amareladas)
da varanda
avisto águas em movimentadas
e sucessivas vagas
a praia recebendo
rendadas homenagens
(a criança em amarelada
camiseta não está
mais aqui).
(Pedro Du Bois, AMARES)
tudo que ouço, vislumbro
me retoma e me retira
daqui.
me carrega pra tudo,
tudo que ouço, vislumbro.
um menino, uma mão,
cajado que o guia,
caminho ralo, destino.
tudo que ouço, vislumbro
me retoma e me retira
daqui.
a saudade amarelada
verte das árvores, nuances de solidão
natural enfeite das tardes - folhas ao chão
Tonho França
Para Piva
Por Fabiano Fernandes Garcez | 7/04/2010 06:02:00 PM em Fabiano Fernandes Garcez, Poesia, Poesias, São Paulo | comentários (1)
Ah! Menino-demônio
Anjo-velhaco
Pegaste o elevador fantástico
para pousar na brilhante neve infernal
Esporra essa metralhadora giratória de impropérios
em minha boca torta
em meu ouvido invisível
em meus orifícios violados
em meus poros pudicos
para que junto de ti e ao sol roxo de vergonha
eu deixe distanciar minha inocência
em mais um tapete voador
A saudade vem lá do fundo
Vem calejada, vem dos silêncios.
Dos vãos da escada,
Pelas mãos do vento
nas louças guardadas,
nas preces esquecidas.
Nas chuvas do fim da tarde
Em letras de músicas perdidas
A saudade invade as alcovas,
Dorme no leito vazio,
A saudade é de um cinza frio,
Que a lua ainda que cheia e luzente,
Não espanta, não desmancha,
A saudade aos poucos, bem lentamente,
É dose de ausências, nos leva pra sempre.
Tonho França
Não sabia ao certo onde tecer sua teia.
Escolheu um cantinho de parede da cozinha.
Acertou na mosca.
*Microconto premiado pela ABL
http://www2.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=10369&sid=672
O gesto percebido
............... pelo corpo: externo
.....................................e interno
.....................................ser (seres)
................na completeza
............... com que a vida
............... se renova
............... sem dispensar o antigo
............... hospedeiro
............... sem deixar de considerar
............... a novidade: hóspede
o gesto eterniza o instante
em que os dois organismos
.........................se libertam.
(Pedro Du Bois, JÚLIA)
ENTRE UMA PIZZA E UMAS LATINHAS DE CERVEJA
Por Unknown | 6/27/2010 07:03:00 PM em Adams Alpes, Caçapava, Crônicas | comentários (0)
Acho mesmo que a vida é recheada de pequenos atos. A mim, cabe escolher a cobertura. Você deve se perguntar agora o porquê de começar essa crônica falando de comida. Pois é, escrever e viver estão ligados ao preparo de um prato, a uma receita. Escrever e viver são receitas, mas, em alguns momentos, as pessoas esquecem ou não aceitam receitas de terceiros e resolvem improvisar suas próprias receitas, chegando a matar, cair em desespero, chorar por coisas que aparecem mascaradas de coisas ruins e que nos enganam com fisionomias toscas e grandiosas, mas que não passam de pequenas coisas, somente pequenas coisas, transitoriedades. Para piorar, algumas dessas pessoas chegam até a achar que pode ser o fim do mundo, que o túnel da boa esperança está sendo fechado por uma enorme pedra que sufoca tudo, deixando tudo negro, tudo apertado, tudo irrevogável.
Eu resolvo todos os meus pequenos atos com outro pequeno ato, tão simples quanto falar um oi em um dia ensolarado ou dizer bom dia para as pessoas que cruzo no caminho ao trabalho. Resolvo uma pequena coisa como, por exemplo, uma conta bancária no vermelho, tomando uma latinha de cerveja. Noutro dia fui ao supermercado e, ao sair, deixei a pizza cair com o recheio para baixo, sendo sugada pelo chão. Na mesma hora, a minha irmã me disse que os recheios são atraídos para o asfalto, pra o chão, para baixo. Fiquei puto da vida, mas também resolvi o problema de forma simples: tomei outra latinha de cerveja. Não deixei uma simples pizza me levar com ela ao chão, me levar para baixo. Isso também tenta acontecer quando meu time perde, mas lá vou eu até a geladeira, pego uma latinha de cerveja e resolvo tudo com alguns pequenos goles desapressados. Até mesmo uma dor de estômago, que me pegou outro dia, deixo boiando no meio de uma latinha de cerveja. E quando menos percebo, lá estão todos os problemas sendo levados pela água, malta e cevada. É, e neste caso, literalmente levados pela água.
Assim, vou pra cama. Durmo e acordo pronto para mais uma maratona de azar, de pequenas coisas me atormentando no ouvido, querendo me assustar e vestindo uma máscara maior do que podem suportar, mas, por uma fração de segundo, lembro que a vida é recheada de pequenas coisas e que não farei dos minutos de sono uma pequena parcela do meu dia, já que, no final, posso escolher a cobertura.